Camboja investe na reciclagem

O país acolheu uma conferência onde o governo, associações e empresários debateram a circularidade na moda e a importância da reciclagem, marcando o ponto de partida de um projeto-piloto para a reutilização de resíduos têxteis pós-industriais.

[©Global Fashion Agenda]

A Global Fashion Agenda (GFA) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) organizaram um evento no Camboja para debater os temas dos resíduos e reciclagem têxtil no país e alinhavar os objetivos para o futuro, estando a contactar stakeholders para criar a Circular Fashion Partnership Cambodia.

A iniciativa Circular Fashion Partnership Cambodia faz parte do Global Circular Fashion Forum, que pretende ajudar os países produtores de têxteis e vestuário a criar e aumentar a reciclagem de resíduos pós-industriais.

O primeiro passo será o apoio a um projeto-piloto que se irá focar na seleção e reciclagem de resíduos têxteis, evitando, dessa forma, que acabem em aterros ou incinerados.

De acordo com um comunicado da Global Fashion Agenda, a indústria têxtil, vestuário e calçado do Camboja gera aproximadamente 140 mil toneladas de resíduos têxteis anualmente, a maior parte dos quais acabam em aterros ou a ser incinerados, com efeitos nefastos para o meio ambiente e a população.

Reconhecendo esta questão, os oradores presentes no evento, incluindo Soem Nara, subsecretária de Estado no Ministério da Indústria, Ciência, Tecnologia e Inovação, e Pak Sokharavuth, subsecretário de Estado do Ministério do Ambiente no Camboja, partilharam informação sobre a disseminação de tecnologias de reciclagem, melhores práticas, legislação, separação de resíduos, gestão de dados e considerações sociais na transição para a circularidade.

Pak Sokharavuth sublinhou que o governo do Camboja tem feito grandes esforços para reduzir o impacto ambiental do sector industrial, incluindo ao nível dos resíduos, que é considerada uma área prioritária. «São recicláveis, por isso têm valor. Devemos discutir o que precisamos de fazer para criar um modelo de negócio para isso», afirmou, citado pelo Phnom Penh Post. «O Governo está empenhado em trabalhar com os seus parceiros e está desejoso de criar um sistema de gestão de resíduos têxteis», acrescentou.

Já Mushtaq Memon, coordenador regional para a Ásia-Pacífico do subprograma de ação para químicos e poluição do Programa Ambiental das Nações Unidas, destacou, numa participação por videoconferência, que «estamos a enfrentar uma crise com as mudanças climáticas, perda de natureza e biodiversidade, poluída por resíduos, e temos de passar à ação» e, como tal, os têxteis têm de se manter na cadeia de valor o máximo de tempo possível. «Isso vai reduzir a utilização de recursos naturais e o impacto ambiental da atividade económica na indústria têxtil», realçou.

Uma exigência do mercado

Há ainda a questão económica, já que, destacou Albert Tan, vice-presidente da TAFTAC, a associação de têxteis, vestuário, calçado e artigos de viagem do Camboja, «muitos compradores começam a prestar atenção a este aspeto, ao mesmo tempo que os produtores estão a esforçar-se para serem mais verdes. A sustentabilidade já não é uma recomendação, mas uma exigência do mercado».

[©GIZ Cambodia]
Günter Riethmacher, diretor do GIZ Cambodia, mencionou que há desafios à reciclagem de resíduos pós-industriais, mas mostrou-se otimista quanto aos resultados que o projeto-piloto implementado pela GIZ e a GFA sob a Circular Fashion Partnership irá proporcionar. «O projeto-piloto vai minimizar os desafios e demonstrar que há soluções melhores fazíveis ao juntar todos os stakeholders ao longo da cadeia de valor. Responder aos resíduos têxteis vai tornar-se um tópico de sustentabilidade cada vez mais importante para todo o sector», indicou.

Federica Marchioni, CEO da Global Fashion Agenda, expressou estar entusiasmada com o projeto e reforçou o seu compromisso na definição do projeto Circular Fashion Partnership Cambodia. «Uma das principais aprendizagens do evento foi a necessidade de criar uma infraestrutura interna de seleção para captar e valorizar os resíduos têxteis pós-industriais, que são cada vez mais valiosos para os recicladores de têxteis. Ao longo deste processo, vamos trabalhar de perto com os nossos parceiros para assegurar que incluímos todos os atores relevantes e continuamos conscientes das nuances do contexto local», conclui Federica Marchioni.