Breves

  1. Plantas substituem petróleo na poliamida
  2. EUA combatem abusos laborais
  3. Freudenberg cria novo enchimento com a Lenzing
  4. Celulose sem “árvores” está a chegar ao mercado
  5. BCI bate recordes
  6. Wrangler estende iniciativa ecológica à Europa

1. Plantas substituem petróleo na poliamida

Oitenta anos após a primeira produção comercial de poliamida, a Genomatica produziu a primeira tonelada do principal ingrediente para a poliamida-6 com recurso a plantas em vez de crude. A poliamida foi a primeira fibra totalmente sintética aplicada a produtos de consumo, incluindo vestuário, mas é responsável por cerca de 60 milhões de toneladas anuais de emissões de gases com efeito de estufa. A inovação da Genomatica, em parceria com a Aquafil, irá providenciar poliamida de origem 100% renovável que garante o mesmo desempenho do que a tradicional, mas com um menor impacto ambiental, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa numa indústria global que produz mais de 5 milhões de toneladas deste material a cada ano. «[A poliamida] é um material fantástico e agora, com o poder da biotecnologia, podemos reinventar a sua origem. Este é um grande passo no sentido de um futuro novo mais sustentável», declara Christophe Schilling, CEO da Genomatica. Com o crescimento da fast fashion e a procura contínua por produtos à base de poliamida, são precisos cada vez mais ingredientes de origem sustentável para reduzir os impactos ambientais da indústria. A Fundação Ellen MacArthur ecoou esta exigência em 2017, num dos seus estudos, defendendo o consumo racional de recursos e a alteração para ingredientes renováveis como uma das quatro ambições essenciais para perspetivar um novo sistema têxtil global. A tecnologia da Genomatica recorre a um processo de fermentação do açúcar das plantas para produzir um químico intermediário que, posteriormente, é convertido em chips de poliamida-6 e em fios pela Aquafil na Eslovénia. A empresa foi a primeira a participar no programa da Genomatica, oferecendo um apoio financeiro e produtos químicos, qualidade e experiência de mercado relacionados com a poliamida. Por outro lado, foi criado o Project Effective, um consórcio com 12 parceiros, onde se incluem grandes marcas como H&M, Vaude, Carvico e Balsan, para impulsionar a produção de fibras de base biológica mais sustentáveis para produtos de consumo amplamente feitos de matérias-primas renováveis. «95% dos americanos consideram que a sustentabilidade é um bom objetivo e verificamos que é isso que os consumidores exigem», argumenta Schilling. «A nossa tecnologia dá às marcas uma solução para responder a esta procura do consumidor», resume.

2. EUA combatem abusos laborais

O Departamento do Trabalho dos EUA está a investir 22 milhões de dólares (20,09 milhões de euros) para responder a práticas laborais abusivas, incluindo trabalho infantil e trabalho forçado, nas cadeiras de aprovisionamento. «O trabalho infantil, trabalho forçado e tráfico humano são práticas repugnantes e colaboraremos com os nossos parceiros comerciais para as deter», promete a subsecretária de assuntos internacionais, Martha Newton. «Estas novas bolsas ajudarão o Gabinete de Assuntos Internacionais do Trabalho na sua missão de salvaguardar a dignidade laboral em todo o mundo», continua. O financiamento inclui 3 milhões de dólares da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para aumentar o impacto de investigações rigorosas sobre as práticas dos sectores de vestuário da Argentina e Maurícias. Além disso, estão envolvidos 5 milhões de dólares para estender as bolsas já existentes, onde se incluem 3,5 milhões de dólares para o programa Better Work da OIT/IFC (Corporação Financeira Internacional) para projetos de melhoria do cumprimento da legislação laboral e de promoção do empoderamento das mulheres nos sectores de vestuário do Haiti, Jordânia, Bangladesh, Camboja e Vietname. No final de janeiro, a OIT pediu uma revisão de «toda a cadeia de aprovisionamento» no que diz respeito ao trabalho infantil. O diretor-geral da organização, Guy Ryder, argumentou, numa conferência nos Países Baixos, que os esforços contra o trabalho infantil nas cadeias de aprovisionamento global seriam inadequados se não se alargassem para além dos fornecedores imediatos e abrangessem também os envolvidos na extração e produção de matérias-primas. Os fundos anunciados pelo Departamento do Trabalho dos EUA estão a ser disponibilizados pelo Gabinete de Assuntos Internacionais do Trabalho, cuja missão é promover um campo de atuação global justo para os trabalhadores em todo o mundo, através do reforço dos compromissos comerciais e das normas laborais, bem como do combate ao trabalho infantil, trabalho forçado e tráfico humano internacional.

