«As pessoas ficaram muito contentes com o regresso à Exponor»

Em entrevista ao Portugal Têxtil, Manuel Serrão avança algumas das suas futuras ambições para o Modtissimo, que estará de volta à Exponor de 6 a 7 de setembro, e para outras feiras incontornáveis da indústria têxtil e vestuário no calendário do From Portugal, ainda agendadas para o corrente ano.

Manuel Serrão

Manuel Serrão, diretor do Modtissimo, que regressou à Exponor, e também CEO da Associação Selectiva Moda, antecipa ainda a participação de dezenas de empresas nacionais nas próximas feiras internacionais, desde a muito aguardada Techtextil até à imperdível ISPO Munich, ambas com um possível recorde de expositores portugueses. Mas para cumprir a missão de apoiar as empresas portuguesas na internacionalização, lembra que é preciso que as promessas das entidades gestoras dos quadros comunitários sejam cumpridas e os novos concursos abram ainda a tempo do segundo semestre.

O que trouxe de positivo o regresso do Modtissimo à Exponor?

O nosso regresso à Exponor foi, desde logo, motivado pelo crescimento da feira, que impedia que a pudéssemos fazer no aeroporto, como tínhamos vindo a fazer as edições de fevereiro. Ao fim do segundo dia, estava amplamente sufragada pela maioria dos expositores e, sobretudo, pelos visitantes. Porque, de facto, as pessoas concordam todas. Há até aquela frase engraçada que o [António] Braz Costa [diretor-geral do CITEVE] disse mal entrou na Exponor: “já parece uma feira”. O que é que isto quer dizer? Não quer dizer que não fosse uma feira na Alfândega ou no aeroporto, mas esta é a imagem que temos das feiras internacionais onde estamos sempre. E, portanto, percebo que as pessoas digam isso. É muito importante que todos possam estar na mesma sala, que toda a gente possa ver o que está a acontecer em termos de expositores e de visitantes e foi essa noção que, apesar da feira ter sido apenas um bocadinho maior em termos de área, deu a impressão de que era muito maior. Na verdade, maior eu diria 10% a 15% no máximo, mas pareceu muito maior porque temos uma visão global da feira, tanto dos expositores como dos visitantes. Quando temos 1.000 ou 1.500 pessoas, uma coisa é conseguirmos perceber isso e outra coisa era como estávamos na Alfândega, divididos por várias salas e pelos corredores. Essa é a diferença.

Que feedback recebeu dos expositores?

Acho que as pessoas ficaram muito contentes com o regresso à Exponor. Curiosamente, temos alguns expositores, o caso, por exemplo, da Goucam, que decidiu voltar à feira – já não fazia há uma série de edições – só por ser na Exponor, e eu senti, logo quando mudámos, que isto ia dar um bom resultado. Claro que era preciso depois ver. E, de facto, o sítio e melhor para os expositores, mas é muito mais cómodo para os visitantes. Porque, como é evidente, uma coisa é fazer uma feira na Exponor, com uma acessibilidade brutal para toda a região norte, e outra coisa é fazer uma feira no centro do Porto que, por muito bonito que seja o edifício, o acesso é complicado, o parque é complicado… Portanto, acho que tivemos mais visitantes e teve muito a ver com isso. Por exemplo, houve empresas que disseram “eu gostava de dar lá um salto a ver se me interessa ou não”, mas enquanto na Exponor se lhes interessar, perdem uma hora ou duas e, se até correr bem, ficam, quando pensavam no centro do Porto diziam “eu só para ir perco meio dia ou uma tarde”. Portanto, acho que isso também contribuiu para o aumento. Depois, além de tudo isto, também acho que no atual momento pós-pandemia – e nós temos sentido isso mesmo também em feiras internacionais, com a adesão que têm tido os nossos expositores – há, claramente, um interesse acrescido por produzir em Portugal e por comprar em Portugal. E acho que isso também é uma das razões que faz com que o movimento fosse maior do que é habitual.

