Bangladesh a ferro e fogo

Apesar do aumento do salário mínimo decretado na semana passada, os trabalhadores da indústria de vestuário continuam em protesto nas ruas e várias fábricas encerraram.

[©Dhaka Tribune]

Depois de meses de manifestações, um painel de revisão salarial, que incluiu governantes, sindicatos e patrões, decidiu, na semana passada, aumentar em 56,25% o salário mínimo para os trabalhadores da indústria têxtil e do vestuário do Bangladesh, para 12.500 taka, equivalente a cerca de 105 euros.

O aumento, contudo, continua a ser insuficiente na perspetiva de muitos dos 4 milhões de trabalhadores, a maioria dos quais mulheres, e os protestos continuaram nas ruas, com 15 mil trabalhadores a entrarem em confrontos com a polícia na passada quinta-feira, tendo invadido várias unidades produtivas, segundo a Agence France Press (AFP).

«A polícia apresentou queixa contra 11 mil pessoas não identificadas por causa do ataque à fábrica de vestuário Tusuka», afirmou à AFP o inspetor da polícia Mosharraf Hossain. Uma ação comum por parte da polícia, que apresenta queixas contra milhares de pessoas sem ter de especificar os seus nomes, numa tática que os críticos afirmam ser uma forma de pressão sobre os dissidentes.

A polícia revelou à AFP que 150 fábricas fecharam nas cidades industriais de Ashulia e Gazipur, ambas a norte da capital Daca.

Os protestos continuaram no domingo, com a polícia a indicar que mais de 10 mil trabalhadores abandonaram os seus postos de trabalho e que pelo menos nove fábricas fecharam em Mirpur, a norte de Daca.

«Cerca de 500 destes trabalhadores tentaram bloquear uma estrada como parte dos protestos por causa do salário mínimo. Não houve violência», afirmou Masud Sarker, inspetor da polícia local.

Os sindicatos acusam o governo de estar a lançar uma campanha de repressão sobre os manifestantes, sendo que atualmente a vaga de protestos contabiliza já quatro mortos – o último dos quais não resistiu aos ferimentos causados nos confrontos com a polícia no início deste mês.

Amirul Haque Amin, que lidera o sindicato Federação Nacional de Trabalhadores do Vestuário, indicou que muitos manifestantes estão escondidos. Pelo menos 122 pessoas, incluindo vários organizadores dos protestos, foram presos em Gazipur desde o início das manifestações, revelou Ibrahim Khan, porta-voz da polícia local.

O jornal local The Business Post publicou um artigo sobre os dois lados da barricada: a história de uma família de trabalhadores da indústria – em que o marido, alegadamente inocente, foi preso pela polícia em casa, a meio da noite, e nem ele nem a esposa receberam ainda o salário de outubro, com a empresa onde trabalham a ter encerrado até indicação em contrário –, mas também de patrões como Inamul Haq Khan Bablu, que têm assistido à vandalização das suas fábricas e que encerraram portas temporariamente.

O Bangladesh vive um dos períodos mais turbulentos em termos laborais, com milhares de manifestantes a exigirem que o salário mínio triplique, para 23 mil taka.

O país contabiliza cerca de 3.500 unidades fabris, que representam 85% dos 55 mil milhões de dólares de exportações anuais do Bangladesh e fornecem marcas mundias como a Levi’s, a Zara e a H&M.