Brasil quer exportar mais para a Europa

Indústria têxtil une-se, cria marca para produtos brasileiros e tenta retomar espaço num mercado de 420 mil milhões de euros. Até há bem pouco tempo atrás, circulava no sector têxtil brasileiro a seguinte ironia: não se pode convidar para o mesmo encontro empresários das áreas de algodão, fios, tecidos e confecção. Será confusão concerteza. Já hoje, eles podem ser vistos juntos sem qualquer problema e brindando a novos negócios. As companhias têxteis do Brasil acabam de lançar uma marca única para os produtos brasileiros, a TexBrasil. O objectivo é competir com os gigantes da moda mundial. A jogada de marketing foi feita em grande estilo, em Paris, durante a TexWorld, uma das mais importantes feiras mundiais do sector. A marca verde e amarela foi apresentada aos futuros compradores por entre exposições, coqueteis e um desfile do estilista brasileiro Alexandre Hercovitch. «Quem comprar um artigo com esse selo terá a garantia de que estará a levar um produto com preços competitivos e a certeza de estar a negociar com empresas comprometidas com a preservação do meio ambiente», garantiu Paulo Skaf, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). O clima de festa em Paris também tinha uma outra razão. O sector têxtil apresentou superávit na sua Balança Comercial pela primeira vez nos últimos seis anos. De Janeiro a Setembro, as exportações superaram as importações em 9.63 milhões de euros. O valor pode ser pequeno, mas o feito é expressivo. No ano passado, neste mesmo período o déficit dos têxteis era de mais de 365.13 milhões de euros. E, em 1995, as importações ultrapassaram as exportações em mais de 1.1 mil milhões de euros. Mas, os empresários brasileiros querem ir mais longe com a marca verde e amarela. Pretendem aproveitar que o Brasil está na moda para quadruplicar nos próximos cinco anos as vendas externas. Hoje, as exportações chegam a 1.33 mil milhões de euros. Se a meta for alcançada, o país estará recuperando a participação de 1% no mercado mundial – mesmo número que detinha no início dos anos 90. Alfinetar os concorrentes mundiais não será tarefa fácil. Hoje, centenas de países lutam por um mercado que movimenta 420 mil milhões de euros por ano. Além de bons produtos, a «guerra comercial» exige preço e, principalmente, inovação. No mundo inteiro, a discussão já foi muito além da qualidade do produto. «Ter qualidade hoje não é um diferencial, mas sim uma obrigação», explica Marcello Cavarzere, supervisor de exportações da empresa brasileira Santa Constancia. Neste segmento, o Brasil é mais competitivo na América Latina. A Argentina continua a ser o principal comprador de têxteis brasileiros. Mas quando o assunto envolve os Estados Unidos e principalmente a Europa, a situação é bem mais difícil. Nestes dois mercados, os mais importantes do planeta, chineses e coreanos são quase imbatíveis, principalmente quando o assunto é tecidos com misturas sintéticas. «Em alguns produtos, os preços dos asiáticos são até 70% menores que os nossos e com a mesma qualidade», diz Cavarzere. Os fabricantes de algodão puro são os que estão em situação mais confortável. Além de preços competitivos, indústrias como a Vicunha e a Santista já têm nome e tradição no exterior. «Alguns panos são tão bons quanto os italianos, mas a preços infinitamente menores», diz Marina de Sabrit, consultora da Renaux. A Santista, que tem as suas exportações baseadas no índigo, tecido utilizado principalmente na confecção de peças em jeans, tem motivos de sobra para comemorar. Embora sofra a concorrência das três maiores indústrias de índigo do planeta – todas americanas –, os EUA são o seu principal mercado. A empresa investe anualmente até 4.43 milhões de euros em design e, além de tecido, aposta na venda de peças acabadas. Quer fazer parcerias com grandes marcas mundiais. A indústria brasileira, com marca única e inovações, está a tentar costurar um espaço de destaque no mercado mundial da moda.