Breves

  1. Inditex acusada de explorar trabalhadores
  2. BCI tem novo Programa de Garantia
  3. Indústria luta contra libertação de microfibras
  4. Levi Strauss investe na segurança dos químicos
  5. Exportações da Tunísia caem
  6. Isko Denim lança coleção sustentável

1. Inditex acusada de explorar trabalhadores

A retalhista espanhola rejeitou as alegações de um grupo de proteção dos direitos humanos que a acusam de não assegurar um salário digno aos trabalhadores que produzem vestuário para a sua marca Zara. O grupo Public Eye, que representa a campanha Clean Clothes, na Suíça, desenvolveu uma investigação sobre um casaco com capuz da marca, com o selo Join Life, a principal linha sustentável da Inditex. Ao analisar a sua cadeia de aprovisionamento até às fábricas em Izmir, na Turquia, onde o artigo foi produzido, o grupo alega ter descoberto que a retalhista recebe o dobro pelo casaco, do que o conjunto de todas as pessoas envolvidas no processo produtivo: vendidos individualmente por 29,95 euros em França, a fábrica recebe 1,53 euros por artigo, assim como aquela que está encarregada pela estamparia ganha nove cêntimos por peça. Deste modo, o Public Eye estima que os trabalhadores turcos recebem entre 310 a 390 euros mensalmente, o que representa um terço daquilo que a campanha Clean Clothes calcula ser um salário justo: 6.130 libras turcas (cerca de 970 euros). O grupo aponta ainda que o Código de Conduta da Inditex estabelece que os seus fornecedores deveriam ser pagos com salários que são «suficientes para, pelo menos, satisfazer as necessidades básicas dos trabalhadores e respetivas famílias e quaisquer outras que possam ser consideradas como necessidades adicionais razoáveis». Acrescenta que a empresa não respeita o limite do horário laboral, imposto tanto no seu código de conduta, como na lei turca, além de que «muitos trabalhadores numa das fábricas eram contratados ao dia, sem garantias de que lá continuariam na manhã seguinte. Quase todos aqueles com quem falamos recusam-se a ser citados por medo de perder os seus empregos e contratos de aprovisionamento». O relatório indica que a Inditex recebe 4,20 euros por casaco, aproximadamente o dobro do que todas as pessoas envolvidas na produção (2,08 euros). Para que os trabalhadores recebessem um salário digno, seria necessário descontar ao lucro da retalhista 3,62 euros por artigo. «A Inditex, que obteve um lucro líquido recorde de 3,44 mil milhões de euros em 2018, deve começar a respeitar os direitos das pessoas que contribuem para o seu sucesso, pagando preços de compra que lhes garantam uma salário mínimo», sustenta o grupo. A gigante espanhola é membro da iniciativa Ação, Colaboração, Transformação (ACT), que obriga a retalhista a assegurar um salário digno na sua cadeia de aprovisionamento de vestuário e calçado e, recentemente, assinou um acordo com a IndustriAll Global Union para criar um comité que visa partilhar e promover melhores práticas na indústria. Um porta-voz da empresa rejeita, contudo, as acusações, defendendo que «os cálculos usados pelo Public Eye são especulativos e infundados, logo as conclusões são completamente imprecisas e incorretas». Os estudos da Public Eye contaram com a colaboração das organizações Éthique sur l’étiquette, Schone Kleren Campagne e com o gabinete francês de investigação de práticas sustentáveis Basic.

