O colosso de têxteis-lar, que celebrou 70 anos em 2018, continua atento ao mercado e aos desenvolvimentos na área da ecologia, ao mesmo tempo que prossegue os investimentos nos seus ativos. No ano passado, lançou uma marca no mercado nacional, investiu mais de 3,5 milhões de euros nas instalações, na aquisição de 20 teares e na criação de uma nova unidade de confeção e reforçou o negócio em mercados como a França e os EUA.
A produtora de roupa de cama e mesa, que possui um efetivo de 711 trabalhadores e ocupa uma área de 200 mil metros quadrados, está agora a preparar-se para 2019, um ano que Paulo Coelho Lima antecipa que seja de alguma volatilidade dos mercados, mas também de expansão internacional e de afirmação do segmento de hotelaria da Lameirinho.
A Lameirinho integra o Green Directory da Heimtextil. Como foi a empresa atingida pela vaga verde?
A sustentabilidade é algo irreversível para nós. Há muitos anos que achamos que é o único caminho possível e viável para o planeta e temos de ser os primeiros a contribuir para que o mundo seja mais sustentável nas próximas gerações. Fomos das primeiras empresas a ter certificação ambiental, para além da de qualidade, de modo a cumprir uma série de parâmetros que achávamos obrigatórios. Desde a despoluição do rio Ave, fomos pioneiros em todos os projetos e estamos muito orgulhosos disso. É aquilo que toda a gente deveria fazer, ter a consciencialização de que é o futuro e o que vamos deixar para os que vêm.
Hoje fala-se muito de economia circular e de reciclagem e alguns clientes são sensíveis a isso. Mas passa também por nós dar essa possibilidade aos clientes, não só por eles pedirem. Temos que propor-lhes e isso é um desafio muito maior, porque ser reativo é mais fácil. Nós queremos ir, e temos ido, mais além, mas isso tem uma fatura, há custos. Ser pioneiro nesta área foi uma decisão difícil, mas seguramente que o fazemos com toda a consciência de que é o caminho.
A sustentabilidade reflete-se sobretudo nos produtos?
Em tudo, incluindo na própria empresa. A reciclagem, o aproveitamento de águas, da racionalização de ar condicionado à produção de energia fotovoltaica – tudo isto tem sido uma preocupação nossa ao longo destes anos.
Quais são os mercados que valorizam mais a oferta ecológica?
Entre a Europa e os EUA está mais ou menos equilibrado. Por exemplo, há uma procura grande de flanela reciclada nos EUA, na Europa também temos alguma. É uma preocupação de alguém que percebe que “há aqui um subproduto, que é algo que vai para o lixo, vamos tentar reciclar isto e criar uma nova fibra que é igual à primeira”. Mas há uma situação ainda a contornar: o efeito psicológico de algo que é uma roupa usada. Estamos a trabalhar nesse sentido e temos de conseguir provar e passar a mensagem de que aquilo passa a ser quase virgem. O que é fácil neste momento fazer, pois não há nenhum preconceito com isso, é reciclar algo que não foi usado. Há uma série de desperdícios inerentes à produção que é possível usar. E isso, só por si, já é muito bom. Agora realmente acho que há uma tendência – que é algo que se está a falar muito e que no futuro vai ser também muito importante – de reciclar toda a roupa que já foi usada para criar novas fibras. Isso não está posto de parte por nós e há projetos nesse sentido. Agora temos que dar a garantia e a segurança de que a pessoa vai receber algo que não tem problema algum.
Na sua opinião, a sustentabilidade é um tema-chave em 2019?
A sustentabilidade vai continuar a ser uma tendência no sector dos têxteis-lar. Estamos atentos e a fazer investigação e desenvolvimentos nesta área, de forma a apresentar propostas interessantes e comerciais aos clientes. Estamos a apresentar tecidos produzidos com fios reciclados, em algodão orgânico, com fibras artificiais de base celulósica proveniente da madeira e produzida de forma sustentável, tecidos tingidos com corantes de bases naturais produzidos a partir de desperdícios da Natureza. Este tema vai continuar a marcar 2019, porque a preocupação com o ambiente é cada vez maior e uma realidade próxima.
No ano passado, a Lameirinho comemorou 70 anos de atividade. O que destacaria deste percurso de sete décadas?
Setenta anos já é bastante tempo para uma empresa. Durante este percurso tivemos bons momentos e outros menos bons. O que não posso deixar de destacar é a nossa equipa. Temos pessoas que já estão connosco há mais de 40 anos e outras que foram integrando a equipa e que, de alguma forma, querem manter-se cá para continuar a escrever a história. É com satisfação até que percebemos que os filhos dos nossos colaboradores já começam a fazer parte da nossa equipa.
De que forma celebraram esta data?
A propósito dos 70 anos decidimos lançar a marca Lameirinho Collection no mercado nacional, como uma forma de privilegiar o mercado português com produtos de qualidade. Para incentivar os consumidores a experimentar a marca, oferecemos descontos absolutamente irresistíveis – 70 anos deu 70% de desconto na Lameirinho Collection –, quer através das lojas físicas, quer na nossa loja online.
