Segundo os dados da Associação de Produtores e Exportadores de Vestuário do Bangladesh (BGMEA), citados pelo Just Style, 16,1% do volume de negócios das exportações de vestuário do Bangladesh em 2022 foi proveniente de mercados não-tradicionais, equivalente a 7,35 mil milhões de dólares (cerca de 6,7 mil milhões de euros) do total de 45,7 mil milhões de dólares das exportações.
No ano fiscal 2022/2023, as exportações totais do país para mercados não-tradicionais atingiram 8,37 mil milhões de dólares, um crescimento de 31,38% face ao ano fiscal anterior, quando registou 6,37 mil milhões de dólares.
O gabinete de promoção das exportações do governo do Bangladesh também publicou dados semelhantes, apontando para um crescimento de 32,74% das exportações nestes mercados no período entre julho e maio do ano fiscal 2022/2023, para 7,7 mil milhões de dólares.
Este crescimento é superior ao registado nos mercados tradicionais. Nas vendas para a União Europeia, o aumento foi de 9,93% no ano fiscal 2022/2023, depois de um crescimento de 33,87% no ano fiscal 2021/2022 (que decorreu entre 1 de julho de 2021 e 30 de junho de 2022). Para os EUA, a subida foi de 5,51% no último ano fiscal (51,57% em 2021/2022), para o Reino Unido o crescimento foi de 11,78% em 2022/2023 e para o Canadá de 16,55% no mesmo período.
Os mercados tradicionais são atualmente cruciais para a indústria do país – a UE representou 50,07% das exportações de vestuário do Bangladesh, por exemplo – mas há vontade de explorar novas geografias, como refere Mohammad Hatem, presidente-executivo da Associação de Produtores e Exportadores de Vestuário em Malha do Bangladesh (BKMEA), que revela que as empresas do país já exportam uma série de artigos, incluindo t-shirts, camisas e jeans, para países menos tradicionais.
O preço é o primeiro ponto de atração dos compradores, mas Mohammad Hatem realça que os produtores estão a trabalhar para oferecerem bons serviços, incluindo atender estes clientes durante a noite para esclarecer dúvidas. «Os compradores sentem-se importantes aqui. Faz parte da nossa estratégia a longo prazo», indica ao Just Style.
Uma estratégia global
Para o Japão, as exportações de vestuário começaram a aumentar em 2010, quando os compradores nipónicos iniciaram uma estratégia de compras que batizaram de “China mais um”. «Queríamos que o Bangladesh fosse o “mais um”», aponta o presidente-executivo da BKMEA. Uma década mais tarde, o objetivo parece ter sido bem-sucedido.
«Há desafios com o desenvolvimento de produto [para mercados não-tradicionais], mas podemos ultrapassá-los», acredita Asif Zahir, subdiretor-geral do Ananta Group, produtor de têxteis e vestuário sediado em Daca. «O tamanho, a cor e o design podem ser diferentes, mas os produtos são os mesmos jeans, t-shirts, casacos, etc. Os clientes dizem-nos exatamente que tipo de produtos querem, não é um grande problema», acrescenta.
«Tem havido uma estratégia conjunta para os mercados não-tradicionais desde 2021», explica Khondaker Golam Moazzem, diretor de pesquisa no Bangladesh Centre for Policy Dialogue (CPD). A entidade analisou potenciais mercados-alvo, produtos para exportar e como responder à estrutura local de impostos. «Desde então, foi declarado um incentivo de 2% [pelo governo do Bangladesh] para a exportação para mercados não-tradicionais, que mais tarde foi aumentado para 3%», revela ao Just Style. «Isso aumentou o interesse dos empresários nesses mercados», acrescenta.
Da Ásia à América do Sul
Japão, Austrália, Índia e Coreia do Sul têm sido os principais novos mercados. Os dados da BGMEA mostram que o Bangladesh exportou 1,32 mil milhões de dólares para o Japão no ano civil de 2022, um aumento de 28,64% face a 1,02 mil milhões de dólares em 2021 e 877 milhões de dólares em 2020. Os números do ano fiscal de 2022/2023 dão conta de um crescimento de 45,62% face ao ano fiscal anterior, para 1,59 mil milhões de dólares.
O Bangladesh está igualmente a exportar mais para a Turquia (+49,81%, para 290 milhões de euros, no ano fiscal 2022/2023), para a Índia (1,01 mil milhões de dólares), para a Austrália (1,15 mil milhões de dólares), Malásia (297 milhões de dólares), México (348 milhões de dólares) e Coreia do Sul (538 milhões de dólares).
Tanto os artigos em malha como os produzidos em tecido têm aumentado as exportações para estes mercados (4,57 mil milhões de dólares e 3,79 mil milhões de dólares, respetivamente, no ano fiscal 2022/2023), mas os especialistas da indústria consideram que o marketing deve ser feito de forma diferente para estes tipos de produto para impulsionar o crescimento.
«Estas marcas [em mercados não-tradicionais] não estão habituadas às nossas letras de crédito, pagamentos, etc. Em vez disso, se conseguirmos construir armazéns lá e entregarmos nós os produtos, há mais potencial», sublinha Asif Zahir, que acrescenta que «em novos mercados temos de estudar os clientes, como eles trabalham, a sua reputação e posição financeira. Há o desafio em relação às diferenças culturais e linguísticas. Nas estratégias comerciais e de marketing, não do ponto de vista do produto, devemos ter alguns comerciais locais para entrar nessa base».
Os acordos de comércio livre contribuíram para o crescimento em alguns destes mercados, mas nem sempre, como destaca Khondaker Golam Moazzem, que lembra que na América do Sul, fornecedores regionais como as Honduras acedem a mercados como o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai com taxas entre 0% e 5%, «enquanto nós pagamos 30% a 35%».
O Bangladesh deverá ainda enfrentar novos desafios quando perder o estatuto de país menos desenvolvido em 2026. «Quando atingirmos o estatuto de país em desenvolvimento, serão adicionadas mais taxas e a nossa competitividade vai sofrer um pouco. Mas como a produtividade está a aumentar nas nossas fábricas, [os exportadores] vão sobreviver nestes mercados. Talvez a margem de lucro seja ligeiramente impactada. Mas vão manter competitividade», acredita o diretor de pesquisa no Bangladesh Centre for Policy Dialogue.
Essa mudança faz com que a exploração dos mercados não-tradicionais seja ainda mais relevante. «Vamos precisar dos nossos principais mercados hoje e no futuro também. Mas os mercados não-tradicionais terão um papel importante na diversificação de produto, mercados e investimento no geral», conclui Khondaker Golam Moazzem.