Atividade empresarial estabiliza em dezembro

Com as primeiras vacinas a serem administradas, o otimismo perante a crise pandémica renasceu. Não obstante, dezembro foi ainda um mês de novos confinamentos e de picos no número de casos de Covid-19, que não deixaram de afetar a indústria e o retalho na zona euro, no Reino Unido e nos EUA.

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Apesar das notícias serem animadoras com o início da campanha de vacinação, os efeitos da pandemia são ainda muito sentidos em vários sectores. A indústria e o comércio espelham isso mesmo, de acordo com uma nova análise de dados, que apresentou resultados dicotómicos.

Nos EUA, as empresas do sector privado registaram um ligeiro crescimento, mas constante, na produção em dezembro. Durante o corrente mês, o índice PMI composto preliminar nos sectores da produção e dos serviços da IHS Markit desceu para 55,7 comparativamente com os 58,6 evidenciados em novembro. A perda de dinâmica económica foi mais notável nos sectores de serviços graças às restrições suplementares e também ao abrandamento da procura por parte do consumidor. A desaceleração deste sector fez-se acompanhar pelo aumento do número de casos de Covid-19, que levou à reposição das restrições em muitos Estados americanos.

Numa nota mais positiva, o número de encomendas continuou a aumentar para o ritmo mais acelerado observado desde fevereiro de 2019. A incerteza dos consumidores, contudo, não deixou de pesar na recuperação, aponta a IHS.

Segundo a análise, as empresas verificaram uma queda em novas vendas de exportação, ainda que a procura doméstica nos negócios de produção e de serviços tenha continuado a crescer. A redução das vendas foi a primeira verificada desde julho, uma vez que as restrições nos principais mercados exportadores reduziram a procura por parte dos clientes estrangeiros.

À semelhança do que aconteceu em novembro, este mês também contou com graves interrupções nas cadeias de aprovisionamento, com atrasos mais evidentes do que em qualquer outro momento, em relação aos dados disponíveis desde 2007. Como resultado da procura a aumentar e da oferta a diminuir, as empresas viram os custos dos fornecedores a aumentar, agravados pelo crescimento dos preços dos equipamentos de proteção individual.

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Embora os produtores tenham aumentado os preços de venda ao ritmo mais rápido desde abril de 2011, com o objetivo de ultrapassar os elevados custos dos clientes sempre que possível, os fornecedores de serviços moveram-se a um ritmo mais lento de inflação para impulsionar as vendas, indica a IHS. As perspetivas da produção para o próximo ano mantêm-se otimistas, mas condicionadas pelas incertezas em relação à pandemia e ao aumento dos custos.

«Os dados do relatório aumentam a probabilidade de a economia ter continuado a expandir no quarto trimestre, com base na recuperação observada no terceiro trimestre. No entanto, embora novembro tenha visto os negócios impulsionados pelo aumento da atividade gerada pela Ação de Graças, bem como um aumento na confiança dos empresários após a eleição presidencial e notícias encorajadoras sobre as vacinas, dezembro viu as empresas a conterem as suas expectativas devido aos números mais altos de infetados e às posições de bloqueio mais rígidas adotadas nalguns Estados», afirma Chris Williamson, economista-chefe de negócios da IHS Markit, citado pelo Sourcing Journal.

«Apesar dos desenvolvimentos das vacinas significarem que parte da nuvem causada pela pandemia se deverá dissipar à medida que entramos em 2021, o número crescente de casos continua a assombrar as previsões no curto prazo. O aumento dos números de infetados foi apontado como um fator-chave para a redução das contratações, o que sugere que o mercado de trabalho arrefeceu e a prudência cresce entre os empregadores. A par disso, outros custos subiram, juntamente com o aumento dos preços das matérias-primas e com a escassez de fornecedores causados pela pandemia, o que atua como uma pressão acrescida sobre as empresas», explica Chris Williamson.

Reino Unido

No Reino Unido, de acordo com o relatório, os dados de dezembro revelam uma expansão marginal da produção no sector privado, sustentada por um novo aumento sólido na produção industrial.

A análise indica ainda uma forte pressão nas cadeias de aprovisionamento produtivas, que esteve associada a vários atrasos depois do congestionamento nos portos do Reino Unido. Cerca de 45% do painel da análise salientaram os tempos de espera mais longo por parte dos fornecedores. Já o alargamento dos prazos de entrega foi o terceiro maior registado desde o início do relatório, em 1992, só foi superado no pico da pandemia em abril e maio.

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«A redução de empregos baixou este mês para a taxa mais lenta desde o início da pandemia, uma vez que o otimismo se manteve nos sectores de produção e serviços sobre as condições operacionais em 12 meses», explica Duncan Brock, diretor de grupo do CIPS (Chartered Institute of Procurement & Supply) da IHS. «No entanto, no curto prazo, os gerentes da cadeia de aprovisionamento identificaram alguns obstáculos sérios que podem impedir um maior progresso e colocar os sectores novamente em recessão. Apesar da fabricação ter sido impulsionada pelo pânico de compras do Brexit e tenham registado o aumento mais rápido nas compras desde agosto de 2013, os prazos de entrega aumentaram pela terceira maior taxa desde 1992, o que significa que muitos materiais essenciais não estavam a transitar», acrescenta.

Zona euro

Na zona euro, a atividade empresarial esteve perto de estabilizar em dezembro, com o crescimento forte da produção industrial, que ajudou a conter a queda na atividade do sector de serviços.

Com os últimos desenvolvimentos na vacina, as perspetivas da produção melhoraram para uma alta de 32 meses, de 45,3 para 49,8, no mês de dezembro.

O fluxo de novos pedidos também aumentou significativamente, pela primeira vez desde setembro, um crescimento sustentado por uma maior taxa de crescimento de pedidos no sector industrial. Como consequência, as taxas médias cobradas por bens e serviços desceram ao ritmo mais lento desde o declínio dos preços, que se iniciou em março.

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«A economia da zona euro em dezembro está a sair-se melhor do que o esperado com o índice composto PMI a atingir 49,8, mais do que as expectativas consensuais de 45,8. Os dados mostram que a economia está perto de se estabilizar, depois de ter voltado a mergulhar num forte declínio em novembro, com as novas medidas de restrição. A desaceleração do quarto trimestre parece muito menos acentuada do que o impacto da pandemia sentido no início do ano, embora o quadro seja muito misto para o sector», aponta Chris Williamson.

«Apesar das vacinas significarem que há luz ao fundo do túnel, no curto prazo ainda parece bastante desafiador para muitas empresas voltadas para o consumidor. Embora a indústria esteja a registar um forte crescimento, alimentado pelo aumento das exportações e um desempenho explosivo da Alemanha, em particular, o sector de serviços continua em declínio devido às constantes restrições de distanciamento social», conclui.