Comércio da ITV entre a Ásia e a UE

Apesar do declínio da quota de mercado da China nas exportações de vestuário, nenhum país emergiu como o próximo grande destino de sourcing, embora vários mercados asiáticos estejam a crescer. O Império do Meio está ainda a afirmar-se nas exportações de têxteis, onde é seguido à distância pela UE.

H74FHR Textile workers, China

O comércio mundial de têxteis e vestuário registou, no ano passado, o crescimento mais acelerado desde 2012. Sheng Lu, professor associado no Departamento de Estudos do Vestuário e Moda da Universidade do Delaware, nos EUA, analisa, para o just-style.com, os principais movimentos no mercado.

De acordo com as mais recentes estatísticas do comércio mundial publicadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), o valor das exportações globais de têxteis e vestuário atingiram, respetivamente, 315 mil milhões de dólares e 505 mil milhões de dólares (equivalente a 283,6 mil milhões de euros e 454,7 mil milhões de euros) em 2018 – um aumento de 6,4% e de 11,1% face ao ano anterior. Este foi, garante o professor, «o crescimento mais rápido visto nos últimos seis anos».

As exportações mundiais também subiram 10% em 2018, para 19,67 biliões de dólares, impulsionadas pelos preços mais elevados da energia. Contudo, o volume do comércio mundial cresceu apenas 3%, ligeiramente acima do aumento de 2,9% no PIB mundial no mesmo período. «Isto significa que o rácio do comércio para o crescimento do PIB voltou a cair para apenas 1,0 em 2018, em comparação com a média histórica de 1,5», aponta Sheng Lu.

Dentro destes valores, os têxteis e vestuário representaram cerca de 4,2% das exportações mundiais em 2018, uma queda face aos 5% de 2016.

UE no segundo lugar

A China, a União Europeia (UE) e a Índia mantiveram-se como os três maiores exportadores de têxteis em 2018. Juntos, representaram 66,9% das exportações mundiais de têxteis em 2018, o que é um novo valor recorde desde 2011. A China, com um valor exportado de 118,5 mil milhões de dólares, e a UE, com 74 mil milhões de dólares, tiveram ainda um crescimento das exportações acima da média mundial, com um aumento de 7,9% e 6,9%, respetivamente.

Os EUA ocuparam a quarta posição, com uma quota de mercado de 4,4% (equivalente a 13,8 mil milhões de dólares), ligeiramente inferior aos 4,6% que detinham em 2017.

O professor da Universidade do Delaware destaca que «pela primeira vez na história, o Vietname surge como oitavo maior exportador de têxteis, subindo 12,5% face ao ano anterior, para atingir 8,3 mil milhões de dólares», e adianta que, «se conseguir manter este dinamismo, o Vietname deverá ultrapassar Taiwan e a Coreia do Sul e tornar-se o sétimo ou mesmo o sexto maior exportador têxtil em 2019 ou 2020».

No que diz respeito às exportações de vestuário, as primeiras duas posições do ranking dos maiores exportadores continuam entregues à China e à União Europeia. Segue-se o Bangladesh e o Vietname. Estes quatro exportadores detêm, em conjunto, uma quota mundial de 72,3%. Contudo, esta quota é mais baixa do que a de 2017 (75,8%) e a de 2016 (74,3%), devido, principalmente, ao declínio da quota de mercado da China, cujo crescimento foi negativo (-0,4%, para 157 mil milhões de dólares) na comparação entre 2018 e 2017.

Embora as exportações de vestuário do Vietname (+13,4%) e do Bangladesh (+11,1%) tenham crescido rapidamente em termos absolutos, os seus ganhos em termos de quota de mercado foram marginais – mais 0,3%, de 5,9% para 6,2%, para o Vietname, e mais 0,1%, de 6,4% para 6,5%, para o Bangladesh.

«Isto mais uma vez sugere que, devido a limites de capacidade, nenhum país emergiu para se tornar “a próxima China”. Em vez disso, a perda de quota de mercado da China nas exportações de vestuário foi compensada por um grupo de países, um fenómeno que pode estar ligado às estratégias de diversificação de sourcing das marcas e retalhistas de moda», observa Sheng Lu.

