- ModaLisboa e United Fashion procuram novos designers
- Inditex cria comité para trabalho justo
- Retalho entra com o pé esquerdo no Natal
- Trabalho forçado na China põe marcas em xeque
- Textile Exchange testa blockchain
- Adidas paga salários dignos
1. ModaLisboa e United Fashion procuram novos designers
De 5 a 7 de março de 2020, Lisboa recebe o United Fashion, um evento que reúne sete organizações de moda europeia para promover a moda de autor. Das organizações ativas fazem parte a MAD – Home of Creators e Flanders DC, ambas da Bélgica, Baltic Fashion Federation da Letónia, Maison de Mode da França, Fashion Weekend Skopje da Macedónia do Norte, Fashion Council Germany da Alemanha e a Associação ModaLisboa, que integra a plataforma desde o momento de criação. O objetivo do evento é proporcionar aos designers a «oportunidade de participar nas ações internacionais de formação e networking do projeto». O programa do evento está concebido de forma a que os designers se consigam aproximar dos profissionais da indústria têxtil e vestuário, ganhem visibilidade na imprensa e no mundo negócio, bem como adquirir uma rede alargada de contactos com o crescimento dos projetos que têm em vista. A iniciativa será palco de workshops, showrooms, masterclasses, happenings de moda e venda direta ao público. No United Fashion poderá também ver-se as coleções de outono-inverno 2020/2021 de 14 designers de moda, num programa integrado na Lisboa Fashion Week num evento «multidisciplinar que presta reverência à moda independente, aos projetos inovadores e ao peso imaterial da criatividade». As candidaturas para os designers com «forte identidade criativa» estão abertas até dia 19 de dezembro. Ter uma marca com dois anos de existência, um ADN criativo e um mínimo de três pontos de venda são alguns dos requisitos a cumprir para estar apto para entrar na competição.
2. Inditex cria comité para trabalho justo
A Inditex assinou um acordo com a federação sindical IndustriAll para criar um comité que visa a partilha e a promoção de melhores práticas na indústria do vestuário. O Comité de União Global será formado por representantes dos seis maiores clusters de produção da Inditex, assim como dos principais uniões sindicais de Espanha, a Comisiones Obreras e a UGT. Este comité irá incentivar o intercâmbio de boas práticas na promoção da liberdade de associação e do direito coletivo de negociação, enquanto pilares de base para a melhoria das condições de trabalho da mão de obra envolvida na indústria do vestuário, têxtil e calçado. O CEO da Inditex, Pablo Isla acredita que «este novo marco representa outro impulso para o nosso compromisso total para com as pessoas e a sustentabilidade, um esforço que sabemos ser capaz de provocar efeitos transformadores gigantes na indústria do vestuário». Isla acrescenta ainda que o acordo «reforça a convicção do grupo de que o trabalho conjunto de vários stakeholders na indústria do vestuário é a chave para expandir as melhores práticas sociais e ambientais ao longo da cadeia de valor». O secretário-geral da IndustriAll, Valter Sanches, afirma ainda que «este acordo melhora as circunstâncias prévias para uma mudança real das condições de trabalho, já que representa um instrumento para empoderar os nossos sindicatos com uma nova ferramenta para lhes garantir poder negocial».
3. Retalho entra com o pé esquerdo no Natal
As vendas nas ruas comerciais do Reino Unido sofreram um colapso na última semana de outubro, devido à instabilidade política, numa altura em que se aproxima o período crucial do Natal. Os retalhistas físicos não conseguiram impedir a diminuição das vendas, apesar dos grandes descontos de outono e das promoções sazonais, de acordo com o relatório High Street Sales Tracker, da BDO. Contudo, as vendas em lojas comparáveis foram positivas no que diz respeito a artigos de moda e para casa, durante o mês de outubro, com um crescimento de 1,7% e 6,6%, respetivamente. Por sua vez, as vendas de artigos de lifestyle diminuíram 1,9%. Este é o 21.º mês consecutivo sem crescimento nesta área, o «sector mais indicativo de gastos discricionários», evidencia a BDO. O total de vendas comparáveis em lojas físicas aumentou 0,7% em outubro, sem conseguir compensar o prejuízo de 2% de há um ano atrás, quando os consumidores se tornaram «cada vez mais sensíveis ao caos político» do Brexit, afirma a BDO. No geral, o ritmo de crescimento foi inferior em todas as semanas de outubro, relativamente a 2018, começando com uma queda de 1,8% até atingir a maior descida de 5,3% na última semana. Por outro lado, as vendas de comércio eletrónico comparáveis subiram 17,4% em relação ao ano passado, mais 6,9 pontos percentuais do que a taxa de 2018, sugerindo que os compradores ainda aproveitaram melhor os descontos e as promoções sazonais deste ano. Sophie Michael, diretora de retalho e vendas grossistas da BDO, sustenta que «os consumidores sofreram um golpe duplo de mais um atraso no Brexit combinado com as notícias de uma eleição geral durante o crucial período comercial das festividades». Acrescenta ainda que, «enquanto as primeiras três semanas de outubro podem ter trazido esperança para as ruas, a última foi terrível e esteve perto de contrariar os resultantes positivos das primeiras semanas». Por outro lado, «à medida que os retalhistas continuam a realizar transações com margens reduzidas e os seus apelos à reforma dos impostos sobre os negócios continuam a ser ignorados, entram agora num período essencial de vendas de Natal, enfrentando uma tempestade perfeita de condições desfavoráveis», continua.
