Calçado conectado

O calçado é o “wearable” original – permitiu que os seres humanos caminhassem os mais duros trilhos, ajudou os romanos conquistar a Europa e fez com que atletas de elite pudessem correr sem dor e desconforto. Agora, as atenções das marcas estão concentradas no calçado alicerçado na tecnologia, mas a ideia original de utilidade prevalece.

O portal da especialidade Wearable.com falou com a fabricante de palmilhas personalizadas Wiivv, que explicou o interesse das grandes empresas de tecnologia na evolução “natural” do calçado. «Há muitas teorias diferentes sobre o pé, da medicina asiática antiga às teorias mais modernas», referiu o cofundador da Wiivv, Shamil Hargovan.

As declarações foram semelhantes quando a Wearable.com conversou com Hyungjin Cho, CEO da Salted Venture e criador dos sapatos inteligentes Iofit. «No pé existem muitas possibilidades», afirmou Cho. «Todos os dispositivos wearable se têm focado no pulso, mas a informação mais valiosa está no pé», sublinhou.

Assim sendo, quais são as empresas responsáveis pelos maiores avanços no sentido de tornar o calçado o próximo objeto de cobiça no segmento da tecnologia vestível? O portal deixa algumas orientações a respeito.

Foco na corrida

Quem corre tem beneficiado de sapatilhas conectadas há algum tempo. Não obstante, as Nike +, lançadas em 2006, e as Speed Cell da Adidas, lançadas logo de seguida, definiram um novo campo de atuação para estes desenvolvimentos. Ainda assim, em 2016, os sensores estão cada vez mais difíceis de detetar, continuando a dar ao calçado todas as métricas úteis.

A conduzir a nova vaga está a Under Armour com as sapatilhas SpeedForm Gemini 2 Record. Este par de aparência normal inclui um sensor incorporado para monitorizar parâmetros como a distância e o ritmo. Permitem que o utilizador corra sem o telemóvel, possibilitando o armazenamento de informação sobre várias corridas no próprio calçado, que podem então ser sincronizados com a aplicação móvel Under Armour Record.

As sapatilhas começam a rastrear informação de forma automática, pelo que não necessitam de configurações ou de informações de localização. Basta colocá-las nos pés e sair de casa.

Mas, se o consumidor não estiver disposto a investir num novo par de sapatilhas, há sempre a opção da palmilha inteligente. Há algumas opções no mercado, mas as palmilhas Stridalyser vão além do tracking de corrida habitual e podem realmente ajudar a prevenir lesões a longo prazo. As Stridalyzer possibilitam uma análise de pressão em tempo real para mostrar se o utilizador está a colocar demasiada pressão sobre os joelhos ou nas áreas erradas do pé.

Ideais para o golf

Já a empresa sul-coreana Salted Venture, apoiada pela Samsung Eletronics, tem entre mãos o modelo de calçado inteligente lofit.

Ainda que pareçam sapatos desportivos comuns, os Iofit incluem vários sensores de pressão e acelerómetros que permitem verificar as mudanças de peso no corpo, a postura ou posição. Numa aplicação, o utilizador consegue ver, em tempo real, os dados e escolher soluções para melhorar a sua performance e ainda evitar lesões. Os fãs de golfe também podem usufruir dos Iofit, já que os seus sensores mostram a posição certa para uma tacada bem-sucedida, corrigindo-a quando necessário.

Pés aquecidos

Em breve será possível ter um par de sapatos que permite manter os pés quentes. A startup francesa Digitisole começou com palmilhas aquecidas e está agora a desenvolver uma tecnologia capaz de incluir todo o calçado.

Definido para estar disponível em três modelos, o par que mais se destaca parece ter vindo diretamente do futuro, apresentando uma característica de “auto-laço”, apertando automaticamente em volta do tornozelo para manter o utilizador confortável e seguro.

Recorrendo a uma almofada de calor e bateria recarregável dentro do calçado, a energia da bateria é transformada em calor. A temperatura é controlada a partir da aplicação Digitsole no smartphone do utilizador, enquanto um termostato embutido garante que os pés não aquecem demasiado.

Combater doenças

Há, ainda, empresas concentradas nos pés em termos de saúde. A Orpyx é uma empresa que está focada em palmilhas que enviam dados para um smartwatch. A configuração reconhece quando o utilizador está a colocar pressão nos lugares errados do pé e está a ser desenvolvida para ajudar a prevenir, por exemplo, amputações devido à perda sensorial.

A empresa de bioengenharia britânica HCI Viocare também está a trabalhar em algo semelhante, recorrendo a uma matriz de sensores embutidos que funcionam na palminha ou no próprio calçado. O utilizador é então capaz de medir a pressão como no caso dos Iofit.

O projeto da HCI Viocare também pode gerar dados que determinam quando o utilizador está num ambiente demasiado quente ou húmido. Os dados são enviados para um smartphone em tempo real.