Breves

  1. Américas na linha de mira da Hyosung
  2. Kering cria módulo de sustentabilidade no IFM
  3. Holanda emite lei contra o trabalho infantil
  4. Yves Saint Laurent bate recorde
  5. Vestuário em marcha lenta nos EUA
  6. Cuidar e reutilizar é o lema de Anna Wintour

1. Américas na linha de mira da Hyosung

A produtora sul-coreana de fibras iniciou as operações comerciais nas suas novas instalações de elastano na Índia e considera agora as Américas como destino das próximas infraestruturas. O investimento da Hyosung na Índia cifrou-se em 110 milhões de dólares (100 milhões de euros) e visa aumentar a quota de mercado do elastano de 60% para 70% neste país. Localizada no complexo industrial Auric, a fábrica foi anunciada em fevereiro do ano passado e tem uma capacidade produtiva de 18 mil toneladas, ocupando uma área de cerca de 400 mil metros quadrados. Para além da segunda maior população a nível mundial, a Índia é também a sétima maior potência económica global, com um PIB de 2,72 biliões de dólares. O CEO da Hyosung, Cho Hyun-Joon, acredita que a implementação de uma estratégia de marketing «agressiva» dirigida aos consumidores indianos vai impulsionar o crescimento. Desde que investiu pela primeira vez no país, em 2007, o grupo sul-coreano já construiu uma infraestrutura em Pune e gerou mais de 300 milhões de dólares de vendas anualmente, expandindo o seu negócio pelo país. A marca Creora, da fibra de elastano, assume já uma representatividade de cerca de 60% no mercado indiano e é frequentemente usada para produzir vestuário local, incluindo hijab, lingerie, peças desportivas, denim e fraldas. Quando a nova unidade industrial estiver totalmente operacional, a Hyosung planeia focar-se na expansão do mercado premium e acredita que o investimento alavancará as indústrias locais, como a fiação, tricotagem, tinturaria e confeção. Neste sentido, a Hyosung considera agora o continente americano como próximo destino para uma nova fábrica.

2. Kering cria módulo de sustentabilidade no IFM

O grupo francês de artigos de luxo Kering fez uma parceria com o Institut Français de la Mode (IFM) para criar uma nova unidade curricular na instituição de ensino superior para impulsionar pesquisas científicas que se insiram no âmbito da sustentabilidade. A “Kering Sustainability Chair” do IFM pretende conceber um centro de pesquisa e de ensino de «primeira classe» na indústria da moda, incluindo aspetos como sustentabilidade, responsabilidade social corporativa (RSC), rastreabilidade, medição e ainda modelos de negócios amigos do ambiente. Andréé-Anne Lemieux, doutorada em engenharia industrial será a responsável por todas as iniciativas do IFM que abranjam este projeto. Alguns tópicos de ecologia criativa também vão ser alvo de estudos de modo a que os designers estejam aptos a desenvolver projetos de moda sustentáveis, juntamente com a equipa que os acompanham, bem como serem capazes de propor ideias ecológicas enquanto desenvolvem ferramentas para lidar com problemáticas ambientais e sociais. «Isto significa que os alunos podem desenvolver um entendimento de 360 gruas face aos desafios da sustentabilidade para que possam participar como futuros profissionais na transformação da indústria», refere Xavier Romatet, reitor do IFM. Além disso, o trabalho de investigação elaborado para a unidade curricular vai contribuir como orientação para as teses dos estudantes de doutoramento através das publicações científicas e das participações em conferências relacionadas com o objeto de estudo do programa. A iniciativa vai também abranger módulos práticos dedicados à moda responsável de pronto a vestir, calçado, artigos de couro, acessórios e joias, tanto para estudantes como para as empresas. A ideia visa abordar a sustentabilidade por meio de aspetos ambientais e sociais relacionados com o modelo de negócio, processos de aprovisionamento, inovações, materiais, produção e consumidores. «A pesquisa e a educação desempenham um papel indispensável na mudança de práticas e modelos da indústria de moda. Na Kering, estes são os pilares da estratégia de sustentabilidade porque acreditamos que é o nosso dever, enquanto grupo de luxo, para chegar às gerações responsáveis pela moda futura», afirma Marie-Claire Daveu, diretora de sustentabilidade e responsável pelos assuntos institucionais internacionais da Kering. «Estou convencida de que as pesquisas e as descobertas vão providenciar resultados concretos que ajudam a transformar a nossa indústria», conclui.

