A união faz a Iris

Nas instalações da ex-Malhas Eical nasceu, há cerca de quatro anos, uma nova tinturaria, num impulso empreendedor que tem na sua génese duas empresas ligadas às malhas: a NGS Malhas e a Gabritex. Um projeto em crescimento que emprega cerca de 70 pessoas e já tinge e acaba 10 toneladas de malha por dia.

Tanto a NGS como a Gabritex eram clientes da Malhas Eical e com o fim da empresa decidiram avançar para o negócio da tinturaria.

«Na altura, a Eical era a nossa fornecedora de acabamentos e tinturaria e com a sua falência vimos que tínhamos um problema para continuar a crescer. Precisávamos de fazer alguma coisa e isso passava por adquirir uma tinturaria. Apresentou-se a oportunidade e conseguimos fazer a aquisição», explicou José Quintas, administrador da NGS Malhas, ao Jornal Têxtil, num artigo publicado na edição de setembro.

«A NGS era a principal cliente da Eical, a seguir erámos nós – praticamente 60% da produção era das duas empresas. Tínhamos tudo para dar certo», acrescentou Domingos Santos, administrador da Gabritex.

Atualmente, 70% da produção da empresa de tinturaria e acabamentos tem como finalidade servir a NGS e a Gabritex, com os restantes 30% a serem serviços prestados a clientes como Cordeiro, Campos & Ca, Pedrosa & Rodrigues, Malhinter e Joaps Malhas, entre outros.

«Tratamos malhas especiais, produtos nobres muito caros e difíceis de trabalhar. Temos artigos que custam 50 vezes o preço algodão ou até mais. São produtos muito próprios, especiais e até diferentes do tradicional, como liocel, misturas de lã e seda. Depois temos os produtos mais vulgares, como viscose e algodão. Fazemos muitos acabamentos especiais e funcionais, por exemplo o high dry, gestão de humidade, antibacteriano, acabamentos hidrófobos, com aloé vera…», enumerou, ao Jornal Têxtil, Eduardo Martins, diretor-geral da Iris.

Eduardo Martins

A empresa continua a fazer investimentos, tendo nos últimos dois anos adquirido duas máquinas de amostras e uma de desenrolar, mas os objetivos são continuar a crescer, embora com os pés assentes na terra. «Gostávamos de renovar ainda mais o parque de máquinas para acabamentos especiais», confessou Eduardo Martins, que tem debaixo de olho «máquinas especiais a ar, que fazem a fibrilação e desfibrilação do liocel, acabamentos para quebrar malhas, para soltar pelo», apontou. Contudo, em termos de capacidade, «não queremos aumentar muito, mais duas ou três toneladas, máximo dos máximos 15 toneladas/dia», sublinha o diretor-geral.

O ano de 2016 foi de crescimento, com a Iris a atrair novos clientes, elevando a faturação para 3,63 milhões de euros, em comparação com os 3,4 milhões de euros em 2015. «Este ano ainda vai ser melhor. Nos primeiros seis meses íamos com 340 mil euros mais do que no ano passado na faturação, o que equivale a 15% de aumento. Prevejo chegar este ano a 4 milhões de euros. É o meu objetivo», adiantou ao Jornal Têxtil.

A empresa de tinturaria e acabamentos tem ainda conseguido otimizar os recursos. «Além da formação académica, a tinturaria exige bastante experiência e apetência para este ramo – tem muito de artista e de pormenor. Às vezes uma pequena diferença no pH, na temperatura, é a diferença entre ficar bem ou ficar mal. Estes pormenores não se aprendem, é com intuição, com prática. Antes utilizavam muito o colorímetro para fazer correções, agora praticamente não o utilizamos. A experiência, a intuição e o pormenor é que levam a que um técnico vá no caminho certo ou no caminho errado», afirmou Eduardo Martins. Fruto destes ajustes, «no ano passado, poupámos 250 mil euros em produtos químicos, reduzimos os custos relacionados com a qualidade e, consequentemente, diminuímos os consumos energéticos por quilo de malha produzida. Foi mais de meio milhão de euros», referiu.

