Com 5,8 milhões de habitantes e um PIB per capita superior a 60 mil dólares, que, segundo Helga David, project manager da AICEP em Copenhaga, «é três vezes superior ao de Portugal», a Dinamarca pode ser um mercado de oportunidades para as empresas portuguesas de vestuário, uma ideia confirmada por todos os participantes no webinar Zoom in! Dinamarca, promovido pelo CENIT – Centro de Inteligência Têxtil e pela ANIVEC – Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção na tarde de ontem, 20 de maio.
Em 2021, espera-se que as receitas da moda na Dinamarca representem 3,8 mil milhões de euros, sendo que o vestuário de senhora deverá representar mais de metade das vendas (53,1%) e o vestuário de homem um terço.
Foco na transparência e sustentabilidade
O consumidor dinamarquês, além do elevado poder de compra, é informado, exigente, crítico e interessa-se por artigos de qualidade, sendo que o preço é outro dos critérios, assim como a sustentabilidade, a ética e a transparência, enumerou Helga David.
Uma ideia confirmada por Christina Neustrup, diretora da feira CIFF e CIFF Kids. «A sustentabilidade tornou-se um imperativo», referiu durante a sua intervenção. A próxima edição da feira, que junta moda para adulto e criança sob o mesmo teto, e que tem inscrições abertas, está agendada para 11 a 13 de agosto e tem como pilares «a comunidade, a sustentabilidade e a digitalização», apontou.

Esta edição, que terá como complemento uma plataforma digital, irá ainda estrear o conceito CIFF Sustain, que pretende impulsionar a agenda da sustentabilidade na indústria da moda. «Achamos que é nossa obrigação ajudar as marcas a fazer esta transição para serem mais sustentáveis», afirmou Christina Neustrup.
Além de conselhos como uma grande preparação para quem deseja participar na feira, nomeadamente com contactos prévios com retalhistas e compradores, até porque, salientou «não chega vir à feira, não chega fazer roupa bonita» para vingar no mercado, a diretora da CIFF e CIFF Kids colocou uma ênfase especial na transparência. «É muito importante comunicar o que se faz e como se faz. É também muito importante estabelecer objetivos e não faz mal comunicar se não se atingiu um determinado objetivo no tempo planeado», indicou. «Tem muito a ver com estar no caminho certo, comunicar isso e ser consciente das escolhas que se fazem», resumiu.

O foco na sustentabilidade é uma oportunidade para a indústria portuguesa de vestuário, acredita Carlos Moura, diretor da AICEP para os países nórdicos, a que se soma a proximidade geográfica e a produção de qualidade praticada em Portugal. Contudo, há desafios que precisam de ser ultrapassados, nomeadamente a fraca participação das empresas portuguesas em feiras e eventos profissionais nos mercados nórdicos e a falta de presença e da imagem das marcas portuguesas nestes países. «Todas as grandes marcas [dinamarquesas e que vendem na Dinamarca] produzem em Portugal, mas o consumidor final não associa» esses produtos que compra ao nosso país, explicou.
Ganhar no digital
Uma outra oportunidade prende-se com o desenvolvimento das vendas online no país, sendo que a Dinamarca é, em termos mundiais, o quinto mercado com mais utilização de comércio eletrónico e as vendas digitais têm vindo a aumentar. Sendo «os dinamarqueses um povo muito prático», como sublinhou Carlos Moura, também aqui dão preferência a essa praticidade, optando por lojas online com um bom design, facilidade de navegação e muito transparentes em relação aos produtos e aos serviços envolvidos, onde se inclui as condições de entrega e devolução.

Neste campo digital há, de resto, algumas tendências que são globais, como revelou Maria Ribeiro, senior account manager na consultora digital SA 365, incluindo culturais como a circularidade ecológica e a proteção, no retalho, onde a digitalização e a fusão entre os universos físico e virtual é cada vez mais evidente, e na experiência de compra, onde o chamado “live commerce”, inserido na comunicação de influenciadores, está a ganhar mais força.
«Estamos a tornar-nos consumidores mais conscientes, mais exigentes, exigentes de uma humanização maior, exigentes de uma experiência seamless e não queremos mais olhar para barreiras entre o físico e o digital. Vai tudo começar a ser um território só», garantiu Maria Ribeiro.
Conquistar pelos nichos
Entre as tendências citadas pela senior account manager da SA365 está ainda a maior apetência dos chamados boomers, pessoas entre os 50 e os 64 anos, pelas compras online – segundo um estudo do NPD Group, estas pessoas gastaram mais 49% online em 2020 em comparação com 2019 – e esse grupo pode ser uma oportunidade a ter em conta no mercado dinamarquês. «Com a pandemia, as senhoras [com mais de 50 anos] começaram a comprar mais online. É um mercado que ainda não está coberto», revelou Helga David.

Aliás, é nos nichos que poderá estar o segredo para conquistar os consumidores dinamarqueses de moda, que, acompanhando o gosto nórdico, preferem cores sóbrias, designs minimalistas e pouco ostensivos, como descreveu Carlos Moura. «Na moda, o que se tem vindo a constatar, é a tentativa de cada um ter o seu estilo», indicou, aconselhando, por isso, as empresas a «fazer target a nichos em vez da produção massificada».
Atualmente, a Dinamarca é o nono mercado de exportação da indústria portuguesa de vestuário, tendo mesmo registado um aumento de 8% das compras em 2020 em comparação com 2019, e a Garland tem sentido uma maior procura. A empresa transitária, que tem opções de transporte para a Dinamarca por terra, ar e mar, fez no ano passado uma parceria com a Evolog para dinamizar o transporte rodoviário e a opção tem sido procurada pelas empresas nacionais. «Assistimos a um início bastante lento [por causa da pandemia], mas estamos com saídas regulares, com camiões completos», admitiu Luís Ribeiro, diretor comercial nacional da Garland Transport Solutions. «As perspetivas têm sido positivas», reconheceu. Prova disso é que esta semana, por exemplo, em vez de uma saída (às sextas-feiras), a Garland está a realizar duas.

Relevante é ainda a oferta de transporte aéreo, sobretudo tendo em conta que, como reforçou Carlos Moura, «os nórdicos são completamente obcecados por prazos e horários». Com isso em mente, a Garland oferece soluções sete dias por semana, «para todo o tipo de carga, incluindo pendurados», concluiu Luís Ribeiro.