A volatilidade dos preços, a par do aumento do salário mínimo nacional britânico e a necessidade de sensibilizar as marcas e retalhistas britânicos para as potencialidades do sourcing doméstico figuram entre os desafios enfrentados pelos produtores de têxteis e vestuário europeus. No entanto, os participantes do evento anual de sourcing SVP Fashion estão convictos de que as oportunidades desta tendência emergente assentam na inovação, responsabilidade social corporativa e aumento da eficiência laboral.
«Tudo tem um preço», afirma Patrick Raes, diretor comercial do Demco Group, produtor tunisino de jeans e malhas. Colaborando, regularmente, com marcas como Tommy Hilfiger, Pepe Jeans e Guess, a secção de denim da empresa tem uma capacidade de produção de 45 milhões de peças de vestuário por ano, enquanto a sua divisão de malhas produz 15 milhões de peças. Embora existam oportunidades em termos de preço na China, «está mais caro a cada dia». Raes acredita que «o preço não é fácil» e «há sempre mais barato».
E isto inclui os custos laborais. Segundo Gary Gill, diretor associado da produtora britânica de vestuário Gill Knitwear, o aumento do salário mínimo britânico «faz a diferença no cálculo dos custos e dos preços» e, acrescenta, «não podemos colocá-lo nas peças de vestuário porque os consumidores não querem pagar esse preço, pelo que estamos num beco sem saída».
Também um porta-voz da Kalestesia, uma produtora grega de vestuário em jersey que fornece marcas como H&M, River Island e John Lewis, sublinha que «o preço é sempre um ponto no qual as coisas são difíceis», uma vez que os clientes estão sempre em busca do melhor preço.
Um dos principais desafios é convencer as empresas a reconduzirem a produção têxtil e de vestuário de volta ao Reino Unido, de acordo com Aakash Jethwa, representante da produtora britânica Ray London. «Embora haja um ligeiro aumento de preço, a qualidade está lá», destaca Jethwa.
A fornecedora britânica de meias Pamela Mann partilha desta perspetiva. «Creio que, futuramente, será muito difícil, porque uma parte significativa da produção saiu do país, assim como as capacidades técnicas, mas creio que estamos a assistir a uma reemergência lenta mas segura da produção no Reino Unido», afirma o diretor da empresa, Rob Morris. No entanto, acrescenta, «os retalhistas devem abrir as suas mentes um pouco mais para o facto de que não temos de nos dirigir ao Extremo Oriente para tudo». Morris está convicto de que as empresas nem sempre consideram o custo total, como as visitas aos fornecedores no exterior, bem como a resolução de problemas de controlo de qualidade. «Se somarmos o custo total, não existe uma enorme diferença de preço», acredita.
Oportunidades
Simultaneamente, estes desafios podem representar oportunidades para as empresas de têxteis e vestuário. Aakash Jethwa acredita que a produção está «gradualmente a começar a regressar» e, portanto, a integração de todos os intervenientes é a principal oportunidade para a Ray London.
Para a Pamela Mann, a inovação é o foco para o próximo ano. «Devemos manter-nos sempre um passo à frente, não podemos viver dos nossos louros», sustenta Morris. «É necessário trazer novos produtos para o mercado», indica.
De acordo com a Gill Knitwear, existe o potencial para estabelecer mais negócios, mas a empresa acredita que será uma questão de «trabalhar de forma inteligente, procurando manter os custos gerais em baixo. Somos capazes de nos abastecer de tecidos e desempenhar o serviço completo, mas creio que teremos de trabalhar de forma um pouco mais eficiente e inteligente», refere Gary Gill.
Em termos de custos, Hakan Kurtça, diretor da produtora turca de vestuário de senhora Tuline Tekstil, sustenta que o fornecimento na Ásia está a ser afetado por questões relativas aos preços e à volatilidade das moedas. «Sentimos, definitivamente, que os clientes estão a tentar sair da Ásia», observa, acrescentando que, embora os clientes estejam a pagar menos pelas peças de vestuário do que pagariam na Europa, pagam «muito mais pelo transporte» dos produtos.
Outra oportunidade prende-se com a sustentabilidade. De acordo com Raes, o Demco Group está a colaborar com marcas e retalhistas preocupadas com questões de «conformidade social e sustentabilidade ambiental». A empresa, garante, «pode garantir condições de trabalho perfeitas» para os seus funcionários, acrescentando que os clientes se concentram, cada vez mais, em tecidos sustentáveis, que requerem menores quantidades de água, energia e produtos químicos durante o processo de produção. Raes acredita que esta é «uma oportunidade para dizermos que estamos aqui e que podemos garantir isto».