Burberry espera menos lucro

A notícia de que a Burberry prevê que o seu lucro anual esteja no «fundo das expectativas do mercado» após uma desaceleração no crescimento das vendas trouxe nervosismo ao mercado de produtos de luxo. O preço de negociação das ações caiu mais de 18% na Bolsa de Londres. Apesar de empresas de luxo como a Burberry depositarem há já muito tempo as suas esperanças de crescimento na China, mesmo aqui nem tudo está tão bem como parece. Os consumidores chineses estão a tornar-se mais sofisticados nos seus gostos, bem como a fazer cada vez mais compras no exterior, enquanto no mercado doméstico novos operadores significam uma concorrência crescente. E tudo isto está a acontecer num cenário de desaceleração do crescimento das vendas a retalho. Nos últimos trimestres, a Burberry salientou o potencial da Ásia, com a CFO Stacey Cartwright, a referir recentemente que vê uma «grande oportunidade» na China. Na altura, Cartwright também revelou planos de abrir mais de 100 lojas de maior formato no país. De facto, os recentes relatórios afirmaram a importância da China para o sector de luxo, representando cerca de 25% das vendas globais. Assim, apostar na China parece ser uma medida acertada. Desde há muito tempo que as marcas de luxo têm visto a China como uma fonte de dinheiro, capitalizando com a atração das suas reputações internacionais e reconhecimento da marca. Mas um relatório do grupo bancário HSBC afirma que, à medida que os consumidores chineses se tornam melhor informados e mais exigentes estão a afastar-se de produtos de marca e a prestar maior atenção ao design mais diferenciado que mostre o seu conhecimento. O relatório acrescenta que as prendas empresariais, que têm sido o principal motor da procura de luxo, poderão ser prejudicadas, à medida que o Governo chinês aperta o cerco ao consumo discricionário e dificulta a corrupção. Para complicar ainda mais, o Governo chinês reduziu a sua meta de crescimento de consumo de bens para os próximos cinco anos. As autoridades chinesas preveem agora que as vendas a retalho de bens de consumo cresçam 15% ao ano entre 2011 e 2015, após registarem um crescimento de 16,1% ao longo de igual período anterior. O crescimento do retalho na China continental tem vindo a abrandar desde dezembro do ano passado, com o crescimento a cair de 18,1% em dezembro, para 13,7% em junho. No sector de vestuário, as vendas cresceram 26,7% em dezembro do ano passado, diminuindo progressivamente para os 20,2% em junho. Respondendo ao comunicado de lucro da Burberry, Sam Hart, analista na empresa Charles Stanley, considera que «o sector de bens de luxo é, provavelmente, particularmente vulnerável a qualquer desaceleração da procura na China, uma vez que tem sido o principal motor do crescimento nos últimos anos.» No entanto, Hart acredita que os produtos de luxo continuam a ser um mercado em crescimento ao nível mundial. «Os principais impulsionadores do crescimento são o aumento dos rendimentos disponíveis ao nível da classe média em expansão nos mercados emergentes; um número crescente de pessoas abonadas; o crescente poder de compra das mulheres que trabalham e uma propensão crescente para viajar», acrescentou o responsável.