Os expositores têm vindo particularmente a destacar o crescente número de compradores estrangeiros de edição para edição. O que tem permitido esse bom resultado?

Eu sinto isso também pela mesma razão, porque são os expositores que me dizem e tenho os números e os números também falam por si. Acho que tem a ver com uma tendência que está para além daquele interesse crescente de que já falámos por Portugal, de produzir em Portugal e por comprar produtos feitos em Portugal, também muito impulsionado por esta imagem que já fomos criando ao longo dos últimos anos, e que agora é mais forte, de que a indústria portuguesa é a vanguarda da produção sustentável e responsável – acho que isso também está a fazer a diferença. Mas, também noto, e já notei desde o ano passado, que no pós-pandemia, as grandes plataformas internacionais –Munich Fabric Start, Première Vision, etc. – foram mingando um bocadinho e as feiras mais pequenas, nas quais a Modtissimo se inclui, foram crescendo um bocadinho. Dá a ideia de que as pessoas preferem, atualmente, feiras que não sejam gigantes, que tenham uma dimensão mais humana e, talvez, onde se sintam também mais confortáveis, com mais facilidade de trabalho. Acho que é tudo junto, é uma combinação de fatores. E, claro que também temos esse feedback das delegações da AICEP nos vários países que nos ajudam a captar compradores estrangeiros, que também dizem que os pedidos de informações e o interesse que eles registam em empresas que querem vir para Portugal tem vindo a aumentar muito.

Na última edição, que nacionalidades de compradores preencheram mais os corredores da Exponor?

A Alemanha cresceu muito. A Áustria também, mas a Áustria é um fenómeno que já vem desde a última vez em que foi o país convidado. Também os Países Baixos e a Espanha. A Espanha, que até curiosamente nas exportações tem vindo a baixar, embora seja ainda o maior mercado das exportações, acho que, no final deste ano, vamos ter uma surpresa, porque o número de espanhóis que vieram é uma coisa absolutamente extraordinária, mais do dobro da feira anterior.

Outro ponto de interesse foram as Modtissimo Talks. O que procuraram passar com esta iniciativa?

Nós já tínhamos, e mantivemos aqui em parceria com o CITEVE no Modtissimo Talks, a questão da apresentação das tendências. Tivemos, acho que pela primeira vez, quatro grandes difusores, quatro organizadores especiais dessa área. Mas, desta vez, fomos enriquecidos no espaço CITEVE com as iTechStyle Talks, onde acho que se discutiram assuntos que também são muito importantes para o futuro. Que era uma dimensão que não existia no Modtissimo. É importante que o Modtissimo tenha também essa dimensão de fórum onde se discutem problemas importantes para a indústria, aproveitando o facto de estar muita gente a expor e muita gente a visitar.

Em cada edição têm procurado trazer algo de novo. O que ambicionaria para a próxima?

A única coisa que posso dizer é que, como agora temos espaço e já pensamos nisto há uns anos, mas na altura não havia espaço possível, vamos verificar se há interesse, que em tempos houve, em criar uma secção de têxteis-lar. Não sei se já em setembro, se só em 2023, mas vamos começar a pensar nisso, verificar se há interesse. Houve uma altura em que havia interesse. Tivemos várias empresas de têxteis-lar que nos pediram para vir, algumas até chegaram a expor, mas eram só duas ou três. Eu diria que se conseguirmos, para começar, umas 10 empresas de têxteis-lar interessadas, acho que vale a pena abrir aqui uma nova área. Vamos ver.

A Associação Selectiva Moda tem a operacionalização do projeto de internacionalização From Portugal. Como tem sido a volta às feiras em 2022?

