Depois de três anos em que os resultados foram afetados por condições climatéricas desfavoráveis provocadas pelo fenómeno La Niña, as perspetivas para a colheita de algodão estão a melhorar, afirma Antonia Prescott, editora da Cotton Outlook, a publicação dedicada à indústria do algodão, numa entrevista ao Sourcing Journal.
Nos últimos 12 meses, as colheitas nos EUA não foram as melhores e os especialistas não estavam otimistas sobre quando poderia haver uma mudança. Contudo, se as condições permanecerem favoráveis, segundo Antonia Prescott, a colheita americana será de 16,5 milhões de fardos este ano, em comparação com 14,5 milhões de fardos na época do ano passado.
A Austrália e o Brasil também recuperaram, com uma produção de 5,5 milhões de fardos e 3 milhões de fardos, respetivamente. No caso do primeiro, o número é mesmo um recorde.
O maior problema do Paquistão no último ano não foi a seca, mas as cheias em agosto do ano passado, que levaram a uma destruição generalizada no país, incluindo das plantações de algodão. Ainda assim, o país, que é o quinto maior produtor mundial da fibra, deverá sair, neste âmbito, relativamente ileso, e as perspetivas são boas, uma vez que o algodão recuperou terras que tinham sido dedicadas a outras culturas.
A Índia, por outro lado, está agora oficialmente em queda, de acordo com Antonia Prescott. Tem a maior área plantada, entre 11,5 e 13 milhões de hectares, mas padrões climáticos diferentes estão a causar incerteza em relação ao tamanho da colheita. A chuva é normalmente pouco certa, mas uma época das monções tardia está a aumentar o problema.
A produção na Índia é medida pela quantidade de algodão entregue semanal ou diariamente às empresas de descaroçamento, que atinge habitualmente picos e depois estabiliza. Não houve nenhum pico este ano, levando os observadores a preverem um declínio na quantidade total que nunca se materializou. A colheita total na Índia nesta época foi de 30 milhões de fardos indianos, que pesam 170 quilos (os fardos americanos pesam 226,8 quilos).
A Índia tem a pior produtividade entre os principais produtores de algodão, refere a editora da Cotton Outlook, que atribui isso à qualidade da semente. Os agricultores usam sementes indianas geneticamente modificadas, que contêm muitas sementes contrafeitas que têm um impacto negativo na colheita. Segundo Antonia Prescott, não seria necessário fazer muitas alterações para melhorar a colheita em 13 milhões de hectares, que é o objetivo da recente agência governamental Textiles Advisory Group, cuja primeira missão é exatamente resolver o problema das sementes.
Preços estabilizam
Os preços caíram em novembro do ano passado para um valor entre 0,97 e 1,05 dólares por libra, de acordo com o A Index. Para Antonia Prescott, a questão é a pressão tanto dos custos para os agricultores da mão de obra e energia, estes últimos exacerbados pela invasão da Ucrânia, que levaram à escassez de combustíveis e fertilizantes, como, do lado dos retalhistas e dos consumidores, uma diminuição da procura, sobretudo na Europa e nos EUA, que são os principais mercados de consumo de vestuário.
Os preços nas fiações estão baixos e a cair, refere a editora da Cotton Outlook, mas os intermediários ainda estão a fazer negócio enquanto esperam que o impasse termine.
Contudo, acredita Antonia Prescott, há uma mudança inevitável. As enormes colheitas da Austrália e do Brasil vão, eventualmente, chegar ao mercado e vai começar a haver uma estabilização, seguindo «as regras normais da oferta e da procura».