3. Holanda emite lei contra o trabalho infantil

A Holanda introduziu uma lei que impede a entrega de mercadorias que envolveram trabalho infantil e exige às empresas que vendem bens e serviços nacionais aos consumidores que identifiquem a existência de trabalho infantil nas suas cadeias de aprovisionamento. «Consideramos que é desejável apoiar as empresas que vendem no mercado holandês a prevenir que os seus produtos recorram ao trabalho infantil, para que os consumidores os possam adquirir com confiança», declara o Ministério das Relações Exteriores, em comunicado. Se for descoberta esta modalidade laboral, é exigido às empresas a elaboração e comunicação de um plano de ação para a contrariar. A legislação impõe também a nomeação de um regulador, que deverá receber as propostas das empresas de combate ao trabalho infantil presentes nas suas cadeias de aprovisionamento no prazo de seis meses após a lei entrar em vigor. As declarações serão posteriormente publicadas num registo público online. A ministra do Comércio Exterior e Cooperação para o Desenvolvimento, Sigrid Kaag, pondera ainda a adotação de um plano de ação conjunto que visa garantir que empresas afiliadas exerçam diligências para prevenir a entrega de bens e serviços com trabalho infantil. Além disso, antecipa-se a imposição de multas àqueles que não cumprirem a nova lei, que entrará em vigor em altura a determinar pelo decreto real – provavelmente após 2022, de acordo com alguns estudos. Para além da Holanda, também o Reino Unido, os EUA, França e Austrália, já procederam ao reforço das suas leis nacionais sobre escravatura moderna.

4. Yves Saint Laurent bate recorde

O casaco de Yves Saint Laurent com um bordado inspirado na pintura “Sunflowers” do pintor holandês Vicent van Gogh foi vendido num leilão por 382 mil euros. O valor confere um novo recorde para a venda de uma peça de vestuário do designer francês. Antes do leilão, estimava-se que o casaco que já vestiu a modelo Naomi Campbell fosse vendido por um preço entre os 80 e os 120 mil euros. O casaco foi comprado pela National Gallery of Victoria, situada em Melbourne, na Austrália. De acordo com o site do museu Yves Saint Laurent, a peça do designer que fazia parte da coleção primavera-verão de 1998 levou mais de 600 horas às bordadeiras de alta costura da Maison Lesage para bordar e costurar à mão. Esta coleção também apresentou outro casaco pormenorizado, mas desta vez em homenagem à pintura “Lírios”. A peça azul e roxa foi vendida em leilão por 175.500 euros, quatro vezes mais que o preço que se estimava, diretamente do armário da empresária libanesa Mouna Ayoub, uma das mulheres mais ricas do mundo. «Sempre fui fascinado pela pintura, então é natural que ela inspirasse as minhas criações», escreveu Yves Saint Laurent num catálogo destinado a uma exposição de Paris em 2004.

