- Feiras adiadas por surto de coronavírus
- Camboja perde privilégios comerciais
- Caxemira sustentável ganha certificação
- EUA cria lei contra o comércio desleal
- Lee Jeans aposta no denim verde
- Paquistão e Marrocos mais próximos
1. Feiras adiadas por surto de coronavírus
Mais feiras têxteis foram adiadas devido ao surto de coronavírus e ao seu impacto sobre os planos de viagem e segurança de compradores, visitantes e expositores. Os eventos que sofreram alterações localizam-se maioritariamente na Ásia e alguns nos EUA. As decisões refletem as solicitações do governo chinês para cancelar as grandes reuniões, de modo a tentar limitar a propagação da doença, bem como as restrições impostas aos visitantes à China Continental de viajar para outros países. É o caso da feira americana NW Materials Show, que deveria realizar-se nos dias 12 e 13 de fevereiro e que receberia mais de 300 expositores. A American Events, organização responsável pela feira, salienta que «temos um compromisso para com a segurança dos nossos clientes e parceiros. Pedimos desculpa por qualquer inconveniente e partilharemos atualizações assim que conseguirmos remarcar estes eventos». Contudo, a Première Vision Sport, que partilha o palco com a Materials Show no mesmo local, seguirá em frente, apresentando tecidos, componentes e designs para vestuário de performance e de desporto, esperando atrair 2.500 visitantes. Contudo, o governo americano proibiu a entrada de estrangeiros no país que viessem de uma visita à China há menos de duas semanas, o que significa que muitos dos participantes chineses poderão estar ausentes nesta edição. «Apesar do adiamento da NW Materials Show, e após uma ponderação cuidada, a nossa decisão foi manter o evento, com o desejo firme de apoiar todos os investimentos humanos e financeiros que os participantes já fizeram para promover coleções e potenciar o desenvolvimento do negócio», revela a organização. A opinião não é partilhada pela Messe Frankfurt que já anunciou, no início desta semana, que as suas três feiras têxteis – Intertextile Shanghai Apparel Fabrics, Yarn Expo Spring e a Intertextile Shanghai Home Textiles serão adiadas de março para uma data posterior. Também a edição chinesa da ISPO – programada para 12 a 15 de fevereiro em Pequim – foi cancelada para «proteger a saúde e a segurança dos nossos expositores e visitantes, e do público em geral», sustenta a organização. O mesmo aconteceu com as feiras Chic-China e a Denimsandjeans Japan, adiadas de março para data futura. O fundador da Denimsandjeans, Sandeep Agarwal, reforça que as novas datas serão anunciadas «assim que sentirmos que os expositores e visitantes estão muito mais confortável para participar». Entretanto, os organizadores dos eventos APLF Leather, Materials + e Fashion Access, em Hong Kong, continuam «a monitorizar de perto os desenvolvimentos do novo coronavírus que surgiu pela primeira vez em Wuhan, China, em dezembro de 2019».
2. Camboja perde privilégios comerciais
A Comissão Europeia (CE) retirou parcialmente o acesso privilegiado do Camboja ao mercado intracomunitário, o que significa que serão cobrados impostos ao país sobre alguns produtos de vestuário e calçado, assim como bens de viagem, à taxa da Nação Mais Favorecida da Organização Mundial do Comércio (OMC). A remoção afeta cerca de um quinto, ou mil milhões de euros, das exportações anuais do Camboja para a UE (União Europeia) e entrará em vigor a partir de 12 de agosto. Até ao momento, o país beneficiava de acesso isento de tarifas ao mercado intracomunitário sob o programa Everything But Arms (EBA). Contudo, em fevereiro do ano passado, a UE iniciou oficialmente o processo que veio suspender estes privilégios, devido a alegadas práticas que violavam os direitos humanos. Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, declara que «a duração, escala e impacto das violações do Camboja sobre os direitos de participação política e liberdade de expressão e de associação não deixaram outra opção à UE senão a retirada parcial do comércio privilegiado. A UE não deixará de agir ao ver a democracia a ser destruída, os direitos a ser restringidos e o livre debate a ser silenciado. Para que os privilégios comerciais sejam restabelecidos, as autoridades cambojanas têm de tomar as medidas necessárias». Phil Hogan, comissário para o comércio, acrescenta ainda que apesar dos progressos que o país tem realizado nos últimos anos, «o respeito pelos direitos humanos não é negociável». A UE é o maior parceiro comercial do Camboja, contabilizando cerca de 45% das suas exportações, em 2018 – 74,2% consiste em vestuário e 12,6% em calçado –, a maioria sob o programa EBA. Deste modo, a CE concentrou a aplicação das medidas punitivas em produtos de baixo valor acrescentado, como t-shirts, roupa interior, fatos de treino e meias, já que os artigos de alto valor acrescentado exigem formação e investimento significativo em capacidades, «limitando assim o impacto sobre o desenvolvimento industrial geral do Camboja». A associação comercial Amfori, que representa organizações de moda, têxtil e retalho globais, apoia a decisão da CE, evidenciando que as ações do país violam os seus compromissos com a Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a Liberdade de Associação e o Direito de Organização, a Convenção da OIT sobre Negociação Coletiva, o Pacto Internacional sobre Direitos Políticos e Civis e o Pacto Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais. «A perda dos níveis tarifários preferenciais irão impactar os nossos membros que se abastecem a partir do Camboja. Contudo, as suas violações contrariam o nosso compromisso para com o Comércio com Propósito [que dita que] o comércio deve ter benefícios sociais e económicos», reflete o presidente da Amfori, Christian Ewert.