4. Trabalho forçado na China põe marcas em xeque
Várias grandes marcas da indústria do vestuário têm vindo a reagir às alegações que as envolvem relativamente ao aprovisionamento de produtos de algodão em Xinjiang, uma área da China acusada de violar os direitos humanos. De acordo com uma investigação do Wall Street Journal, entre as envolvidas estão a H&M, Esprit, Adidas e Uniqlo. Em outubro, foi publicado um relatório do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla original) que indica que Xinjiang produziu 84% do algodão chinês em 2018, produção esta que tem vindo a aumentar com a ajuda de subsídios estatais. A China exporta menos de 1% do seu algodão, já que a vasta maioria é consumida a nível interno, nomeadamente na produção de vestuário e têxteis – efetivamente, 43% das exportações de Xinjiang englobam vestuário, calçado ou têxteis. Do outro lado da balança comercial, pesam os EUA e a União Europeia, que importam grandes quantidades de vestuário da China. Um porta-voz da H&M esclarece que o grupo «proíbe estritamente» o trabalho forçado ou ilegal na sua cadeia de aprovisionamento, garantindo que não retira partido da produção de Xinjiang. «Temos processos de diligência em atividade que visam identificar e abordar quaisquer riscos de trabalho forçado e tomamos sempre medidas quando recebemos informação que assim o evidencia. Contudo, devido às complexidades de detetar e prevenir o trabalho forçado numa cadeia de aprovisionamento global complexa, acreditamos que a colaboração e a partilha de informação entre os fornecedores, ONGs e outros stakeholders é a melhor forma de avaliar problemas e coletivamente resolvê-los», continua o porta-voz. Também a Adidas se pronuncia relativamente a este assunto, assumindo que proíbe o recurso a qualquer tipo de trabalho forçado ao longo de toda a sua cadeia de aprovisionamento e reforçando que não tem relação contratual direta com os fornecedores de Xinjiang. «Embora não tenhamos uma relação contratual com a Huafu Fashion Co., ou qualquer vantagem direta com as suas entidades de negócios ou subsidiárias, estamos atualmente a investigar estas alegações. Os nossos fornecedores diretos são também obrigados a impor os nossos standards aos seus subcontratados», salienta um porta-voz da Adidas. Também a Esprit afirma já ter realizado diversas investigações quando as alegações vieram a público, durante as quais concluíram que «uma parcela muito reduzida de algodão da fábrica Huafu em Xinjiang era utilizada para um número imitado de peças da Esprit», revela um porta-voz da empresa, que, entretanto, já exigiu aos seus fornecedores que abandonassem esta fonte. «Desde que soubemos das alegações, a Esprit relembrou os seus fornecedores que o uso de trabalho forçado é estritamente proibido sob o Código de Conduta do Fornecedor da Esprit», acrescenta.
