Ombros à mostra, vestidos sem costas e modelos brilhantes mostraram um lado diferente do país afectado pelos ataques dos talibãs, com a Semana de Moda de Karachi a dar a sua contribuição para um Paquistão mais glamouroso. Apesar da maior parte das mulheres do muçulmano e conservador Paquistão optarem por lenços na cabeça por cima de tradicionais calças estilo baggy, apelidadas shalwar khamis, ou mesmo burkas, nas passerelles da capital financeira Karachi, os designers apostaram em barrigas à mostra e decotes generosos. A Semana de Moda decorreu de 4 a 7 de Novembro, três semanas mais tarde que o previsto devido a questões de segurança e como demonstração de respeito pelos mais de 300 mortos de uma série de ataques atribuídos aos militantes islamitas no mês passado. Os fashionistas em Karachi, contudo, deixaram de lado os receios com a segurança na cidade, localizada no sudeste do país e com cerca de 14 milhões de pessoas, conhecida pelos seus grandes centros comerciais e uma crescente cultura do café e a duas horas de voo de centros militantes no nordeste. «Nós, membros da Moda do Paquistão, sentimo-nos muito bem por sermos os anfitriões deste evento colorido numa altura em que estamos a passar por um período difícil da nossa história, em que toda a nação está a travar uma batalha contra o fanatismo», afirmou Ayesha Tammy Haq, responsável pela organização do evento. Os oito designers locais que abriram o evento experimentaram novas versões e misturas com os tradicionais vestidos paquistaneses e os estilos ocidentais. Tecidos intricados e coloridos encheram a passerelle, enquanto um chapéu em penas pretas, vestidos sem ombros e vestidos de gala sem costas adornaram as modelos, que desfilaram em saltos altos perante uma audiência maravilhada. «A minha filosofia de design é tão diversa quanto a minha colecção, que mostra uma mistura de inspirações orientais e ocidentais», revelou o jovem designer Fahad Hussain, conhecido por acessórios arrojados e silhuetas arrasadoras. «As minhas roupas são tradicionais e modernas e, ao mesmo tempo, centradas em cortes simples. Há algo para toda a gente». Tal como outros designers em todo o mundo, Samar Mehdi – que tem um curso em design de moda e acessórios da Bristol University, da Grã-Bretanha – afirmou estar a tentar produzir criações usáveis e agradáveis para a mulher moderna. «A minha filosofia de design é criar para uma cliente que quer celebrar a sua condição de mulher e a sua feminilidade, projectando, todavia, a sua independência e atitude», explicou. «A minha musa é a mulher moderna que se conhece e sabe o que quer. é ambiciosa e tem objectivos, mas não tem medo de mostrar o seu lado mais sensível por temer contradizer essa imagem. Na verdade, abraça isso», prosseguiu. O vestuário das mulheres paquistanesas varia de acordo com o código de vestuário islâmico, com muitas a cobrirem o cabelo com um lenço, embora em Karachi seja mais fácil ver jeans e t-shirts nas ruas do que a ultra-conservadora burka. Nadia Hussain, uma das top models do país, afirmou não se opor a alguma censura de roupa demasiado exuberante no Paquistão, mas considera que a criatividade precisa de se manifestar além disso. «A censura não é má, mantém intactos os nossos valores e a nossa cultura, mas um pouco mais de espaço irá sem dúvida ajudar a nossa indústria», afirmou a modelo. «Apesar de todo o tipo de dificuldades e problemas que o nosso país enfrenta, os nossos designers são muito mais criativos e os nossos modelos são mais bonitos do que os de muitas outras nações»», afiançou. A Semana de Moda de Karachi mostrou 32 designers locais nos quatro dias do evento, com os receios pela segurança a manter os designers e modelos estrangeiros afastados. Actualmente, o Paquistão está empenhado numa ofensiva contra os militantes talibãs no nordeste do país, na faixa tribal que faz fronteira com o Afeganistão, que os responsáveis militares americanos chamam a região mais perigosa do mundo e uma base de liderança para a Al-Qaeda. Nada que impeça a criatividade e a moda de subir à passerelle e encantar o mundo oriental e ocidental.