É através do novo software, que combina design com tecnologia, que a Burberry pretende melhorar significativamente o processo de estampar nos artigos da marca de vestuário e acessórios.
A empresa está a trabalhar com a Koffeecup na aplicação que projeta um estampado bidimensional num modelo 3D de um determinado produto. O objetivo é que o resultado final possa ser conhecido em tempo real para agilizar o feedback. O método 3D faz agora parte do modelo de comercialização da Burberry, já que se tornou uma ferramenta base no processo de estamparia.
A adoção desta tecnologia evidencia, mais ainda, as preocupações da casa de moda britânica para com a sustentabilidade, tendo em conta que a aplicação reduz dois terços do uso de papel gasto na fase de design. Conseguir atingir uma amostra fidedigna com menos etapas tem também um potencial acrescido no que diz respeito ao desperdício gerado nas fábricas.
«Vimos isto como uma oportunidade de alavancar a tecnologia que normalmente é usada no desenvolvimento de jogos e aplicá-la no mundo da moda de luxo. Essa mudança pioneira do jogo para o design permitiu-nos avançar no sentido de criar uma experiência visual em tempo real que resultou bem com a nossa audiência criativa», acrescenta Thomas Michelou, diretor-geral da Koffeecup. «Olhando para o futuro, vemos a possibilidade de incorporar a realidade artificial e virtual para expandir o software, o que é uma perspetiva muito interessante», adianta.
Transparência e rastreabilidade
Também neste caminho verde, a Burberry estabeleceu, recentemente, uma parceria com a gigante IBM para desenvolver um sistema de um protótipo que poderá ajudar a melhorar a rastreabilidade na indústria da moda.
Em colaboração com os especialistas da Burberry, os alunos que participaram no programa de estágio da IBM tiveram a oportunidade de projetar, desenvolver e testar um novo projeto subordinado ao tema “Sustainablity in Fashion”.
Batizado Voyage, o protótipo usa a IBM Public Cloud e a IBM Blockchain para reunir dados que podem, no futuro e com esta inovação, rastrear a cadeia de produção e o ciclo de vida de uma determinada peça de vestuário. Ao mesmo tempo, os consumidores podem ficar a saber tudo o que pretenderem sobre o processo pelo qual passou um determinado artigo até chegar à loja, uma vez que a iniciativa transparente foi projetada para funcionar na aplicação móvel da Burberry.
A etiqueta dos produtos ou a identificação dos mesmos é o ponto de partida para inserir ou digitalizar na aplicação para que, deste modo, os usuários possam ter conhecimento de todas as características dos artigos e ainda definir as preferências de sustentabilidade com direito a recomendações personalizadas.
«A paixão e a criatividade que os estagiários do Extreme Blue da IBM demonstraram no desenvolvimento de uma solução de protótipo para um desafio de longa data do sector foi excecional. Estamos muito satisfeitos por termos apoiado os estagiários a enfrentar este desafio, já que a colaboração multifuncional entre os sectores é crucial para construir um futuro sustentável e inspirar a próxima geração de inventores com mentalidade sustentável», assegura Mark McClennon, diretor executivo de informação da Burberry.
«Pensamos naquilo que os consumidores podem querer saber sobre as suas roupas e como poderíamos responder a essas preocupações. O nosso objetivo é fornecer aos consumidores mais informações sobre cada produto antes dele chegar à loja, para que possam tomar decisões de compra mais informadas», explica, ao just-style-com, Tara Mulcahy-Murray, estudante de engenharia da Universidade de Oxford.
Estes últimos desenvolvimentos da Burberry vão ao encontro de um pressuposto do grupo britânico, que acredita que, para o crescimento futuro, a marca precisa de enfrentar os desafios que o sector da moda atravessa atualmente.
Metas sustentáveis
Como parte da agenda de responsabilidade a cinco anos, a marca de luxo fixou algumas metas, como conseguir ser neutra em carbono nas suas operações até 2022 e fazer com que 100% da eletricidade utilizada seja proveniente de fontes renováveis.
Também no início do ano, o grupo de luxo lançou um Regeneration Fund para apoiar as metas de carbono e, consequentemente, o impacto ambiental das operações, pelo que, os projetos vão incidir mesmo ao nível das quintas produtoras para melhorar as capturas de carbono no solo e nas bacias hidrográficas. A preservação da biodiversidade e dos habitats é outra das razões que contribuiu para que a Burberry adotasse este tipo de medidas, escreve o portal.
Resultados em queda
De acordo com o Sourcing Journal, a pandemia provocou um declínio nos resultados da Burberry referentes ao primeiro semestre do ano. Contudo, a marca britânica conseguiu lucros nos seis meses, enquanto as vendas em outubro assinalaram os primeiros passos de recuperação.
As melhorias surgiram «com um bom progresso estratégico» na venda de produtos de preço total, com a expansão da linha de artigos de couro que ultrapassa o desempenho médio da retalhista, com o aumento das vendas online, que atingiram os dois dígitos, e o facto de os consumidores estarem a aumentar o poder de compra.
«Com a marca a atrair consumidores novos e mais jovens, tomámos a decisão de reduzir os descontos e isso será um obstáculo para a receita [na segunda metade do ano fiscal de 2021] com o principal impacto no [terceiro trimestre], mas deverá servir os interesses a longo prazo da marca», esclarece o grupo britânico, destacando que está «bem posicionado para continuar a impulsionar o desempenho e crescer a médio prazo».
«Embora a dinâmica que construímos tenha sido interrompida pelo Covid-19 no início do ano, fomos rápidos na adaptação e avançámos ainda mais em relação à nossa estratégia. Embora o vírus continue a impactar as vendas na EMEIA, no Japão e no Sul da Ásia-Pacífico, sentimo-nos encorajados pela nossa recuperação geral e pela forte resposta à nossa marca e produtos, especialmente dos clientes novos e mais jovens», admite o CEO Marco Gobbett sobre os resultados do primeiro semestre.
As vendas líquidas do grupo nos seis meses até 26 de setembro baixaram 31%, para 878 milhões de euros, comparativamente aos 1,28 mil milhões de euros registados no mesmo período do ano anterior.
O crescimento no online, para os dois dígitos, no segundo trimestre ajudou, revela o grupo, a compensar os resultados dos mercados que foram afetados pela segunda vaga de coronavírus.
O lucro para o trimestre foi de 48 milhões de euros, um valor inferior face aos 150 milhões de euros obtidos antes.
«Num ambiente que permanece incerto continuaremos a entregar produtos excecionais, desenvolver planos e alterar recursos, enquanto estimulamos a força da nossa plataforma digital para inspirar os clientes», sublinha o CEO da Burberry.