O ano que agora termina acelerou algumas das tendências que estavam já em curso em termos de consumo. Cada geração sentiu o impacto do Covid-19 de forma diferente, desde os Boomers, que desenvolveram uma maior confiança no digital, aos mais jovens, que reajustaram as suas prioridades e voltaram ao básico.
«Ao passarem mais tempo em casa, as pessoas estão a realizar as suas atividades diárias online e a expandir o papel de identidades online. O entretenimento digital e os jogos estão a crescer», revela o estudo Consumer Insight: Year in Review 2020 do WGSN. «Em contrapartida, alguns consumidores estão a tentar cada vez mais reconectar-se com a natureza e a redescobrir o exterior. Esta mudança está a evoluir a relação das pessoas com o ambiente, inspirando um novo foco numa recuperação ecológica pós-pandemia», acrescenta.
Estes são, segundo o WGSN, alguns dos temas mais relevantes para compreender os consumidores nos últimos meses e nos próximos tempos.
Incerteza nos Alphas
Ainda é pouco claro qual será o impacto desta crise na geração mais nova, batizada Alpha, depois da pandemia ter levado ao encerramento das escolas e colocado os pais a trabalhar a partir de casa, ao mesmo tempo que levou a um maior foco na família.
Diversidade e inclusão
Impulsionados pela desigualdade sistémica e sub-representação de minorias, os consumidores estão a procurar cada vez mais empresas que abordam a questão da discriminação e criam soluções inclusivas para todos.
Afastar-se de mentalidades centradas no mundo ocidental e incorporar perspetivas e conhecimentos diferentes vão ajudar as empresas a alinharem-se com a mudança de valores nos próximos anos. «Entre a crise mundial de saúde e a emergência climática, há uma oportunidade para as empresas adotar a sabedoria indígena que coloca a comunidade e o ambiente no seu centro», refere o WGSN.
Além disso, os negócios devem inovar os seus produtos e serviços para pessoas com deficiência – desde a inclusão digital no local de trabalho à melhoria da acessibilidade no comércio eletrónico e nas plataformas de redes sociais, as empresas que reimaginarem a acessibilidade como um ativo e fecharem a falha digital vão liderar a transformação digital pós-pandémica.
Ativismo
Numa época de agitação social e política, uma nova geração de ativistas com capacidades digitais está a criar formas criativas de lutar por uma representação equitativa e empoderar as suas comunidades.
Os protestos que se seguiram à morte de George Floyd e no âmbito das eleições presidenciais nos EUA geraram um aumento do ativismo. Há, por isso, uma oportunidade de mudança onde as empresas podem ajudar os consumidores a redescobrir a esperança e a sociedade a coletivamente reimaginar a forma como as coisas são feitas.
Atitudes de distanciamento
Os consumidores e as marcas passaram por uma mudança profunda nas atitudes para o distanciamento, com as tentativas de parar a disseminação do coronavírus a resultar num afastamento das pessoas e a encorajar muita gente a sair e a descobrir novamente o exterior e a natureza.
Atividades como o campismo, montanhismo, ciclismo e pesca registaram um forte aumento do interesse.
As cidades também deverão mudar à medida que as pessoas reavaliam a sua relação com o trabalho e com a vida e têm diferentes expectativas face à saúde, riqueza e comunidade, o que está a originar inovações no âmbito das cidades inteligentes.
Identidades online
Com tanto tempo a ser passado em casa nos últimos meses, cada vez mais a atividade dos consumidores é realizada online, levando a repensar a relação que temos com as nossas identidades online.
As pessoas procuraram formas mais produtivas de gastar o seu tempo durante o confinamento e face à recessão iminente, houve um aumento de interesse na educação à distância.
Em 2100, contudo, o Oxford Institute estima que vá existir mais contas de Facebook de pessoas que já faleceram do que de pessoas vivas.
Novos rituais
Com a interrupção da normalidade no quotidiano provocada pelo Covid-19, as pessoas estão em busca de novos rituais e passatempos que as possam ajudar a manter-se equilibradas, tanto mental como fisicamente.
Criar hábitos holísticos tornou-se um foco este ano, com uma crescente procura por rotinas de autocuidado que possam ser efetuadas em casa. Os consumidores estão igualmente a cozinhar mais do que nunca, assumindo a confeção de refeições como uma atividade para abrandar e passar tempo de qualidade com a família. As marcas devem, por isso, oferecer atividades caseiras que atraiam os consumidores.
A economia da bricolagem está também a ganhar dinamismo.
Entretenimento
Com as performances e os eventos ao vivo a serem cancelados e os bares e restaurantes fechados durante longos períodos, o entretenimento em casa aumentou e a cultura tornou-se virtual.
Os serviços de streaming assumiram uma maior relevância, como o Nextflix Party, que permitiu que amigos e famílias, embora afastados fisicamente, vissem os mesmos programas ao mesmo tempo, ou as conferências do Zoom e de outras plataformas, que se tornaram comuns.
As plataformas de jogos também se tornaram mainstream e o tráfego neste tipo de plataforma cresceu 75% nos EUA no início da pandemia. Atualmente, o número de jogadores em todo o mundo está estimado em 2,7 mil milhões, mais de 46% dos quais são mulheres.
A interseção entre a moda e os jogos continuou a alastrar-se, e as skins – como são conhecidos os coordenados de moda para vestir os avatares nos jogos – floresceram enquanto mercado.
Sustentabilidade
Com as pessoas a procurarem reconectar-se com a natureza durante a pandemia, as empresas são obrigadas a compreender a nova hierarquia das necessidades humanas e apoiar uma relação mais sustentável e holística com o meio ambiente.
Um número crescente de pessoas está a juntar-se a movimentos de jardinagem para ver alterações tangíveis no seu próprio quintal ou a optar por ecoturismo e por retiros para se reconectarem com a natureza.
As empresas devem integrar os valores da sustentabilidade nos seus modelos de negócio, assim como educar os consumidores sobre ecologia, resume o WGSN.