5. Vestuário em marcha lenta nos EUA

A desaceleração do crescimento económico, o fortalecimento do dólar e as tarifas sobre a importações chinesas irão pesar sobre o sector do retalho ao longo dos próximos 12 a 18 meses. Após dois anos economicamente fortes, o Serviço de Investidores da Moody’s baixou as suas expectativas de uma indústria positiva para estável, com um crescimento sólido. «Esperamos que o crescimento do lucro operacional diminua em 2020 em 4% ou 5%, com vendas na mesma variação», revela o mais recente estudo da empresa, acrescentando que o lucro operacional e o crescimento das receitas em 2019 ainda estão entre os 6% a 7% e 4% a 5% respetivamente. Apesar dos desafios, prevê-se um crescimento generalizado, justificado pelo investimento em inovações do produto e pelo aumento de vendas diretas ao consumidor. «Também beneficiarão de uma melhoria dos esforços de marketing e medidas prévios de poupança de custos, assim como de iniciativas e sinergias de restruturação», acrescenta a Moody’s. A previsão tem por base a expectativa de um crescimento global mais lento de 2,7% entre 2019 e 2020 – cerca de metade do que o registado entre 2017 e 2018. «Riscos como as disputas comerciais e o Brexit pesarão sobre o negócio e a confiança dos consumidores, o que irá aumentar a pressão para as promoções dentro do sector. A China, que representa uma área de concentração para muitas grandes empresas de vestuário, sentirá uma desaceleração do crescimento de cerca de 6,6% em 2018, para 6,2% em 2019 e 5,8% em 2020», continua. De facto, a disputa alfandegária vem ainda reforçar este impacto comercial – os EUA colocaram uma tarifa adicional de 15% sobre a maioria das importações de vestuário da China no início de setembro e preveem uma nova tarifa a 15 de dezembro. O fortalecimento do dólar acresce ao impacto sobre a balança comercial, podendo «aumentar os custos das mercadorias vendidas pela entidade estrangeira», explica a consultora. Além disso, sob a perspetiva dos consumidores, a empresa aponta que um dólar forte está a provocar um declínio dos gastos dos turistas em cidades americanas, o que conduz ao aumento das atividades promocionais. Do lado positivo, está o decréscimo dos preços de algodão de 0,95 dólares (0,86 euros) por libra em 2018 para 0,61 dólares por libra em 2019, devido à queda da procura por esta matéria-prima. Em contrapartida, os preços das fibras sintéticas e de poliéster continuam elevadas. A Moody’s regista ainda que os canais de venda direta ao consumidor (lojas e online), assim como os mercados internacionais continuarão a liderar o crescimento do sector do vestuário e calçado dos EUA. Efetivamente, os canais de venda direta ao consumidor garantem às empresas um maior controlo sobre as mensagens da marca e a experiência de compra, fatores que poderão estar na base de uma estratégia para impulsionar as vendas. Por seu turno, os consumidores priorizam agora as questões de sustentabilidade, proteção dos direitos laborais, privacidade no que diz respeito aos dados pessoais e responsabilidade do sourcing. «As empresas terão de continuar a trabalhar no sentido da transparência do sourcing, à medida que investem em cadeias de aprovisionamento sustentáveis», conclui a Moody’s.

6. Cuidar e reutilizar é o lema de Anna Wintour

Anna Wintour, atual editora da edição norte-americana da revista Vogue, disse que o vestuário deve ser valorizado, reutilizado e até mesmo passar de geração em geração. A afirmação surgiu no seguimento de uma chamada de atenção para um mundo de moda mais sustentável e uma cultura menos descartável.
Numa entrevista à Reuters, Anna Wintour confidenciou que o sector está «um pouco atrasado» no que diz respeito à diversidade e inclusão e que, apesar da ascensão intensa dos influenciadores digitais, a Vogue continuará a ser uma referência para os amantes de moda. Ainda que muitas marcas tenham reforçado as credenciais sustentáveis para atrair o público mais jovem, mais preocupado com o meio ambiente, continuam a alimentar um sector de moda adepto da cultura descartável. Anna Wintour, que exerce funções na Vogue há mais de 30 anos, apelou para o cuidado com as roupas e incentivou a passá-las para outras pessoas. «Acho que para todos nós isto significa uma maior atenção no artesanato e na criatividade e menos na ideia de que as roupas são instantaneamente dispensáveis, coisas que deitamos fora depois de uma leitura», explicou. «Trata-se de conversar com o nosso público, os nossos leitores, sobre guardar as roupas que temos e avaliá-las para as usarmos uma e outra vez e talvez passá-las para os nossos filhos ou filhas, dependendo do caso», destacou. Um relatório de 2016 da empresa de consultoria empresarial McKinsey & Company revelou que a produção global de vestuário duplicou entre o ano 2000 e 2014, sendo que o número de compras por ano de cada consumidor aumentou 60%. As conclusões de Ana Wintour são importantes para a indústria, uma vez que a editora-chefe está na primeira fila de vários desfiles de moda há muitos anos que, mais recentemente, começaram a dar especial atenção à diversificação nas passerelles, o que Anna Wintour considera que o sector está a demorar a assimilar. «Estamos a ver uma representação muito mais diversificada e inclusiva nas passerelles, nas redes sociais e também nas páginas das nossas diferentes revistas», disse a editora-chefe depois de mencionar que as redes sociais tiveram uma grande influência no que diz respeito às tendências da última década. «Isto tem a ver com o facto de termos tantos designers de cor nos EUA. Acho que até que haja uma voz que se afirme, as coisas não vão mudar da forma que deviam. Sinto que temos um longo caminho para percorrer». Anna Wintour, também diretora artística da Condé Nast, disse à Reuters, no evento “ChangeMakers” da Vogue, em Atenas, que os influenciadores da era digital têm opiniões «divertidas e variadas», mas que nunca vão conseguir corresponder ao alcance da vogue. «Globalmente, A Vogue tem 127 milhões de seguidores. A Vogue é a maior influenciadora de todos eles numa escala global», assegurou.