Comércio britânico não confia na tradição

A concorrência do comércio britânico aumentou durante os últimos anos e tornou-se cada vez mais complicado acompanhar as rápidas mudanças no mercado de moda. Os hipermercados e os discounters conquistaram uma grande parte do mercado britânico e a concorrência internacional penetrou fortemente no sector de produtos de alta qualidade com novas estratégias de venda. Ao mesmo tempo, a confiança dos clientes no mercado diminuiu e, por esta razão, o comércio a retalho britânico conta com um crescimento económico de apenas 2 a 4% no ano 2001. Esta complicada situação foi um dos temas da primeira conferência organizada pela revista inglesa Drapers Records, em Londres. A revista especializada na área de têxteis convidou os especialistas do ramo a discutir as estratégias a adoptar para que o comércio a retalho consiga ultrapassar esta dramática situação. Há cinco anos, quem podia imaginar que a C&A ia sair do mercado britânico, que a rede de supermercados Asda conseguiria chegar ao primeiro lugar na área de roupa para crianças com a sua marca George e que a Matalan se poderia tornar a segunda maior empresa no comércio a retalho britânico, atrás da Marks & Spencer? Mesmo assim, Stephen Bullos, director geral da Bonmarché, vê boas oportunidades para o crescimento da sua rede de filiais. A Bonmarché especializou-se em roupa para mulheres com mais de 45 anos e conseguiu dobrar o seu volume de vendas durante os últimos cinco anos. Neste momento a empresa tem 240 filiais na Grã-Bretanha. «Hoje os clientes são diferentes dos de há cinco anos. Com a campanha ‘Rip-Off-Britain’, a imprensa britânica ajudou os consumidores nacionais a compreender melhor os preços. Agora, todos querem mais por menos dinheiro», diz Stephen Bullos. Isso implica que as empresas tenham de oferecer mais produtos, um serviço melhor e mais “divertimento” durante as compras. Roger Holmes, director da UK Retail da Marks & Spencer, vê o sector numa situação crítica e falou de uma polarização em três sectores, o das marcas top; o da moda barata mas com uma duração curta e o dos produtos básicos. Os últimos são banalizados por causa do falso pressuposto de que os clientes vêem estes artigos como sendo simples e que só podem ser vendidos através de preços baixos. Por causa deste desenvolvimento, as empresas novas no comércio a retalho encontram um vazio no mercado de preços médios que foi causado pelas empresas próprias deste segmento. «Nós perdemos a oportunidade de dar mais valor e mais brilho à nossa mercadoria e distingui-la através do design e de outras ofertas no mercado. Agora não podemos oferecer produtos através dos quais os clientes se possam sentir individualistas», diz Roger Holmes. Na sua opinião, o comércio a retalho tem de tomar decisões importantes, porque através do “out-sourcing”, não é possível ganhar vantagens em relação aos preços. Há três anos, 75% da roupa vendida pela Marks & Spencer era “Made in Britain”, hoje são apenas 25%. Há dez anos, a percentagem dos salários numa camisa era de 25% do preço líquido de venda, hoje são só 13%. Roger Holmes mostrou-se convencido de que a única solução para este problema a longo prazo é a oferta de produtos de uma qualidade melhor e com valor acrescentado. Assim os clientes estão dispostos a gastar mais dinheiro. Terry Green, director geral da Bhs, tentou convencer os participantes do congresso das várias possibilidades do segmento de preços médios. Depois da retirada da C&A do mercado britânico, as oportunidades são melhores do que nunca. Tony Shiret, analista na Credit Suisse First Boston, avalia a situação de forma diferente. Na sua opinião, a crise da Marks & Spencer aumentou a instabilidade estrutural do ramo. Por causa da confiança reduzida dos clientes, o ramo prevê baixas taxas de crescimento no ano 2001 e 2002 (entre 2 e 4%). No início deste ano, o ramo ainda contou com um crescimento de cerca de 6%. Para Tony Shiret é provável que as empresas internacionais de comércio a retalho enfrentem negócios complicados no mercado britânico. Esta opinião não esmorece Heinz Krogner, director geral da Esprit. Vê um potencial enorme na Grã-Bretanha e, por esta razão, esta marca inaugurou uma loja prestigiada em Londres, lançando-se assim numa nova tentativa de se estabelecer neste mercado. Numa conversa sobre o futuro de empresas internacionais de comércio a retalho na Grã-Bretanha, o Krogner afirmou que na sua opinião, só quatro ou cinco empresas irão sobreviver no segmento de young-fashion. «Queremos ser uma destas e, por isso, temos de estar presentes neste mercado.» Segundo Heinz Krogner, a Esprit está presente na Grã-Bretanha porque assume ser possível ganhar dinheiro neste mercado. É verdade que Londres é o sítio mais caro neste país, mas, ao mesmo tempo, a frequência é também muito elevada. Para Krogner existe a possibilidade da Grã-Bretanha, com os seus 60 milhões de habitantes, se tornar o segundo mais importante mercado da Esprit, depois da Alemanha.