A C&A, empresa pan-europeia pertencente a uma das famílias mais ricas e secretas, a família Brenninkmeijer, vai deixar o Reino Unido após 78 anos de presença. A empresa, que estava a perder quase 320 mil contos por semana, admitiu recentemente que não conseguiu competir com as lojas «discount» tipo Matalan, nem com marcas como a Next e a Gap.
A C&A, que empregava no Reino Unido 4.800 trabalhadores, afirma que irá fechar todas as suas 109 lojas nos próximos seis a nove meses. Esta decisão de abandono foi um grande abalo para a família Brenninkmeijer, detentora de uma fortuna, de acordo com a revista Forbes, estimada em 800 milhões de contos. Fundada nos Países Baixos em 1841, tem sido gerida pelos Brenninkmeijer há mais de 150 anos, apesar de recentemente terem sido introduzidos gestores fora da família para tentarem lidar com os mercados mais importantes para a empresa, o Reino Unido e a Alemanha.
Esta decisão não irá por enquanto alargar-se a outros países, com a excepção de algumas lojas nos Países Baixos e a Espanha. O mercado alemão foi também posto em questão, mas até ao momento não houve nenhuma resolução quanto ao fecho de qualquer loja. O grupo que foi em tempos um dos retalhistas líderes na Alemanha, desceu agora para quarto lugar.
A partida da C&A do mercado britânico apesar de aliviar alguma pressão em outros retalhistas que lutam pela sua sobrevivência, como a Marks & Spencer, Arcadia e BHS, poderá dar lugar à chegada de lojas «discount» e de marcas que pretendem expandir a suas presenças nestes mercados. Neil McCausland, gestor das lojas C&A no Reino Unido afirma que «a decisão de retirada foi bastante difícil, visto que a C&A teve um lugar importante no seio dos retalhistas durante mais de 75 anos e que tinham intenções de se manter assim. Infelizmente as condições a nível de lucros e vendas não permitiram que continuassem».
Números da própria C&A apontam para prejuízos na ordem dos 80 milhões de contos desde 1995. De acordo com a Verdict, empresa de consultoria, as vendas caíram mais de 192 milhões de contos em 1997 e cerca de 160 milhões em 1999, apesar de há dois anos a C&A ter lançado um processo de recuperação e investimento na empresa na ordem dos 64 milhões de contos. Segundo a mesma empresa, o mercado britânico terá de passar necessariamente por um período de consolidação, após a entrada dos «discounters».
A Verdict afirma que as empresas em maior risco são a Debenhams, Fraser e M&S aquelas que justamente poderiam vir a ser as maiores ganhadoras com a partida da C&A. Contudo, prevê-se que à saída C&A e adisponibilização de mais de 186 mil m2 de espaço comercial, corresponda a entrada em massa de empresas como a Zara e a H&M, fortes concorrentes para os tradicionais retalhistas britânicos. McCausland, director-geral da C&A para o mercado britânico afirma que «a gama média, a nível de retalhistas, tem vindo a desenvolver rapidamente no Reino Unido, não conseguindo a C&A encontrar uma solução financeiramente viável para a sua continuação. «O mercado de gama média está a desaparecer no reino Unido, para sobreviver seria necessário tornarmo-nos numa loja discount ou numa marca», conclui. Depois do anúncio do fecho das lojas, os consumidores estão a comprar todo o tipo de produtos com marca C&A, até os crachats dos empregados.