Alterações climáticas ameaçam algodão

As alterações climáticas estão a ter um forte impacto na produção de algodão, com as inundações devastadoras no Paquistão a deverem provocar uma grande redução na colheita da época 2022/2023, ao mesmo tempo que a seca no Texas Ocidental, nos EUA, está a prejudicar gravemente a safra na região.

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As cheias estão a devastar o Paquistão, tendo matado já cerca de 1.200 pessoas e afetado profundamente o país, com pelo menos 33 milhões de pessoas, ou 15% da população, lesadas, com as primeiras estimativas a apontarem para um prejuízo de 10 mil milhões de dólares (aproximadamente o mesmo em euros) em edifícios, infraestruturas, agricultura e gado.

A colheita de algodão estará, igualmente, severamente prejudicada, sendo que o país é, atualmente, o quinto maior produtor mundial da fibra, tendo exportado 3,4 mil milhões de dólares de algodão em 2021 e sido responsável por aproximadamente 6% da oferta mundial, de acordo com os dados da Comtrade das Nações Unidas. É ainda o segundo maior produtor de Better Cotton, a seguir à Índia, fornecendo algodão considerado sustentável a grandes marcas e retalhistas internacionais, como a Gap, a H&M e a Zara. Estima-se que 1,5 milhões de agricultores cultivem algodão, contribuindo com 0,6% do PIB do Paquistão, a maior parte concentrados nas províncias do Punjab e Sindh, onde as águas estão ainda em níveis elevados.

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«O impacto na colheita de algodão não poderá ser completamente avaliado até que o nível de água baixe, mas fontes no terreno estão a reportar uma grande redução na colheita esperada para a época 2022/2023», aponta o International Cotton Advisory Committee (ICAC), que reviu em baixa as estimativas de produção para o Paquistão, «de 1,5 milhões de toneladas para um milhão de toneladas».

Seca nos EUA

Ao mesmo tempo, nos EUA, os efeitos na colheita de algodão no Texas têm sido devastadores, avança o ICAC, antevendo uma redução superior a um milhão de toneladas face à época anterior. «Isso coloca a atual colheita nos EUA em pouco mais de 1,7 milhões de toneladas. E embora a região do Texas Ocidental tenha tido uma boa quantidade de chuva nas últimas semanas, a precipitação veio demasiado tarde para ajudar a terra seca do algodão – e se as flores estiveram abertas nos campos irrigados, pode significar problemas na qualidade», sublinha a entidade internacional.

Tendo tudo isto em conta, o ICAC prevê que os preços médios da época 2022/2023 para o chamado A Index varie entre os 0,99 dólares e os 1,57 dólares por libra, com um ponto médio de 126,95 cêntimos de dólar (quase 1,27 dólares).

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O ICAC destaca ainda que «globalmente, vemos uma continuada volatilidade e potencialmente preços mais altos ao longo de toda a época 2022/2023».

Transição necessária

A ameaça do clima à produção de algodão vai continuar a aumentar, de acordo com uma análise aos riscos climáticos revelada no ano passado. No pior cenário possível, todas as regiões produtoras de algodão vão enfrentar um risco acrescido de pelo menos um perigo climático até 2040, indica a empresa de avaliação de risco climático Acclimatise, citada pelo Sourcing Journal.

O estudo estimava que quase metade de todo o algodão terá uma maior exposição à seca, enquanto 60% será cada vez mais ameaçado por ventos fortes. Pelo menos três-quartos das regiões que cultivam algodão irão enfrentar um risco acrescido a ondas de calor e todas terão de estar preparadas para uma maior incidência de incêndios. As regiões que serão mais afetadas, enumera o estudo, deverão ser o noroeste de África, incluindo o norte do Sudão e o Egito, e o oeste e sul da Ásia.

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«Esta análise é uma chamada de atenção para a indústria do algodão, do qual grande parte do sector de vestuário é atualmente muito dependente», sublinha Sally Uren, CEO do Forum for the Future, do qual a Acclimatise é parceira no âmbito da plataforma Cotton 2040 para o cultivo sustentável de algodão. «Para criar resistência para um futuro altamente disruptivo e incerto, tem se ser impulsionada uma mudança generalizada para formas sustentáveis de cultivo de algodão, através de uma ação alinhada e ambiciosa para reduzir as emissões de carbono, ao mesmo tempo que prepara a indústria para operar num mundo muito diferente», conclui.