Começou muito mal em janeiro por causa dos adiamentos que existiram e das anulações da Neonyt e do adiamento da Heimtextil e outras, mas desde o fim de janeiro já fizemos feiras: estivemos na Pitti Bimbo, na Who’s Next,… Depois em fevereiro voltou tudo à normalidade. Claro que a Première Vision em termos de Portugal foi mais ou menos igual, mas, em termos de feira, era praticamente metade daquilo que era em 2019. Eu costumo dizer que, para Portugal, foi bom no sentido de que o nosso impacto foi duplo, porque se tínhamos a mesma presença numa feira que era metade, o nosso impacto, em termos de país, foi duplo. Estivemos na Magic Las Vegas ao mesmo tempo que a Modtissimo, também com bons resultados e, até ao final do ano, não temos notícias de mais nenhum adiamento ou cancelamento.

Quantas feiras têm ainda em agenda para o corrente ano?

Até ao final do ano, temos programadas quase 40 feiras em quatro continentes: Europa, Ásia, África e América do Norte. Também estamos a pensar voltar à América do Sul com a Colômbia, na Colombiamoda em julho.

Este projeto From Portugal termina quando?

No fim de 2022, mas, até por causa dos cortes que existiram, há promessas dos responsáveis de que, já inserido no novo quadro comunitário, vão abrir candidaturas para o segundo semestre. E nós precisamos, com os cortes que tivemos, continuar a adesão das empresas. Não sei se os apoios que temos aprovados chegam até ao fim deste ano. Portanto, estamos a confiar na promessa que fizeram, não só a nós, mas a todas as associações, de que iam abrir já novos projetos inseridos no novo quadro comunitário para apoiar as feiras do segundo semestre. É com isso que estamos a contar também.

E relativamente aos expositores, sente algum receio por parte destes?

Acho que não, acho que há muita esperança e acho que há uma coisa que é importante, que é as pessoas, nomeadamente para essas primeiras feiras lá fora vão com expectativas baixas e, portanto, não é muito estranho, mas é positivo saber que aquilo que eles consideram é que superou as expectativas. Na Première Vision, a maior parte das empresas com quem falei, e já tinha acontecido na Momad e também na Intergift, reconheceram que isto ainda não está como era, mas dizem estar satisfeitos com tudo e que as feiras superam as expectativas que traziam. O feedback é positivo com base nisso, de estarem a superar as expectativas com que chegaram às feiras.

As exportações da ITV registaram uma performance recorde em 2021. Experienciou isso no terreno?

Sim, mas a outra tendência é que, acho eu, as feiras lá fora que se têm feito desde que isto começou têm menos expositores e têm menos visitantes. Mas o que eu tenho percebido é que, embora tenham menos visitantes, os visitantes são mais importantes e são melhores e têm concretizado mais. E isso acompanha, de facto, o que os números dizem em relação às exportações. Se calhar, há menos pessoas a comprar, mas as pessoas que estão a comprar, compram mais. É a explicação que eu tenho para isso. Ainda na Première Vision estive a falar com a Têxtil Manuel Gonçalves que me disse que não parou, e que, mais do que não parar, recebeu encomendas de clientes que não só estavam a aguardar há muito tempo, encomendas muito interessantes, como foram visitados por clientes que vinham com muita vontade de comprar, mais do que noutras edições, em que vão só mais para ver. Aqui já vinham mesmo com muita vontade de comprar. Acho que isso também fez muita diferença.

Quais são as próximas feiras previstas para o From Portugal ?

Ainda no final do primeiro semestre, vamos ter a junção da Techtextil com a Heimtextil, sendo que a Techtextil já não acontece há três anos e, ainda por cima como é a feira da inovação por excelência, digamos assim, acho que está muita gente a depositar muitas expectativas na Techtextil. Por isso é que nós também estamos com um número recorde de expositores previstos para a Techtextil – temos quase 600 m2 de stands, um crescimento de talvez 30% – e estamos convencidos de que vai ser uma feira que vai correr muito bem. Há muita expectativa em relação a esse regresso às feiras na Alemanha para o final de junho. Depois, no segundo semestre, temos a ISPO Munich, que também foi adiada e, agora, quer ficar sempre em novembro, onde não só temos todos os que estavam inscritos para a feira de janeiro, como já temos novos. Estamos a falar de umas quase 40 empresas. E vamos ainda ter a Medica.

