Como a agricultura regenerativa pode ajudar a moda

Um estudo da Textile Exchange, patrocinado pelo grupo Kering, pela J. Crew, pela Madewell e pela CottonConnect, mostra como as práticas de agricultura regenerativa podem desenvolver sistemas mais resilientes, garantir benefícios ambientais e sociais e ainda manter a saúde a longo prazo das indústrias têxtil, vestuário e calçado.

[©Unsplash/Zoe Schaeffer]

Denominado Regenerative Agriculture Landscape Analysis, o estudo tem como objetivo fornecer uma maior compreensão das ferramentas, programas, iniciativas e diretrizes no âmbito da agricultura regenerativa.

Embora não exista uma definição unânime do conceito, a Textile Exchange assume que agricultura regenerativa é «uma visão da agricultura que funciona em alinhamento com sistemas naturais, reconhecendo o valor e a resiliência de ecossistemas interligados e mutuamente benéficos em comparação com os sistemas de agricultura extrativa», «um reconhecimento de que os povos nativos e indígenas têm aplicado esta abordagem à alimentação e às fibras há séculos – não é um conceito novo – e que a agricultura regenerativa tem de incluir um foco na justiça social» e «uma abordagem em sistemas holísticos, baseados localmente e focados nos resultados, não uma lista de práticas “o mesmo serve para todos”».

Como salienta no sumário executivo do estudo, «queremos destacar o quão importante é para as marcas definir claramente o seu próprio uso do termo e assegurar que a justiça social, igualdade e subsistência estão embebidos de forma significativa em qualquer projeto denominado regenerativo».

«A agricultura regenerativa pode fornecer múltiplos benefícios para a natureza e para as comunidades e é muito necessária para ajudar a reverter a tendência do clima e da perda de biodiversidade. No Kering, estamos a trabalhar com parceiros e agricultores no terreno para escalar projetos através do Regenerative Fund for Nature em parceria com a Conservation International. Não é tempo para esperar por outros para assumir a liderança – temos todos de investir no apoio a práticas regenerativas com urgência. Este estudo dá às marcas um roadmap prático profundamente estudado para começarem», afirma Géraldine Vallejo, diretora do programa de sustentabilidade do Kering.

«Na J. Crew e na Madewell identificamos a agricultura regenerativa como um passo crítico para o futuro da jornada para reduzir o nosso impacto», acrescenta Liz Hershfield, vice-presidente sénior e diretora de sustentabilidade no J. Crew Group e vice-presidente sénior de sourcing na Madewell.

Principais conclusões

Entre as principais conclusões do estudo, que tem capítulos dedicados à ciência por detrás da agricultura regenerativa e sequestro de carbono no solo, ao papel da agricultura regenerativa na cadeia de aprovisionamento, assim como casos de estudo, está a certeza que «a transição para a agricultura regenerativa é fundamental para a indústria têxtil e da moda. A saúde a longo prazo do sector dependerá de como ele é capaz de trabalhar com os agricultores para desenvolver sistemas mais resilientes, sendo que as práticas regenerativas também oferecem imensos benefícios sociais e ambientais», aponta a Textile Exchange.

[©Unsplash/Markus Spiske]
A organização sem fins lucrativos salienta igualmente que a agricultura regenerativa é mais do que simplesmente aumentar os níveis de carbono do solo. «Embora a evolução da ciência do solo esteja a pôr em causa exatamente como funciona o sequestro de carbono no solo a longo prazo, os sistemas regenerativos holísticos têm outros benefícios interdependentes documentados, relacionados com a biodiversidade, a disponibilidade e qualidade da água, a resiliência climática e os meios de subsistência», sublinha.

A Textile Exchange refere ainda que é necessário sair da caixa para acelerar a transição. «Para avançar no campo da agricultura regenerativa no geral, as empresas de vestuário, têxteis e calçado devem também aumentar a partilha de informações com o sector alimentar e de bebidas, garantindo que as marcas de vestuário influenciam os mais recentes desenvolvimentos de políticas, modelos de financiamento e iniciativas de investigação», conclui.