A eficiência da empresa tem-se revelado uma vantagem competitiva, admitiu Nuno Cunha e Silva, administrador da NGS Malhas. «Gastamos muito menos produto, somos muito mais produtivos, tingimos à primeira. O know-how é muito importante», destacou, acrescentando que a Iris representa hoje «a resposta rápida, o fazer bem. Somos rápidos, reativos, temos um bom produto, dominamos o processo».

NGS Malhas aproveita…

Esta rapidez de execução da Iris acompanha um dos pilares do crescimento da própria NGS Malhas, que desde os primórdios, em 1998, apostou num modelo de negócio baseado na entrega rápida e no desenvolvimento de coleções. «Tínhamos produtos diferentes. Eu chegava às tinturarias e elas muitas vezes nunca tinham sequer tingido esse produto», recordou Nuno Cunha e Silva ao Jornal Têxtil.

José Quintas e Nuno Cunha e Silva

Hoje, a empresa, que emprega 24 pessoas, desenvolve produtos todos os dias, o que lhe garantiu a entrada na Première Vision Paris em 2014 e clientes internacionais como a Max Mara e a Coach, que contribuem para os 30% de exportação. França, EUA e Reino Unido são os principais mercados.

«As nossas mais-valias enquanto empresa são a rapidez e trabalhar com produtos de valor acrescentado, com lãs, sedas, caxemiras, misturas», enumerou José Quintas

Como projetos a curto prazo, a NGS Malhas, que em 2016 registou um volume de negócios de cerca de 10 milhões de euros, está de mudança para uma área de 3.000 metros quadrados paredes meias com a Iris. «Hoje não existem empresas com os conceitos de antigamente, verticais e grandes, com milhares de trabalhadores. Hoje temos empresas muito mais flexíveis, mais pequenas, mais versáteis, com outra motivação até mesmo para com os colaboradores», resumiu José Quintas.

… e Gabritex também

No mesmo complexo onde funciona a Iris e onde se acaba de instalar a NGS Malhas labora, há já um ano, a GBTX, uma confeção de vestuário de gama alta que surgiu por iniciativa da Gabritex para responder a outro tipo de cliente que não os de vestuário de desporto.

Domingos Santos

«Senti a necessidade de cativar esses clientes, que são marcas com valor acrescentado superior e com matérias mais técnicas e mais caras», justificou Domingos Santos, administrador da GBTX e da Gabritex.

Em apenas alguns meses, a GBTX conseguiu angariar um conjunto de clientes do segmento alto, apoiada numa equipa de 70 pessoas para dar resposta às exigentes solicitações.

Só no segundo semestre de 2016, a GBTX faturou 600 mil euros. «Este ano devemos chegar aos 2 milhões de euros», antecipou o administrador, que partilha com José Barbosa a sociedade em ambas as empresas.

Mas a criação da GBTX teve ainda outro objetivo em mente: o lançamento de uma marca própria. A Averse nasceu no início deste ano, tendo como filosofia “atreve-te a ser diferente” – o lema da sua coleção para a primavera/verão 2018. «Queria uma marca que fosse intermédia, sportswear para o quotidiano», resumiu Domingos Santos.

As ambições passam também por ter uma loja própria para a Averse, provavelmente localizada num centro comercial no Porto. «Mas só uma e depois vender para lojas multimarca», ressalvou o administrador.

A experiência com a Gabritex, que emprega 120 pessoas e, em 2016, registou um volume de negócios superior a 12 milhões de euros, tem permitido avançar com mais certezas no mercado e replicar as iniciativas que surtiram efeito positivo no negócio. «O trunfo da Gabritex é o rigor no controlo de custos, na gestão de stocks», reconheceu Domingos Santos. «Criámos a GBTX há um ano e está a seguir o mesmo modelo», assegurou ao Jornal Têxtil.