3. Caxemira sustentável ganha certificação
A organização sem fins lucrativos Trade Foundation (AbTF, na sigla original) lançou aquilo que afirma ser o primeiro standard para a caxemira sustentável. O Good Cashmere Standard estabelece as bases para melhorar o bem-estar das cabras de caxemira, ao mesmo tempo que incorpora normas sociais e ambientais na produção desta matéria-prima. O programa iniciar-se-á com 2 mil agricultores na região do interior da Mongólia, no Norte da China, onde os consumidores e produtores irão receber um selo de qualidade independente pela caxemira produzida. Desenvolvido em colaboração com especialistas em direitos dos animais e especialistas em produção desta matéria-prima, o standard abrange tanto o bem-estar dos animais, como a proteção da natureza e as condições de trabalho de agricultores. «[O Good Cashmere Standard] vai ao encontro da procura do consumidor por sustentabilidade, qualidade e transparência. Muitos consumidores querem ter a certeza de que os têxteis que adquirem são produzidos de acordo com standards sociais e ambientais e que nenhum animal é prejudicado no processo», justifica Tina Stridde, diretora administrativa da AbTF. Um dos grandes stakeholders para o standard é o Grupo Erdos Cashmere, um dos maiores produtores desta matéria-prima, assumindo-se, desde o início, como seu parceiro e apoiante. Agora prepara-se para oferecer e processar, ainda este ano, lã de caxemira certificada – assim como outros quatro produtores. Do lado da procura, Peter Hahn, um dos principais retalhistas desta matéria-prima da Alemanha, foi o primeiro parceiro de retalho da The Good Cashmere Standard. Patrizia Strupp, chefe de sustentabilidade da Peter Hahn, expressa que «estamos entusiasmados por colaborarmos com este novo standard desde o início, que atende aos nossos altos padrões de bem-estar animal e de proteção ambiental e cria uma maior segurança para os nossos clientes e ainda mais confiança na nossa empresa». Recentemente, a tecnologia blockchain foi usada para ajudar a rastrear a caxemira da Mongólia desde a origem até ao destino (uma instalação de processamento em Ulan Bator), numa tentativa de aumentar a transparência do mercado e criar uma cadeia de aprovisionamento sustentável. Esta iniciativa faz parte do Projeto de Caxemira Sustentável do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e utiliza a solução blockchain Backbone da Convergence.tech.
4. EUA cria lei contra o comércio desleal
Os EUA finalizaram uma lei que lhes permite impor direitos compensatórios aos produtos que vêm de países que subvalorizam a sua moeda em relação ao dólar – incluindo grandes produtores como a China e o Vietname. A decisão surge no seguimento do Departamento do Tesouro dos EUA ter removido a designação da China enquanto manipuladora da moeda antes da assinatura da primeira fase do acordo comercial. O Departamento do Comércio assegura que geralmente confiará na experiência do Tesouro para determinar as situações de subvalorização da moeda – e apenas irá impor direitos de compensação às importações de produtos específicos que beneficiem de subsídios compensatórios e que, segundo a Comissão de Comércio Internacional dos EUA, prejudiquem as indústrias americanas. A estratégia visa reprimir aquilo que as autoridades americanas denominam por “práticas de comércio desleal”. «Esta lei cambial é uma etapa importante para garantir que as práticas de comércio desleal são adequadamente corrigidas», defende o Secretário do Comércio, Wilbur Ross. «Embora as sucessivas administrações se tenham recusado a compensar subsídios cambiais estrangeiros, a Administração Trump está a tomar medidas para equilibrar o terreno para os trabalhadores e negócios americanos», acrescenta. Os países na lista de monitorização do estudo semianual do Departamento do Comércio incluem a China e o Vietname. A China é o maior exportador de vestuário do mundo e o maior fornecedores de têxteis e vestuário do mercado americano. De acordo com os dados do Departamento de Têxteis e Vestuário dos EUA (OTEXA, na sigla original), a China exportou 11,67 mil milhões de unidades equivalentes a metro quadrado (SME, na sigla original) de vestuário para os EUA, em 2018, uma subida de 2,6% face ao ano anterior. O Vietname é o segundo maior fornecedor deste segmento do mercado americano, exportando 3,7 mil milhões de SME em 2018 – um crescimento de 3,4% em termos homólogos. Steve Lamar, presidente e CEO da Associação Americana de Vestuário e Calçado (AAFA), afirma que, «tal como ficou claro durante a guerra comercial com a China, impor tarifas sobre produtos de que as famílias americanas precisam apenas tem um resultado possível – mais tarifas», culminando em «mudanças políticas noutros países».
