Arco Têxteis:

O contexto da forte concorrência enfrentada pela ITV a nível mundial, o investimento na qualidade apresenta-se como uma das possíveis vencedoras respostas nacionais. O Jornal Têxtil falou com Alfredo Rezende, administrador da Arco Têxteis, que descreveu o processo e as vantagens do avultado investimento que a empresa realizou. JT- Comecemos pela história da empresa… Alfredo Rezende – A Arco Têxteis é a sede social de várias associadas: a Fábrica do Arco, que se dedica à produção de energia eléctrica e vapor e que abastece a unidade Arco Têxteis, a Arco Fio que é uma fiação nova, entrou a laborar a partir de finais de Julho e também tem a Arco Tinto que vai ser uma sociedade que deve arrancar a sua produção no mês de Novembro e vai-se dedicar à tinturaria de fios para uso interno e externo. É uma tinturaria completamente nova, o edifício foi construído aqui nas instalações, porque tem necessidade de usar a água tratada, nós temos instalações de tratamento de água e afluentes. JT – A tinturaria de fio na Arco-Têxteis vai continuar a funcionar? AR – Vai ser substituída por esta nova tinturaria. Vamos ficar com excesso de capacidade de tinturaria e fio, pelo que iremos vender fio-tinto, fio com valor acrescentado mais elevado. JT – A reorganização do grupo Arco Têxteis contou com o apoio do IMIT- de um dos maiores projectos deste programa- em que a Arco Têxteis e a Arco Fio estão envolvidas? AR – Sim. Os processos estão na conclusão final, alguns já estão fechados em termos formais e representam um investimento muito elevado. No conjunto global o investimento é de cerca de 10 milhões de contos. Este projecto em determinada altura foi dividido porque houve interesse em constituir estas duas unidades. A Arco-Fio é uma unidade que está fora desta área geográfica, é uma sociedade que está localizada a cerca de 4 km deste edifício, numa zona que foi considerada zona industrial, num terreno que teve de ser comprado e o edifício teve de ser construído de raiz. JT – Quais foram as grandes áreas de intervenção do IMIT ? AR – Na Arco Têxteis houve uma remodelação numa das fiações existentes e intervenções na área da tecelagem onde e acabamentos onde foram compradas máquinas de tecer modernas para substituir máquinas que foram abatidas, teares mais antigos que foram substituídos por teares com tecnologia mais desenvolvida, como os teares de jactos de ar e de pinças, com uma tecnologia mais recente. Também se investiu em novas máquinas de urdir, visto que o mercado compra teias cada vez mais pequenas, portanto menos quantidade de tecido por desenho. E temos que ter uma resposta rápida porque o mercado o exige. Antigamente tínhamos encomendas para três meses e hoje estamos a trabalhar para 4 ou 6 semanas. As grandes encomendas são colocadas em países do Oriente com mão de obra mais barata. Nós temos que oferecer uma boa qualidade e um serviço muito rápido. Por isso investimos na qualidade e nos acabamentos. JT – Quais os problemas da procura que encontraram? AR – Houve sobretudo uma tendência da moda que preferia os artigos lisos em detrimento dos artigos «tintos» em fio. Nós temos dificuldades em concorrer nos artigos lisos, com telas que se compram muito baratas em qualquer país e depois são tingidas, e saiem a preço baixo. Nós não estávamos preparados para esse tipo de trabalho, e não conseguimos ter capacidade de resposta relativamente às quantidades pedidas. Estamos a investir agora para nos precavermos para estas alterações do mercado. JT – E as matérias-primas? AR – Existe uma degradação no preço das matérias primas, e que a partir de 11 de Setembro continua a agravar-se. Nunca julguei possível ver cotações do algodão tão baixas como actualmente. A procura é inferior à oferta, e é um caso paradoxal pois o consumo de têxteis em geral tem subido, mas há um excesso de produção de algodão, fruto das evoluções tecnológicas e alterações genéticas na planta do algodão- por exemplo para ficarem mais imunes aos agentes naturais como as pragas, e assim tem subido o rendimento por hectare. JT – O tecido da Arco passará a ser de melhor qualidade. Há algum especial cuidado na compra do algodão? AR – É claro que sim. Fazemos uma selecção muito rigorosa das ramas que compramos, primeiro porque somos os principais utilizadores do fio que produzimos, e como vendemos fio para a indústria de malhas, que requer fio com características especiais, com bom toque, etc. Tem que se preferir países em que a recolha do algodão seja mecânica, pois na manual há tendência para utilizar sacos ou cordas que depois no processo de descaroçamento podem contaminar o algodão. Para prever estes problemas temos na nossa fiação sistemas que detectam matérias estranhas, quer na abertura dos fardos, quer na bobinagem. Só se a matéria estranha for da cor do algodão é que fica indetectável. JT – Qual o destino do novo fio da Arco Fio? AR – Vai ser muito para consumo interno. Vai haver produção para camisaria, para vestuário exterior que vai permitir aos utilizadores deste tipo de fio uma maior definição da cor, o artigo vai ter um aspecto mais limpo, e como o sistema de fiação é inovador, pois as fibras entram paralelas no trem de estiragem de continuo e há uma aspiração no processo de fiação em que as fibras que não são incorporadas são imediatamente excluídas do sistema, o que leva a que o fio tenha um aspecto mais de filamento do que um fio fiado. A resistência deste fio compacto é muito superior. É a segunda geração da máquinas da Rieter que equipa esta unidade, o K44, sendo a primeira fiação inaugurada com este sistema no mundo. O sistema na bobinagem beneficia de um sistema de depuração que detecta os pontos grossos e finos, e tem o processo óptico que detecta as contaminações. É a primeira vez que surge um depurador que simultaneamente abrange a área capacitiva ou física e a óptica. Há ainda uma operação importante que é o comportamento do «splicer» destas máquinas, quando há uma ruptura, a máquina faz uma emenda e é imperceptível e a resistência fica muito semelhante na emenda. E como todo o sistema de fiação é em continuo, não há o problema de misturas de um tipo de fios de uma máquina para outra. A fiação tem ainda a vantagem de poder trabalhar com duas misturas de ramas simultaneamente, o que dá imensas vantagens. A fiação tem 10 contínuos, cada continuo tem 1008 fusos, o que fica com uma capacidade total de 10.080 fusos e trabalha a 17.000 rotações por minuto. Como o fio é mais resistente e regular, permite atingir velocidades muito altas nos teares, o que permite um aumento da produção. O próprio ar condicionado foi concebido especificamente para este tipo de tecnologia de fiação. Encontramos no mesmo salão diferentes graus de humidade e diferentes níveis de temperaturas consoante a localização das máquinas. JT – E os clientes dos sectores das malhas? AR – As malhas vão ter que se convencer que o fio tem interesse, vai ser o cliente final que lhes vai começar a pedir o artigo. Se a malha for bem acabada, comparando malha produzida com este fio, o aspecto final da malha é mais limpo, tem mais brilho e com um toque mais agradável, e é uma malha com uma textura mais cheia. Mas será o mercado que irá pedir isso, como há um mercado com tendências para a baixa, é complicado introduzir artigos topo de gama. Sabendo que as nossas empresas de confecção estão a ser pressionadas pela concorrência com preços baixos, há que subir na qualidade e no valor acrescentado, e dispor deste fio de qualidade vai permitir-lhes ter uma oferta melhor junto dos seus clientes. Nós estamos a vender