As marcas dinamizam as suas criações

A pressão das compras de produtos de luxo, o endurecimento da concorrência, assim como a grande lufada de rejuvenescimento que atinge o mundo das marcas – da Burberry à Christian Dior, levam as maisons a re-dinamizar a sua direcção artística. O objectivo é reforçar a imagem e oferecer um conteúdo criativo mais incisivo aos produtos. O último exemplo desta renovação vem da Hermès, uma verdadeira instituição no mundo do luxo, que acaba de confiar ao “enfant terrible” da moda Jean-Paul Gaultier, a criação da sua moda feminina de prêt-à-porter, até agora assegurada por Martin Margiela. Este criador, que assumiu o lugar há seis anos, não vê assim o seu contrato renovado e deverá então abandonar as suas funções já no próximo mês de Outubro. «Esta escolha parece-me inteiramente natural. A criatividade e a fantasia de Jean-Paul Gaultier serão para a Hermès um formidável trunfo para dar vida a essa elegância de movimento que caracteriza o estilo do nosso prêt-à-porter», declara Jean-Louis Dumas, presidente do grupo Hermès. A primeira colecção de prêt-à-porter Hermès, desenhada por Jean-Paul Gaultier para o Outono-Inverno 2004-2005, será apresentada em Março de 2004, durante a época dos desfiles parisienses. Para Martin Margiela, cuja discrição legendária contrasta com a personalidade muito mediática do seu sucessor, o desfile Hermès de Outubro de 2003 (para a Primavera-Verão 2004) será a ocasião de expressar uma última vez esse sentido do luxo sem ostentação, que ele soube tão bem mostrar ao longo destes seis anos de colaboração. Sem dúvida que a prestigiosa maison parisiense pretende infundir um novo dinamismo aos seu prêt-à-porter feminino, pois as suas vendas globais em prêt-à-porter (14% do volume de negócios total) sofreram em 2002 uma ligeira baixa, sem que se saiba qual a parte a imputar ao feminino e ao masculino (desenhado por Véronique Nichanian). O comunicado de imprensa da Hermès revela que «Jean-Paul Gaultier está bastante entusiasmado com a ideia desta nova aventura, que o apaixona como exercício de estilo enquadrado nesta bela maison, respeitosa de uma certa tradição e notabilizada pela sua constante procura da excelência». Oficialmente, as novas responsabilidades de Jean-Paul Gaultier na Hermès não deveriam alterar em nada as suas actividades no seio da sua própria maison. No entanto, é bem provável que o criador muito prolixo seja obrigado a reforçar a sua equipa de criação. Além da haute couture, doravante designada Gaultier Paris, e das colecções de prêt-à-porter de Jean-Paul Gaultier para homem e mulher, a sociedade assegura ainda a criação da linha Jpg Jeans, explorada sob licença, assim como a colecção de marroquinaria, de jóias e de lenços, trabalhadas em directo. Inversamente, Martin Margiela, que consagrava pelo menos dois dias por semana ao seu trabalho na Hermès, estará de agora em diante completamente livre de criar exclusivamente para a sua marca. A compra da participação maioritária da Maison Martin Margiela em Setembro último, pelo italiano Renzo Rosso, presidente-director geral e fundador da Diesel, deverá traduzir-se por um desenvolvimento das actividades desta. «Temos projectos, nomeadamente no que diz respeito ao lançamento de novos produtos», confirma Patrick Scallon, director de comunicação do grupo Neuf-Maison Martin, detentor da marca. «Utilizamos este primeiro ano para implantar a nossa estratégia de desenvolvimento para os próximos cinco anos. Poderemos adiantar informações mais concretas durante o Verão», acrescenta, em conformidade com o que tinha sido anunciado aquando da chegada do novo accionário. Para já, Martin Margiela anuncia a sua intenção de apresentar já no próximo mês de Outubro – com saída em botique para Janeiro – uma nova colecção de vestuário feminino, baptizada “le 4”. Trata-se mais exactamente de uma selecção restrita de peças marcadas por um certo classicismo, que combinam o lado clássico masculino do espírito Margiela com um estilo feminino mais fluído.