3. Freudenberg cria novo enchimento com a Lenzing

A fornecedora de não-tecidos Freudenberg Performance Materials Apparel lançou aquilo que afirma ser o primeiro enchimento totalmente biodegradável, com fibra celulósica produzida de forma sustentável. O enchimento Comfortemp Lyocell atende a todos os requisitos para isolamento térmico de alto desempenho para vestuário desportivo e outdoor e resulta de uma parceria com a produtora de fibras Lenzing. A degradação do poliéster – material presente em 60% de todas as peças de vestuário – demora, em média, 500 anos. Além da redução do consumo, o encerramento do ciclo de vida do produto exige mais reciclagem, a melhoria da qualidade das peças, bem como soluções ecológicas inovadoras para garantir a sua durabilidade. O Comfortemp Lyocell é completamente biodegradável no prazo de 60 dias e não polui o solo. O enchimento baseia-se no liocel produzido pela Lenzing, uma fibra de celulose produzida a partir de matérias-primas naturais, com um processo de produção mais responsável. O solvente usado para obter as fibras é quase completamente reutilizado no ciclo de produção, o que é uma clara vantagem sobre outras fibras de celulose, como a viscose. «Esta inovação é o resultado de uma investigação intensa e cooperação estreita entre a Freudenberg e a Lenzing», assume Benoit Cugnet, diretor de marketing estratégico global na Freudenberg. «Enquanto produtor ecologicamente responsável de fibras especiais provenientes da madeira, o Grupo Lenzing é um parceiro perfeito para a Freudenberg», acrescenta. As fibras finas criadas a partir da matéria-prima natural permitem que o Comfortemp seja leve e tão eficiente quanto o enchimento sintético. Além disso, absorve a humidade do corpo até 45%, assim como o isolamento térmico é repelente à água, seca rapidamente, é anti estático e está em conformidade com o standard 100 da Oeko-Tex.

4. Celulose sem “árvores” está a chegar ao mercado

A empresa australiana de biotecnologia Nanollose juntou-se à produtora de fibras celulósicas Grasim Industries para comercializar as suas fibras ecológicas e sustentáveis produzidas em recurso a árvores. As fibras Nullarbor e Nufolium da Nanollose são desenvolvidas a partir de um processo de fermentação que converte resíduos de biomassa, das indústrias da cerveja, vinho e alimentos líquidos, em celulose microbiana – num ciclo de produção que demora 18 dias e requer pouca terra, água ou energia, comparativamente aos oito meses da indústria do algodão. A técnica também responde às preocupações ecológicas comuns relacionadas com a produção viscose tradicional, advinda predominantemente da polpa de madeira tratada com químicos perigosos, seguidos por um processo de purificação com energia intensiva para obter a celulose necessária para produzir a viscose. A Grasim Industries é a principal empresa do grupo Aditya Birla e está entre as maiores produtoras mundiais de fibras celulósicas artificiais para vestuário, têxteis e aplicações em não-tecidos. A colaboração inicial de três anos fornecerá à Nanollose um parceiro industrial para ajudar a acelerar o desenvolvimento e a comercialização das suas fibras, garantindo uma base de produção para futuras marcas de têxteis e vestuário. O projeto começará por refinar a produção de fibras na linha de fiação experimental da Grasim e, uma vez bem-sucedida, as empresas assinarão um acordo para a produção exclusiva de fibras de celulose microbiana numa escala comercial. «Esta colaboração permitirá à Nanollose expandir-se com um fabricante de fibras mundialmente reconhecido e criar uma série de produtos sustentáveis que atenderão à crescente procura de marcas que exigem alternativas ecológicas», reflete Alfie Germano, CEO e diretor-geral da empresa australiana. «Consideramos que esta é uma união natural de forças que criará uma aliança pioneira no desenvolvimento de uma nova cadeia de aprovisionamento de biomateriais e que responderá a muitos parâmetros sustentáveis» acrescenta.