5. Textile Exchange testa blockchain
A associação sem fins lucrativos Textile Exchange estabeleceu uma parceria com a TextileGenesis para testar a plataforma blockchain numa cadeia de aprovisionamento de viscose e lã. Responsável pelas certificações Responsible Down Standard, Global Recycled Standard e Content Claim Standard, a Textile Exchange quer explorar a integração do seu Sistema de Dados Central – uma plataforma de uma cadeia desenvolvida com a certificação GOTS – e a solução de blockchain da TextieGenesis, que representa um marco colaborativo no sentido da maximização da rastreabilidade digital e verificação física para materiais e fibras sustentáveis certificados. «A Textile Exchange criou um espaço onde a indústria se junta para partilhar as melhores práticas e conduzir o progresso para a sua transformação», afirma Amit Gautam, CEO e fundador da TextileGenesis. O projeto conta com o apoio dos grupos Lenzing, ArmedAngels e Schneider na cadeia de aprovisionamento de viscose e lã. Além disso, a Textile Exchange está também a colaborar com o Centro de Comércio Internacional (ITC, na sigla original) para aumentar a transparência e a rastreabilidade de cadeias de valor têxteis sustentáveis. Esta parceria focar-se-á em: permitir que as fábricas ganhem visibilidade na sua cadeia de aprovisionamento e facilitar o reconhecimento de solicitações de certificação de fábricas válidas e credíveis; fornecer à Textile Exchange e outras organizações uma referência exclusiva para cada empresa certificada; e eliminar possíveis problemas de confiança ao partilhar dados de empresas certificadas. Por outro lado, a Textile Exchange anunciou recentemente a sua nova estratégia para 2030 (Climate +), que procura reduzir entre 35% a 45% as emissões de carbono na produção de fibras e materiais têxteis nos próximos onze anos. «A estratégia Climate + é uma forma de tornar prioritários [os assuntos relativos] ao clima, à biodiversidade e ao carbono no nosso trabalho com fibras e materiais preferenciais», declara a diretora da Textile Exchange, La Rhea Pepper. A ONG explica que a estratégia Climate + é o resultado de um grande envolvimento dos stakeholders, através de entrevistas e questionários online, feitas a vários membros da Textile Exchange e a membros de outras organizações que representam marcas, retalhistas, fornecedores, fabricantes, organizações sem fins lucrativos e serviços profissionais em todo o mundo.
6. Adidas paga salários dignos
A Adidas é a empresa mais bem cotada no pagamento de salários dignos aos trabalhadores da sua cadeia de aprovisionamento, entre treze marcas do sector do vestuário. O estudo desenvolvido pelo ASN Bank avalia as políticas salariais de diversas marcas nas quais investiu e a forma como as mesmas são executadas. Desde o ano passado, o ASN Bank afirma que «a maioria das empresas analisadas fizeram progressos, sendo que nenhuma caiu abaixo da pontuação de 2018». Neste sentido, a Adidas ascendeu à fase líder, atingindo uma «ainda melhor» transparência do que em 2018, aponta o banco. «A Adidas desenvolveu um sistema de custo por minuto padrão com o seu fornecedor. Este sistema cria uma maior transparência no custo do produto da empresa para materiais, mão de obra e despesas gerais. A Adidas também estabeleceu um projeto-piloto que organiza uma cooperativa de crédito de colaborador que permite que os trabalhadores da fábrica recebam rendimentos extra, através de dividendos e partilha de lucro», esclarece o estudo. Para além da Adidas, também estão descritos os esforços da Esprit, KappAhl, H&M, Puma, Inditex, M&S, Gildan e Asos – e a diferença de pontuação entre a Adidas e as empresas na fase de maturação não é muito grade. Por outro lado, quatro das marcas analisadas estão em fase de desenvolvimento, onde se incluem a Asics, VF Corp, Hanesbrands e Renner. No entanto, o estudo reforça a necessidade de uma maior transparência e propriedade, divulgando esta informação pública e voluntariamente e não apenas quando assim lhes é solicitado. «Atualmente, estas informações são partilhadas principalmente pelos MSIs [serviços de monitorização e verificação] de forma agregada, portanto não podemos vinculá-las a empresas individuais. Na nossa perspetiva, a propriedade de um salário digno permanece com as empresas. Portanto, pedimos que partilhem informações de projetos relacionados com o MSI em relatórios anuais ou em websites». Por outro lado, o banco refere a necessidade de negociar custos e estabelecer níveis de preços que contenham todos os custos laborais. «Para que isto aconteça, as empresas parecem precisar de mais dados sobre os custos reais de mão de obra pagos nas cadeias de aprovisionamento e sobre estimativas salariais nas regiões fornecedoras». O relatório também solicita um maior esclarecimento sobre os impactos das medidas das empresas, em detrimento do esforço ou espírito de iniciativa, no sentido de averiguar se «estas ações estão ou não a produzir o efeito desejado».