5. Lee Jeans aposta no denim verde
A Lee Jeans, propriedade da Kontoor Brands, desenvolveu uma linha de jeans totalmente biodegradáveis, assim como uma coleção de denim produzida com um processo de tingimento sem água, para coincidir com o lançamento da sua primeira plataforma global de sustentabilidade da marca. Disponível a partir da primavera em mercados selecionados, a coleção “Back to Nature” é feita de linho compostável – 85% de algodão e 15% de fibra de linho – constituindo-se por quatro itens: um casaco e jeans para homem e mulher, com botões e rebites amovíveis e reutilizáveis. A coleção faz parte do projeto de sustentabilidade “For a World That Works” da marca, que se concentra em três ramos principais: tecnologia adequada ao design e produção eco consciente, produção e processos de acabamento sustentáveis e segurança e saúde do trabalhador. Integrada nesta estratégia, a Lee lançou o Indigood Denim, uma coleção exclusiva de denim que elimina o consumo de água do processo de tingimento. Substituindo os tradicionais tanques de água e os banhos químicos do índigo convencional, a marca utiliza um aplicador de corante de espuma, reduzindo a quantidade de água necessária a 100%, a energia consumida em 60% e os químicos em 89%. «Enquanto uma das marcas de denim mais icónicas do mundo, a Lee compreende a sua responsabilidade de ajudar a liderar a nossa indústria no sentido de um futuro melhor», garante Chris Waldeck, vice-presidente executivo de marketing e presidente da marca. «A nossa nova plataforma de sustentabilidade é o guia que orienta as nossas ações e ajuda a impulsionar um progresso significativo em direção a um impacto ambiental e social mais positivo», continua. Em 2019, a marca juntou-se à Jeans Redesign da Fundação Ellen MacArthur. Ao estruturar diretrizes que reduzam o desperdício associado à produção de denim, estabelecer requisitos para a durabilidade e a reciclagem dos jeans e garantir impactos positivos ambiente, a iniciativa está a transformar a abordagem da marca ao design, salienta a Lee Jeans. A marca está também a colaborar com especialistas do sector e stakeholders externos para criar metas globais de sustentabilidade, que deverão ser anunciadas ainda este ano.
6. Paquistão e Marrocos mais próximos
O Paquistão e Marrocos concluíram a segunda ronda de negociações bilaterais para a melhoria das relações comerciais. Contando com a participação do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, Makhdoom Shah Mahmood Qureshi, as conversações concentraram-se em toda a gama de relações bilaterais, onde se incluem laços políticos, económicos, comerciais, interpessoais e de segurança. Também foram abordados vários temas relacionados com a cooperação contínua e formas de aprofundar as relações mutuamente benéficas. O embaixador Abdelkader EL Ansari e o secretário-adjunto (África) Ali Ahmed Arain, do Ministério de Negócios Estrangeiros de Marrocos, também estiveram presentes na reunião, que ocupou a capital do Paquistão, Islamabade, entre os dias 6 e 8 de fevereiro. Atualmente, entre os dois países não existe um Acordo de Livre Comércio (ACL). As exportações de vestuário de Marrocos têm acesso livre ao mercado americano, através do ACL EUA-Marrocos, e ao mercado intracomunitário, mediante o Acordo de Parceria Económica Euro-Mediterrânico, além do ACL com o Canadá. Em contrapartida, o Paquistão não tem quaisquer ACLs, mas sim Acordos de Parceria Comercial com o Canadá, Japão e a União Europeia. «O Paquistão e Marrocos têm uma amizade de longa data baseada na boa vontade e respeito mútuos e perceções partilhadas sobre assuntos de interesse comum», assegura o Ministério de Negócios Estrangeiros do Paquistão, em comunicado. «O Paquistão encara Marrocos como um parceiro africano importante», acrescenta. A par da visão do primeiro ministro, Imran Khan, o Paquistão embarcou numa “Política de Envolvência de África” que procura aprofundar as relações, particularmente na área da cooperação económica e comercial, com os parceiros africanos do país. As conversações bilaterais com Marrocos constituem mais um passo neste sentido.