2. BCI tem novo Programa de Garantia

A Better Cotton Initiative (BCI) prepara-se para lançar uma nova versão do seu Programa de Garantia, que inclui alterações que permitem aos membros comunicar de forma mais eficaz sobre os seus esforços sustentáveis, confirmando que a informação fornecida é correta e credível. A mais recente versão deste programa envolve um novo tipo de reivindicação de sustentabilidade para os seus membros retalhistas e marcas. Estabelecendo uma ligação entre os resultados dos níveis de cultivo de algodão às contribuições realizadas pelos membros através do sourcing Better Cotton, o programa apresenta a contribuição do membro para os resultados globais da BCI no que diz respeito à água, pesticidas e rentabilidade. Este é um dos seis componentes do Sistema Padrão Better Cotton e oferece as condições aos membros para fazerem reivindicações positivas e credíveis sobre a Better Cotton. Deste modo, permite apoiar o esforço da iniciativa para impulsionar a procura de algodão sustentável, fomentando a consciencialização do mercado sobre a sua produção. «Reconhecemos que a necessidade dos membros de comunicarem sobre sustentabilidade está a crescer e a evoluir e o programa precisa de seguir no mesmo sentido, em paralelo com um mercado e uma procura do consumidor em ascensão», sustenta a BCI, acrescentando que «temos de dar aos membros a orientação de que precisam para comunicar as suas conquistas de uma forma que seja credível e transparente». Adicionalmente, o selo BCI que se coloca no produto – uma forma de comunicação unidirecional e direta dos retalhistas e marcas com o consumidor – inclui agora um cálculo da quantidade de algodão sustentável presente face ao convencional. A iniciativa acredita que é importante que os consumidores procurem compreender as reivindicações sustentáveis de um determinado membro, motivo pelo qual garante agora um acesso mais imediato a informação mais pormenorizada. Até ao momento, 115 retalhistas e marcas associadas à BCI estão a comunicar com os seus consumidores sobre a Better Cotton, dos quais 76 já estabeleceram publicamente objetivos percentuais de sourcing de algodão sustentável, um dos requisitos para usar o selo BCI.

3. Indústria luta contra libertação de microfibras

O Microfibre Consortium revelou detalhes sobre um novo método para testar a libertação de microfibras, que afirma ser o primeiro, a nível mundial, totalmente submetido à experiência, validado e aceite internacionalmente. Desenvolvido pela Universidade de Leeds, no Reino Unido, em nome do consórcio, o teste mede a perda de microfibras dos têxteis, contribuindo para a aceleração da investigação sobre o desenvolvimento do produto no sentido de reduzir a libertação de microfibras nas indústrias da moda, desporto, outdoor e têxteis-lar. A organização espera agora obter o parecer dos seus membros para lançar a novidade de forma mais aprofundada. Fundado há um ano, o Microfibre Consortium visa impulsionar o desenvolvimento de soluções práticas que minimizem a contaminação do ambiente por microfibras, provenientes da produção têxtil e do ciclo de vida do produto. O consórcio estabelece a ligação entre as investigações académicas e a realidade da produção comercial das cadeias de aprovisionamento, para oferecer soluções aos seus membros retalhistas, fornecedores e marcas. Para além dos analistas e especialistas que lhe estão associados, a organização conta agora com 40 empresas dos sectores outdoor, desporto, moda de luxo e têxteis-lar, que em conjunto representam um volume de negócios de mais de 250 mil milhões de euros. Por outro lado, o Microfibre Consortium está em fase de construção de uma base de dados para compreender o impacto de diferentes fibras, fios, construções de tecidos e fases do processo de produção que influenciam a libertação de fibras ao nível dos materiais. Sophie Mather, presidente do Microfibre Consortium, acredita que «à medida que aprofundamos a seleção estratégica de amostras teste, conseguimos reunir alguns conhecimentos verdadeiramente pertinentes que representarão um grande valor para as marcas e retalhistas, à medida que desenvolvem novas gamas de produtos». De facto, um dos objetivos estabelecidos pelo Pacto de Sustentabilidade, assinado por 32 líderes de moda que representam 150 marcas mundiais, prende-se precisamente com esta questão: eliminar a poluição por microfibras causada pela lavagem dos materiais sintéticos dos consumidores.