Na sequência da pandemia, o From Portugal tem realizado várias participações em plataformas digitais. As feiras online vieram para ficar?

Vamos continuar a manter essas possibilidades. Claro que o feedback que temos, e que achamos que é perfeitamente compreensível, é que elas tiveram mais procura e mais interesse quando não existiam as feiras físicas. O caso da Première Vision, então, é evidente. Todas as empresas que estavam presentes fisicamente eram obrigadas a estar na parte digital, mas não tinham o mesmo acompanhamento que tiveram na vez em que só houve o digital. Isso é um bocado o que está a acontecer. Embora outros marketplaces, que não as feiras digitais propriamente ditas, continuem a ter alguma procura, e temos casos de empresas que estão satisfeitas com isso, diria que o crescimento dessa área vai depender da normalização ou não normalização. Acho que há muitas empresas que estão a ver em que é que dá o regresso às feiras físicas. Se o regresso às feiras físicas voltar a ser o que era, acho que a parte digital não vai morrer, como é evidente, mas vai outra vez reduzir de importância. Não conheço ninguém, e agora menos ainda, que me diga “eu tive tanto sucesso na parte digital que vou deixar de ir às feiras físicas”. Agora, conheço muita gente que se quer manter nos dois terrenos e muito bem.

Vem aí um novo quadro comunitário, que até já deveria ter chegado. Quais são as expectativas do From Portugal?

Estamos à espera que as candidaturas abram para percebermos também se nas candidaturas vem alguma novidade que possamos aproveitar. A nossa ideia era uma linha de continuidade do que temos vindo a fazer, mas também estamos sempre abertos a estas novas possibilidades que existem no meio digital. O nosso negócio principal sempre foi, e há de continuar a ser, a presença e o apoio à presença das empresas nas feiras físicas, mas estamos muito atentos a esta parte digital, às novas ferramentas que existem de marketing, embora estejamos sempre condicionados por aquilo que eles considerarem que é elegível. Dou um exemplo: houve uma altura em que o marketing digital não era elegível, agora é. Vamos ver se continua a ser.

Quantas ações contemplava o último projeto?

Contemplava 80 ações, algumas foram cortadas porque houve um corte transversal de mais de 30% em todos os projetos. Entretanto, este projeto começou em novembro. Começava em setembro, mas conseguimos ainda esgotar o outro projeto com feiras até novembro de 2021, menos a Medica. Portanto, agora temos todas as feiras de 2022, mais duas que sobraram de 2021, mas como lhe digo, com o corte que recebemos e com a adesão das empresas que temos tido, e se continuarmos a ter, estamos à espera de haver um reforço para o segundo semestre.

Quantas empresas participaram?

157 empresas. Em 2019, um ano mais normal, tivemos mais de 250 empresas e quase 80 ações, num orçamento de 13 milhões de euros, que é praticamente o dobro do que temos agora para 15 meses. Quer dizer, não há milagres, como é evidente.

Qual foi o valor do investimento aprovado?

O valor que submetemos era de cerca de 14 milhões para 15 meses, mas com o corte que houve veio para cerca de 55% ou 60%. Por isso é que dizemos que isto está muito bem para um semestre com a adesão normal. Esperamos que no segundo semestre haja o tal reforço prometido de verbas já do próximo quadro. Este projeto vem do quadro de 2020 e nós já estamos em 2022.

A ideia então é contemplar o resto das ações já no novo quadro comunitário?

O nosso objetivo e a nossa esperança, baseada nas promessas que nos fizeram, e repito que não estamos a falar só da Associação Selectiva Moda nem da ATP, estamos a falar do conjunto das associações todas que concorrem à internacionalização, é que, para o segundo semestre, se tivéssemos esgotado o plafond anterior, já iria haver a possibilidade de ter apoios incluídos no novo projeto do novo quadro. É isso que estamos à espera.