Choque tecnológico na saúde

Depois das meias de compressão e da manga para tratamento de linfedemas, o novo projeto da empresa portuguesa Barcelcom, batizado Electrosocks, atualmente em testes clínicos, recorre à eletroestimulação para recuperar mais rapidamente lesões musculares.

O projeto Electrosocks surgiu «de algumas informações que obtivemos na University College of London, na área da recuperação de lesões durante as Olimpíadas de Londres, em que eles usavam muito a eletroestimulação para a recuperação muscular», revela o administrador Gaspar Sousa Coutinho ao Jornal Têxtil, num artigo publicado na edição de janeiro.

Em parceria com a Plataforma Fibrenamics da Universidade do Minho, a Barcelcom desenvolveu então um tubo de compressão ao nível do tornozelo com fibras condutoras de eletricidade. «Tricotando esses fios nessas zonas e depois ligando-as a um dispositivo exterior que faça o controlo da colocação da eletricidade no processo, com uma bateria pequena, sem risco nenhum, conseguimos grandes recuperações a nível de lesões, sobretudo musculares», explica o administrador, que dá conta que, os primeiros testes, apontam para uma redução do tempo de recuperação «para quase um décimo do que seria normal». Terminado em 2015, o protótipo está agora na fase de ensaios clínicos, em parceria com o fisioterapeuta Nélson Azevedo.

Em cerca de 15 anos, a Barcelcom transformou-se de produtora de peúgas convencionais para uma empresa empenhada na investigação e desenvolvimento de novos produtos, sobretudo na área da saúde – que representa agora 60% das vendas de artigos produzidos dentro de portas.

«A grande questão é que as nossas competências internas são “boas de mais” para fazermos meias tradicionais. Conseguimos as meias tradicionais em parcerias com outros fabricantes locais, de forma muito fiável e com o nível de qualidade que exigimos», explica Gaspar Sousa Coutinho, que avança com a possibilidade de transferir tecnologia para outros parceiros. «A maior parte das tecnologias estão patenteadas. Provavelmente, num prazo relativamente curto, vamos começar a ceder tecnologia para aumentarmos a nossa capacidade», acrescenta.

Em 2015 a Barcelcom, que emprega cerca de 50 pessoas, registou um crescimento das vendas de quase 20%, para 1,8 milhões de euros. «Foi um ano difícil porque os resultados no mercado de saúde são demorados. Mas estou convencido que o grande ano vai ser, de facto, 2016», revela ao Jornal Têxtil o administrador, que acredita que nos próximos 12 meses a empresa vai «ultrapassar os 2 milhões de euros sem grandes problemas».