4. Levi Strauss investe na segurança dos químicos

A Levi Strauss anunciou uma colaboração com o Hohenstein Institute para utilizar o sistema de certificação Eco Passport da Oeko-Tex na sua cadeia de aprovisionamento – um passo em frente no sentido da segurança ao nível dos químicos na indústria do vestuário. A parceria garante à retalhista melhores níveis de teste, verificação e transparência para a segurança química. A Levi Strauss & Co. lançou o programa aberto Screened Chemistry, passível de ser adotado por outras empresas, que analisa formas de evitar que compostos potencialmente perigosos entrem na cadeia de aprovisionamento do vestuário, identificando alternativas mais seguras. Durante o processo de certificação do Eco Passport, o sistema analisa se cada ingrediente individual de um produto químico cumpre os requisitos legais internacionais e se não é prejudicial à saúde humana. As inspeções no local podem confirmar que os fornecedores estão a usar métodos e substâncias químicas mais seguras, que cumprem as melhores práticas da indústria. «Esta colaboração ajuda a elevar os nossos atuais programas para o próximo nível, estabelecendo um novo padrão de administração química responsável que junta a abordagem baseada no risco da Screened Chemistry com os sólidos recursos de teste e validação do Hohenstein», declara Michael Kobori, vice-presidente de sustentabilidade da Levi Strauss & Co. Por seu turno, John Frazier, diretor técnico do Hohenstein, acredita que a colaboração entre as duas empresas «é um passo significativo para identificar e atrair uma melhor [prática] química para as cadeias de aprovisionamento de vestuário, calçado e têxteis». A Levi Strauss está confiante de que a parceria permitirá avançar e implementar de forma mais eficaz o seu atual programa de gestão de produtos químicos e criar um modelo que outras empresas possam seguir. O objetivo é obter um programa que vá além da abordagem de gestão de riscos, oferecendo também uma orientação para as empresas eliminarem e impedirem a introdução de substâncias químicas nocivas na cadeia de aprovisionamento.

5. Exportações da Tunísia caem

As exportações de têxteis e vestuário da Tunísia diminuíram 4,6%, para 7,8 mil milhões de dinares (2,47 mil milhões de euros), durante os primeiros dez meses até outubro. De acordo com os dados do respetivo gabinete de estatística, esta quebra contribuiu para uma redução geral das exportações do país de 3,8%. As importações de têxteis, vestuário e couro também caíram, em 7,8%. Segundo o just-style.com, o sector do vestuário é o segundo maior da economia da Tunísia, representando 22% do seu total de exportações e ocupando quase 1.100 fábricas. No início deste ano, o primeiro-ministro da Tunísia, Youssef Chahed, assinou um acordo com o Sindicato Tunisino da Indústria, Negócios e Artesãos e com a Federação Tunisina de Têxteis e Vestuário (UTICA e FTTH, nas siglas originais, respetivamente) para criar uma parceria público-privada de modo a impulsionar a recuperação e o desenvolvimento, durante um período de cinco anos. Este plano envolve um financiamento do governo de 100 milhões de dinares para potenciar o crescimento e alavancar investimentos adicionais de 350 milhões de dinares de fundos públicos e privados. O objetivo é criar uma cadeia de aprovisionamento mais integrada verticalmente, assim como 50 mil postos de trabalho até 2023, elevando o sector de vestuário da Tunísia para a tabela dos cinco maiores fornecedores da Europa.

6. Isko Denim lança coleção sustentável

A produtora Isko Denim lançou uma nova gama de tecidos que, segundo aponta, é «a mais revolucionária» ao nível da responsabilidade sustentável até ao momento. A linha R-TWO recorre a uma mistura de algodão reutilizado e poliéster reciclado para reduzir a quantidade de matéria-prima cultivada, alegando melhorar a eficiência do sourcing ao longo de toda cadeia de produção. Além disso, combate a sobre-exploração, um dos maiores problemas no que diz respeito ao desperdício. Durante a fase de transformação do algodão em fio, a cada 100 quilos, estima-se que são perdidos cerca de 10% de algodão. A Isko recolhe este desperdício e devolve-o ao processo produtivo, obtendo algodão totalmente rastreado, documentado e auditado. Este processo de verificação tem sido desenvolvido pela produtora em parceria com a sua fornecedora de fio Sanko, garantindo transparência total no que toca à rastreabilidade do algodão reutilizado desde o seu cultivo à transformação em tecido. Por outro lado, o poliéster reciclado provém de garrafas de plástico limpas ou, em alternativa, de desperdícios certificados – em qualquer um dos casos, o material é recolhido, selecionado e limpo. Este poliéster é, então, triturado em pellets de plástico que podem ser transformados em novos filamentos de fibras e posteriormente misturados com o algodão reutilizado para criar os tecidos desta gama. «O programa R-TWO foi desenvolvido para continuar a oferecer uma abordagem sustentável futurista e inovadora, em que a Isko repensa as suas estratégias de sourcing e se recusa a procurar mais matéria-prima do que aquela que efetivamente precisa», explica a empresa. Assumindo-se como uma das maiores produtoras de denim, integrada no grupo Sanko, a Isko tem uma capacidade produtiva de 300 milhões de metros de tecido por ano e possui 2 mil teares automatizados de alta tecnologia.