China reforça nos têxteis

Na China, especificamente, o professor indica que está a continuar a tendência sentida nos últimos anos de exportar menos vestuário e mais têxteis para o mundo. A quota de mercado da China nas exportações mundiais de vestuário baixou de 38,8%, o valor mais alto, registado em 2014, para o valor mais baixo nos registos de 31,1% em 2018.

A escalada da guerra comercial entre os EUA e a China também acelerou a mudança no sourcing das empresas americanas, como sugere o estudo sobre a indústria da moda publicado recentemente pela US Fashion Industry Association, «mas esta tendência começou há vários anos», sublinha Sheng Lu.

Em 2018, a China representou 37,6% das exportações mundiais de têxteis, o que representou um novo valor recorde. «É importante reconhecer que a China está a ter um papel cada vez mais importante como fornecedor têxtil para muitos países exportadores de vestuário na Ásia», refere o professor, acrescentando que, em valor, 53,8% e 60,6%, respetivamente, das importações têxteis dos países da Ásia Oriental e do Sudeste Asiático tiveram como origem a China no ano passado, em comparação com apenas 33,4% e 33,7% em 2005.

O mesmo acontece ao nível dos países neste mesmo período: o Camboja aumentou de 30% para 65%; o Vietname de 26% para 52%; o Paquistão de 32% para 71%: a Malásia de 27% para 54%; a Indonésia de 32% para 49%; as Filipinas de 20% para 46%; e o Sri Lanka de 15% para 39%.

Estas quotas podem ainda aumentar em breve, uma vez que os 10 Estados-membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e 10 outros países, incluindo a China, o Japão, a Índia, a Coreia do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia, estão na fase final de negociações de um acordo de comércio livre, batizado Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP).

Os dados mostram que cerca de 51% dos têxteis importados pelos membros envolvidos no RCEP eram já fornecidos pela China em 2018. Quando o acordo entrar em vigor, o que se espera que aconteça para o ano ou daqui a dois anos, a China poderá ter um papel ainda mais relevante como principal fornecedor de têxteis da região, acredita Sheng Lu.

Velho Continente lidera importações

Em valor, a UE foi a principal importadora de têxteis em 2018, seguida pelos EUA e pela China em 2018, representando, em conjunto, 37,5% das exportações mundiais. Embora esta quota de mercado esteja próxima da do ano anterior (37,7%), é significativamente mais baixa do que a quota superior a 50% registada nos anos 2000.

«A cada vez maior diversificação das importações têxteis está associada com a mudança nos padrões da produção e exportação mundial de vestuário», afirma o professor da Universidade do Delaware, notando que, na última década, a produção de vestuário passou dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.

A maior parte dos países em desenvolvimento dependem de têxteis importados devido à falta de capacidade instalada localmente, o que explica o forte aumento das importações de países como o Bangladesh (+17%), do Vietname (+9,8%) e da Indonésia (+21%).

No que concerne o vestuário, a UE também lidera o ranking dos principais importadores, seguida dos EUA e do Japão, posições justificadas pelo «poder de compra dos seus consumidores (medido em PIB per capita) e tamanho da população», aponta Sheng Lu. Juntos, estes três mercados de importação representaram uma quota de 61,5% no ano passado, o que, apesar de tudo, é mais baixo do que em 2017 (62,3%) e significativamente inferior à quota de 2005, que estava nos 84%.

«Por detrás deste resultado, não é que a UE, os EUA e o Japão estejam a importar menos vestuário. Em vez disso, várias economias emergentes estão a tornar-se mercados de consumo de vestuário em rápido crescimento e a começar a importar mais», explica o professor. «À medida que o poder de compra dos consumidores nestas economias emergentes continua a melhorar, podemos esperar um mercado mundial de importações de vestuário mais diversificado nos próximos anos», conclui Sheng Lu.