Presente na mais recente edição do Modtissimo, a que chama «o ponto de encontro do sector», Cristina Terra Motta deu conta ao Portugal Têxtil da retoma que as feiras da Messe Frankfurt estão a sentir, como aconteceu na Techtextil, vocacionada para os têxteis técnicos, na Texprocess, focada nas tecnologias de processamento de têxteis e materiais flexíveis, e na edição especial da Heimtextil, dedicada aos têxteis-lar, mas também dos ajustes que estão a ser feitos no calendário e até no conteúdo de feiras como a Ambiente. Há ainda, por parte das empresas nacionais, um crescente interesse por certames no outro lado do Atlântico.
Como está o clima das feiras da Messe Frankfurt?
Tem havido uma clara recuperação. No caso daquela trilogia Techtextil, Texprocess e edição especial da Heimtextil, as feiras correram muitíssimo bem. A Techtextil e a Texprocess decorreram com normalidade, houve empresas que ficaram espantadas com a quantidade de contactos que tiveram, que foi ao nível das primeiras em que participaram. Aquela feira em que tínhamos alguma dúvida era precisamente a dos têxteis-lar, na medida em que era uma edição especial com muito menos expositores. Houve muitas empresas que hesitaram e optaram depois por não participar, mas aquelas que participaram claramente ganharam, não só porque muitas outras concorrentes não estavam presentes, mas também porque, como a feira foi mais pequena, foram mais procurados e, devo dizer, para a esmagadora maioria das empresas que esteve na Heimtextil, a feira correu muito acima das expectativas delas. O que para mim também foi muito reconfortante perceber que as empresas tinham feito a aposta certa.
Face à presente conjuntura, sente alguma retração na adesão dos expositores à Heimtextil 2023, a próxima grande feira?
Numa perspetiva global, quais são as expectativas para 2023?
As perspetivas para 2023 são muito boas. Na Heimtextil está tudo a decorrer normalmente, mas vai haver algumas alterações noutras feiras, haverá algum reajustamento, porque há, claramente, sectores para os quais as feiras deixaram de ter a importância que tinham. Mas não é o caso para a ITV portuguesa, que é fabricante de grandes quantidades em private label, pelo que estas feiras são importantíssimas. Penso que as próprias feiras, provavelmente, vão ter que repensar o seu papel face à indústria europeia. Já não podemos considerar que são feiras para a indústria alemã, são claramente feiras para a indústria europeia e para a indústria mundial. Por exemplo, costumávamos ter, no final de janeiro, três feiras que decorriam em paralelo: uma dedicada a artigos festivos e artigos de Natal, a Christmasworld; outra de artigos de papelaria; e uma outra de artigos para trabalhos manuais, hobbies e artes. Num passo estratégico da Messe Frankfurt, a de artigos de papelaria, escolar e de escritório foi integrada na Ambiente [dedicada à casa] e foi criado um novo sector, para além do Dining, do Living e do Giving, chamado Working. É um bocadinho também reflexo da pandemia, a questão das pessoas trabalharem cada vez mais em casa, pelo que, no fundo, tem a ver com os artigos para a casa. E as outras duas, a dos artigos festivos e a dos artigos para hobbies, passam a realizar-se em paralelo com a Ambiente. Já no caso da Neonyt, a Messe Frankfurt cedeu a licença da feira B2B à Igedo, de Düsseldorf, e, por isso, já não é representada por nós. Vai realizar-se em paralelo com a Fashn Rooms, em Düsseldorf. Em Frankfurt mantém-se o formato B2C e a conferência Fashion Sustain, que continua a ser organizada pela Messe Frankfurt e terá lugar por ocasião por algumas das feiras internacionais da Messe Frankfurt, como, aliás, já aconteceu no passado.
Para além da novidade da Ambiente, que também vai ser mais cedo – vai passar a ser no princípio de fevereiro e não em meados de fevereiro –, neste momento estamos a retomar projetos pré-pandemia, como, por exemplo, a Texworld e a Apparel Sourcing New York. São feiras que, tradicionalmente, também são de empresas asiáticas, mas, no entanto, se pensarmos, por exemplo, na área da confeção em termos europeus, provavelmente, Portugal é dos países mais significativos. Quando pensamos no produto europeu, tendemos a esquecer-nos que somos os mais importantes e, de facto, estamos a trabalhar no sentido de ter um pavilhão de Portugal numa posição de destaque nessa feira, com marketing e comunicação nesse sentido. As feiras de Nova Iorque são interessantes porque se realizam no Javits Center, ou seja, num recinto que é próprio precisamente para feiras. Embora saibamos que, nos EUA, as feiras não funcionem como funcionam na Europa, sinto uma apetência muito grande das empresas portuguesas para com o mercado dos EUA e Nova Iorque como porta de entrada. A Messe Frankfurt tudo fará para dar esse apoio e ajudar nessa tarefa de consolidar e de entrar no mercado americano. Há coisas que, por vezes, retraem as empresas nacionais de participarem em feiras onde também estão empresas asiáticas, como a Texworld. A Texworld em Paris é muito associada àquilo que aconteceu há 20 ou 30 anos, em que a feira foi constituída numa altura em que a Première Vision pura e simplesmente não aceitava asiáticos. A Messe Frankfurt comprou uma feira que, essa sim, era das empresas asiáticas, que decorria paralelamente à Première Vision, mas tudo mudou.
Nos outros continentes, nomeadamente na Ásia, como tem sido o regresso ao novo normal?
No Japão, nomeadamente com a Interior Lifestyle Tokyo, penso que as coisas estão agora a começar. Estamos também a trabalhar no sentido de voltar a ter uma participação portuguesa nessa feira. Na China ainda está muito complicado em termos de restrições, confinamentos e quarentenas, portanto, aí ainda vamos ter que perceber como vai ser o ano de 2023.