Adalberto mantém-se na senda do crescimento

A Adalberto conseguiu crescer no segundo trimestre do corrente ano, mas o aumento dos custos e os entraves decorrentes da guerra com a Ucrânia ditam prudência para os tempos que se avizinham.

César Lima

Se em fevereiro, a última vez que falou com o Jornal Têxtil, se mostrava «super otimista», César Lima, CEO da Adalberto, confessa que está atualmente menos positivo, face ao desenrolar dos acontecimentos. «Não estava a contar com a guerra, não estava a contar que os preços de tudo aquilo que são matérias-primas e energia disparassem de uma forma completamente irracional numa fração de dias», explica.

Estes aumentos acresceram aos desafios de uma empresa como a Adalberto, levando a «repensar os nossos processos, a forma como trabalhamos, sempre com o objetivo de melhorarmos e de conseguirmos tornar-nos mais eficientes. É como a concorrência. Se estivéssemos sozinhos no mercado, não tínhamos essa preocupação. Esta crise teve um bocadinho o mesmo efeito, forçou-nos a pensar os nossos processos, tornou-nos mais eficientes, forçou-nos a reduzir margens também», indica.

Hugo Miranda e Joana Oliveira

Não obstante, a inovação mantém-se como tónica e, na mais recente edição da Première Vision, a empresa especializada em tinturaria e estamparia mostrou alguns dos desenvolvimentos feitos com recurso a inteligência artificial. Com o tema do metaverso como inspiração, «quisemos impactar todos os nossos clientes, e visitantes da feira, com uma coleção totalmente desenvolvida através de inteligência artificial e machine learning», afirma Joana Oliveira, diretora de marketing e comunicação da Adalberto. «Há algum tempo que temos vindo a desenvolver algoritmos matemáticos de inteligência artificial e machine learning em projetos internos da empresa. O que tentamos criar agora foi um sistema para meter no nosso pipeline de produção para dar um suporte extra de criatividade aos nossos designers. Por isso, temos uma coleção em que trabalhámos de três formas: de forma totalmente autónoma, em que os algoritmos dão um output de imagens; um trabalho de parceria entre o designer e os algoritmos, em que os designers fornecem palavras-chave, cores e imagens, por exemplo, e depois os algoritmos trabalham esses inputs e criam imagens novas; e em forma de machine learning, em que são fornecidas imagens e são solicitadas imagens parecidas», esclarece Hugo Miranda, diretor de inovação da Adalberto.

Segundo semestre cauteloso

Desenvolvimentos que têm contribuído para os bons resultados da empresa que, apesar dos desafios, teve um segundo trimestre que «até nos correu bastante bem. A nível de faturação, superou aquilo que tínhamos previsto», revela o CEO.

Segundo César Lima, «o objetivo para este ano era bastante mais ambicioso do que aquilo que tinham sido as vendas no segundo trimestre de 2021 e, mesmo assim, conseguimos estar acima dessas projeções. Estamos a falar de um crescimento de vendas bastante razoável», na ordem dos 20% a 25%.

Para o resto do ano, «sinceramente estou muito preocupado» com o abrandamento das encomendas sentido pelos clientes no mercado interno, confessa o CEO. «Vivemos um bocadinho dois mundos. Temos algumas marcas que estão em expansão e conseguem estar acima daquilo que seria uma previsão normal de vendas, mas também temos algumas mensagens de algumas confeções que sentem que há algum abrandamento no ritmo, na sua taxa de ocupação e no seu planeamento em termos de carteira de encomendas. Portanto, isto leva-nos naturalmente a estarmos preocupados porque estamos dependentes, em alguma parte, também do trabalho dessas empresas», justifica.

No que diz respeito aos desafios atuais no país, as questões da energia e da legislação laboral são as mais prementes para o CEO. «Os preços elevados da energia, que toda a indústria transformadora nota, vão ser absorvidos, em parte, mas também repassados ao longo da cadeia de valor, o que vai retirar competitividade ao país em si», aponta. «Há também questões de legislação laboral que merecem a atenção do Governo, merecem alguma ponderação do que é que faz sentido, de como é que nós, uma empresa industrial, conseguimos motivar os nossos trabalhadores com prémios quando, muitas vezes, ao darmos um prémio, vamos complicar a situação fiscal do nosso trabalhador e ele acaba por receber líquidos menos do que aquilo que deveria receber», salienta.

Já ao nível internacional, seria importante nivelar o campo de jogo face à concorrência, nomeadamente face aos homólogos turcos. «É impossível não pormos os olhos naquilo que está a acontecer na Turquia e que nos coloca numa posição muito difícil no mercado, em que as marcas internacionais têm uma vantagem muito grande ao nível de preço ou, pelo menos, ao nível do que é o custo de produção na Turquia comparativamente ao resto da Europa. Dito isto, acho que é muito importante o trabalho que está a ser feito ao nível da União Europeia de, de certo modo, conseguir garantir que haja estabilidade nos processos, na forma como os produtos são feitos dentro e fora da Europa para, pelo menos, pormos tudo no mesmo patamar», conclui César Lima.