
No ano em que a Universidade da Beira Interior (UBI) celebra as suas primeiras duas décadas de actividade, e no qual irá implementar o novo paradigma de ensino-aprendizagem subjacente ao Processo de Bolonha, o seu Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis (DCTT) prossegue a sua missão ao nível do ensino, da investigação e da prestação de serviços à comunidade nas áreas têxtil e de vestuário. Depois de ter sido pioneiro com o curso de Engenharia Têxtil, cujos licenciados muito têm contribuído para o desenvolvimento e modernização das empresas, o DCTT foi também inovador com a criação em 2000/2001 da licenciatura em Design Têxtil e do Vestuário. «Com este curso pretendemos que se valorize nas empresas as áreas da criação e desenvolvimento de produtos e da relação com o mercado, porque entendemos que o futuro da ITV passará também seguramente pelo investimento nestas áreas», afirma Rui Miguel, presidente do DCTT. «Neste âmbito, é fundamental que os alunos, e a comunidade em geral, tenham acesso à apresentação de temas multidisciplinares, de base cultural, para fomentar e apoiar a discussão criativa que conduz à inovação». Deste modo, as”II Jornadas Internacionais de Arte & Moda da UBI”, a realizar nos próximos dias 9 e 10 de Maio, pretendem dar um precioso contributo neste sentido. Organizadas pelo DCTT, estas jornadas contam com a participação confirmada de 13 reputados conferencistas de Espanha e Portugal. Com assistência gratuita, destinam-se particularmente aos alunos e professores da licenciatura em Design Têxtil e do Vestuário da UBI, mas também aos profissionais das empresas de moda (têxtil e vestuário) que procuram insistentemente alicerçar culturalmente as suas fontes de inspiração e todos aqueles que se interessem pela temática das relações entre a arte e a moda. Esta será também uma óptima oportunidade para os estudantes do ensino secundário confirmarem as suas vocações para a área da moda, bem como para todos aqueles que de uma forma ou de outra se relacionam com temas culturais. «Nestas segundas jornadas internacionais de Arte & Moda pretende-se entender o vestuário e o fenómeno da moda numa perspectiva artística e estética, mas também sociológica e antropológica», explica Rui Miguel. «Para verificar como a roupa está ligada às dimensões e convicções mais profundas do carácter humano, ao humor, e reflecte maneiras de ser e estar ou pode servir de elemento simbólico para a construção da própria condição social e da identidade individual e colectiva». Com efeito, este encontro de carácter multidisciplinar procurará apresentar a moda não como um simples fenómeno frívolo, epidérmico ou superficial mas como um espelho de hábitos, de comportamentos físicos e psicológicos, individuais e colectivos, de profissões ou orientações políticas e religiosas e de gostos individuais: A moda e o vestuário, como fenómenos sociais, são das melhores referências para entender o carácter e o espírito de um povo ou de uma época e a razão porque num determinado momento se usa um tipo de roupa e não outro. A moda limitada ao vestido ou aplicada a todo o produto social pode ser pensada como um conjunto de técnicas e saberes que se operam sobre o corpo e o transformam em corpo produtivo e domesticado. Na sociedade que Foucault chamou de “disciplinária”, o mecanismo da moda exige que o corpo seja, entre outras coisas, útil, um corpo consumidor. É nesta relação entre valores estéticos, de consumo e valores culturais associados aos interesses económicos que o fenómeno da moda desperta certamente o interesse académico.