A indústria têxtil e de vestuário indiana precisa de evoluir e adaptar-se rapidamente para superar as mudanças da procura nos seus principais mercados de exportação, afirmaram os delegados na conferência têxtil que decorreu no início do mês em Nova Deli. A Texcon 2012 Novos Paradigmas para a Indústria Têxtil, organizada pela Confederação da Indústria Indiana e pelo Ministério dos Têxteis, destacou vários novos desafios enfrentados por esta indústria de 91 mil milhões de dólares (75,28 mil milhões de euros). SP Oswal, presidente da Vardhman Textiles, revelou que cada vez mais compradores de têxteis e vestuário nos EUA e na Europa estão a avaliar a escala de operações de um país e não apenas empresas individuais. Por exemplo, indicou, o top 10 de países fornecedores dos EUA em 2011 representou 80% das suas importações têxteis e de vestuário, em comparação com 54% (62% em termos de volume) em 2003. Para a Europa, o número eleva-se a 90% em termos de volume, o que indica uma clara mudança nas estratégias de aprovisionamento dos compradores. De acordo com Oswal, este desenvolvimento pode colocar um grande desafio para as empresas indianas. «Apesar de as empresas isoladamente estarem a conseguir a excelência, não iremos atrair os consumidores particulares até haver um cluster de fornecedores que se veja», advogou. «Por isso temos de desenvolver toda a relevância do país em termos de tamanho e escala nesses produtos», acrescentou. Oswald sublinhou ainda que a Índia já demonstrou as suas capacidades nos têxteis-lar, onde é a maior exportadora com uma quota de 2 mil milhões de dólares no mercado mundial, avaliado em 15 mil milhões de dólares. Competitividade de produção Em termos de políticas, houve claros desentendimentos entre os delegados da indústria e responsáveis do governo quando tentaram identificar as mudanças necessárias para melhorar a competitividade da ITV na Índia. Um dos problemas é a rígida legislação laboral do país, que proíbe a contratação e despedimento de trabalhadores, o que as empresas veem como um sério impedimento ao aumento de capacidade, e que os delegados fizeram questão de destacar. Contudo, com os sucessivos governos indianos a terem sido incapazes de agir ou aplicar quaisquer reformas laborais na última década devido a uma séria oposição política, os responsáveis governamentais na conferência recusaram juntar-se ao debate. Simplesmente advertiram a indústria para se centrar noutras áreas onde possam melhorar a eficiência. Kiran Dhingra, secretário do ministro dos têxteis, sugeriu que «pequenas empresas isoladas em áreas diferentes deviam colaborar como clusters para conseguirem economias de escala, aumentar os volumes, níveis de eficiência, melhoria da tecnologia e melhores técnicas de design». Também Prashant Agarwal, diretor-geral conjunto da consultora Wazir Advisors, argumentou que a indústria têxtil indiana exige um investimento significativo através de joint-ventures internacionais, melhoria de capacidade, aumento da produtividade e geração de volume de negócios ao centrar-se no crescente mercado interno. Agarwal desafiou as empresas com marcas a trabalhar com negócios não incorporados, usando-os como tecelagens ou confecionadores subcontratados. Agarwal afirmou ainda que os atrasos no aprovisionamento e a falta de design e desenvolvimento de produto estão a deter os compradores estrangeiros de se aprovisionarem na Índia. «As empresas indianas operam num modelo corte e cose, com apenas algumas a terem as suas próprias criações de design», explicou. E é evidente que a procura interna está a aumentar as importações indianas de têxteis estão a crescer e atingiram os 110 milhões de dólares em 2010, com um crescimento constante desde 2006, quando eram apenas 48 milhões de dólares. Entretanto, no ano fiscal terminado em março de 2012, a quota do setor nas exportações totais do país caiu para 11%. Também para todos os produtos têxteis e de vestuário, a Índia importou 2,69 mil milhões de dólares em 2010, segundo um relatório da consultora indiana Alok Industries Ltd a partir de fontes oficiais. E foram importados 646 milhões de dólares de artigos têxteis confecionados e vestuário excluindo fibras e teias no ano fiscal de 2012, segundo os dados provisórios do Ministério do Comércio. De acordo com Oswal, «a produtividade indiana na fiação é boa, na tecelagem é média, mas na produção de malhas, processamento e confeção estamos definitivamente mais em baixo e precisamos de melhorar». Boas perspetivas Apesar de tudo isto, e mesmo face às difíceis condições económicas em todo o mundo, alguns oradores têm boas perspetivas para a indústria indiana. Gautam Nair, diretor-geral da empresa de exportação de vestuário Matrix Clothing, afirmou que os exportadores indianos podem receber mais encomendas se baixarem os custos e acelerarem os tempos de entrega, já que os importadores nos EUA e Europa (que representam 27% e 50%, respetivamente, das exportações têxteis indianas) estão preocupados que os fornecedores chineses não consigam entregar com preço e prazos. E defendeu que os produtores indianos não se devem necessariamente preocupar com outros centros de confeção de vestuário como o Bangladesh, Vietname e Camboja. Nair considera que, sendo pequenos países, têm um potencial de crescimento reduzido e estão muito dependentes do algodão importado. Em comparação, sublinhou, o «nível de risco de lidar com empresas na Índia é menor porque há integração vertical entre produtores de vestuário, produtores de tecidos, produtores de fios e produtores de algodão».