5. BCI bate recordes

Em 2019, a Better Cotton Initiative (BCI) atingiu um recorde histórico de aceitação, com 150 membros a adquirir mais de 1,5 milhões de toneladas de fibra. A organização global sem fins lucrativos é o maior programa de sustentabilidade de algodão no mundo, com mais de 1.842 membros, para formar 1,6 milhões de produtores de algodão, distribuídos por 23 países. A aceitação da Better Cotton aumentou 40% face ao ano passado e, no final de 2019, o sourcing dos seus membros representava 6% do consumo global de algodão. «Ao aumentar os compromissos de aprovisionamento a cada ano e ao integrar a Better Cotton nas suas estratégias de sourcing sustentável, os membros da BCI estão a impulsionar a procura por uma produção de algodão mais sustentável em todo o mundo», explica a organização. O modelo de financiamento orientado pela procura da BCI significa que o sourcing de Better Cotton da retalhista ou marca traduz-se diretamente num investimento crescente na formação de agricultores sobre práticas mais sustentáveis. Na época 2018-2019, os membros, doadores públicos e a Iniciativa Comercial Sustentável (IDH, na sigla original) contribuíram com mais de 11 milhões de euros para projetos no terreno, permitindo que mais de 1,3 milhões de agricultores na China, Índia, Paquistão, Turquia, Tajiquistão e Moçambique recebessem apoio, recursos e formação. Os Membros Fornecedores e Produtores da BCI também assumem um papel importante na crescente aceitação, já que funcionam como o elo de ligação entre os fornecedores Better Cotton e a procura. Em 2019, os fornecedores e produtores obtiveram mais de 2 milhões de toneladas de Better Cotton, garantindo a disponibilidade da oferta para responder às necessidades dos retalhistas. Nagy Bensid, diretor de fios e fibras da Decathlon, aponta que «apesar do Better Cotton físico não ser rastreável até ao produto final, o que importa é que os fundos canalizados pela BCI contribuam para a formação dos agricultores e para a expansão da rede de produtores que estão a melhorar os seus meios de subsistência, protegendo e revitalizando o ambiente». Na segunda metade de 2019, a BCI deu as boas-vindas a 210 novos membros, onde se incluem 32 retalhistas e marcas de 13 países, 17 fornecedores e produtores e três organizações da sociedade civil. Durante a Conferência Global de Sustentabilidade do Algodão 2020, em junho, a BCI irá revelar os membros que aprovisionaram os maiores volumes de Better Cotton em 2019.

6. Wrangler estende iniciativa ecológica à Europa

A gigante americana de jeans Wrangler lançou, a 3 de fevereiro, o seu programa de algodão sustentável na Europa, durante a feira agrícola internacional Agrotica, na Grécia, visando desenvolver a rastreabilidade da cadeia de aprovisionamento. Contruído sobre uma iniciativa já existente nos EUA, o Programa de Conservação e Ciência da Wrangler foi inicialmente lançado em 2017 e representa uma aliança de especialistas da indústria, agricultores pioneiros e associações sem fins lucrativos que patrocina investigação e workshops para agricultores, ao mesmo tempo que promove práticas agrícolas para a saúde do solo. O objetivo é construir uma cadeia de aprovisionamento do algodão mais resiliente e regenerativa. De acordo com a Wrangler, vários estudos indicam que estes métodos podem aumentar o rendimento, reduzindo os consumos de água e energia, combatendo a erosão e acrescentando mais carbono ao solo. Face a estas observações, a marca visa obter 100% do seu algodão a partir de agricultores que aplicam práticas de gestão da terra até 2025. O programa permitirá a colaboração com agricultores europeus para promover a produção agrícola sustentável e as práticas de gestão dos terrenos que melhoram a saúde e a rastreabilidade do solo na cadeia de aprovisionamento. «Os produtos da Wrangler utilizam algodão cultivado de todo o mundo, por isso é importante que ajudemos a impulsionar toda a indústria no sentido da produção mais sustentável», reforça Roian Atwood, diretor de sustentabilidade da empresa. Os embaixadores do programa coorganizaram um diálogo sobre agricultura sustentável com o Programa Certified Fibermax Cotton da BASF, na feira Agrotica, onde vários produtores locais partilharam o seu percurso de práticas sustentáveis. «A importância da saúde do solo não pode ser ignorada. Os solos saudáveis são a espinha dorsal da agricultura, essencial para as nossas vidas», destacou o embaixador da Wrangler e fundador da Cover Crop Coaching, Steve Groff, durante o evento. «Os agricultores e as suas cadeias de aprovisionamento devem trabalhar juntos para proteger e revitalizar este recurso», salientou. A BASF juntou-se ao Programa de Ciência e Conservação da Wrangler em 2019 para desenvolver a rastreabilidade do algodão sustentável nos EUA. A iniciativa ajudou a lançar a coleção The Wrangler Rooted, em que cinco famílias de agricultores forneceram algodão sustentável numa variedade especial de jeans e camisas confecionadas com algodão americano e3 da BASF.