Quais foram as razões subjacentes a essa nova aposta?
A marca Lameirinho já estava a ser procurada pelos clientes do mercado internacional, por ter um nome diferente e único. A Lameirinho é uma marca que já está na Rússia, Qatar, Ucrânia, Líbano e Emiratos Árabes Unidos. Achámos que era a altura de dar o passo seguinte e aproveitar os nossos 70 anos para lançar a Lameirinho Collection. A marca ainda é recente, mas podemos adiantar que já temos algumas influenciadoras nacionais que experimentaram os lençóis e falam com entusiasmo sobre a marca nas redes sociais.
Que marcas compõem hoje o portefólio da empresa?
Como marcas próprias temos a Lameirinho, a ASA e a Hierba. E temos ainda a Purificación Garcia como marca licenciada. As marcas representam cerca de 7% do volume de negócios da empresa.
Qual é a representatividade do canal online nas vendas?
O canal online começa a ter algum peso no total da faturação das marcas. Continuamos, no entanto, a fazer esforços de divulgação deste canal de vendas. Sentimos que o nosso cliente de retalho, para além das lojas físicas, está também a apostar no canal online, o que é bom, porque não só potencia o crescimento das vendas das nossas marcas, mas também é mais uma montra para os nossos produtos.
Em termos industriais, que investimentos efetuaram no último ano?
A Lameirinho faz investimentos contínuos. Em 2018 investimos aproximadamente 3,6 milhões de euros. Para além de melhorias nas infraestruturas da empresa, comprámos 20 teares e criámos uma nova unidade de confeção.
Há outros investimentos na ordem do dia?
Está previsto continuar a investir nas infraestruturas e na melhoria da imagem das lojas.
Como encara o conceito de indústria 4.0?
A Lameirinho já é uma indústria 4.0 há muito tempo. Para estarmos um passo à frente, soubemos sempre adequar o nosso funcionamento às novas tecnologias que foram surgindo no mercado. Somos uma indústria moderna e continuamente atenta ao que vai aparecendo para oferecer um serviço cada vez melhor aos clientes. Um dos exemplos é o facto da Lameirinho ter implementado internamente o “SCADA”, que não é mais do que software e equipamentos de medida e controlo do processo de produção que nos ajudam a otimizar os recursos e a controlar os consumos, para sermos cada vez mais rentáveis e continuarmos a dar passos em frente na sustentabilidade.
Qual é a capacidade produtiva nas diversas áreas?
Em termos mensais, a capacidade média na tecelagem é de 600 mil metros lineares, nos acabamentos é de 900 mil metros lineares e na confeção é de 500 mil unidades.
Que mercados geográficos ocupam o pódio na Lameirinho?
O principal mercado continua a ser os EUA, que representam mais de 50% da faturação da empresa. França é o nosso segundo mercado e o terceiro é o Reino Unido. Face ao ano anterior, crescemos mais nos EUA e em França.
Dada a expressividade do Reino Unido nas vendas, como se estão a preparar para o Brexit?
Estamos numa grande expectativa quanto a essa questão. Neste momento não temos como nos preparar. Temos tido várias abordagens por parte dos nossos clientes do mercado inglês e nem eles têm como se preparar. Não é prudente fixar preços, dificilmente conseguimos prever o que possa vir a acontecer no que diz respeito a taxas alfandegárias.
Quais são os mercados em foco para o corrente ano?
Vamos continuar a desenvolver esforços nos mercados onde já estamos e temos ainda potencial de crescimento, como é o caso dos EUA. Estão sempre a nascer novos projetos e queremos apostar neles e ajudá-los a crescer. Se o Brexit se revelar uma iniciativa que não prejudica a entrada dos têxteis-lar em Inglaterra, este continua a ser um território em que queremos investir, pela importância que o mercado está a dar ao têxtil de boa qualidade.
Vamos também querer continuar a apostar na área de hotelaria, estar em hotéis e restaurantes de referência com os nossos produtos Lameirinho.
Que balanço faz do negócio em 2018?
De forma geral, devemos terminar o ano com uma faturação de 61,5 milhões de euros, ou seja, crescemos à volta de 6% em relação a 2017. O mercado onde crescemos mais foi nos EUA, porque conseguimos novos clientes e ganhámos novos programas em clientes onde já estamos.
E quais são as perspetivas para 2019?
Queremos consolidar mercados e conquistar novos territórios. No entanto, prevemos um ano difícil com muita volatilidade a vários níveis e para o qual o Brexit poderá contribuir.
Que visão estratégica têm para a Lameirinho no médio/longo prazo?
Estrategicamente vamos manter o enfoque no private label, que é o nosso negócio principal, mas queremos continuar a apostar na marca própria, diversificando os seus segmentos.
Neste momento, temos a Lameirinho Collection com produtos de boa qualidade e de posicionamento alto mas, a médio prazo, queremos investir no hiperluxo, com o segmento “Lameirinho Luxury”, onde serão incluídos produtos com as melhores qualidades do mundo.