O designer, formado pelo Cenatex e com uma experiência de quase 10 anos na indústria – atualmente trabalha na Triwool, que patrocinou a sua mais recente coleção –, registou a marca em 2015, altura em que começou a trabalhar em nome próprio para o segmento da moda nupcial e de festa. «Gosto muito, mas cansei-me desse nicho de mercado, que até considero bom e muito interessante. Estava a fazer demasiado o que o cliente queria e, às vezes, eu não gostava do resultado, apesar do cliente gostar», conta, ao Portugal Têxtil, Vítor Dias. «Decidi parar com a marca durante uns tempos e, em plena pandemia, em 2020, relancei-a. Estive parado em casa, tinha tecidos, stocks, fui fazendo algumas coisas e, passados uns meses, lancei a coleção no Instagram», acrescenta.
O grande impulso deste regresso acabaria por chegar uns meses depois, com o Concurso de Ecodesign Bloom Portugal Fashion by Famalicão Cidade Têxtil, uma parceria entre o Portugal Fashion e a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, do qual saiu vencedor. «Decidi concorrer e correu bem», afirma.
O prémio, além de um valor pecuniário, contemplava a presença na plataforma Bloom do Portugal Fashion, dedicada aos novos talentos, onde Vítor Dias se estreou em outubro de 2021 e à qual regressou em março deste ano, numa experiência que tem sido positiva para o designer. «Ganhei clientes, ganhei know-how, ganhei algum reconhecimento, ganhei muita coisa», garante.
Streetwear casual
Na mais recente coleção, para o outono-inverno 2022/2023, batizada “Vacas Digitais”, Vítor Dias faz uma espécie de sátira ao universo das redes sociais. «A coleção dirige-se a todos, homens e mulheres – é bastante não-binária porque tem muitos modelos unissexo, e dirige-se a quem tem o à-vontade de ser si próprio na rua, às pessoas que gostam de vestir coisas diferentes, que valorizam o conceito por detrás da marca», explica.
Propostas que seguem a linha diretriz desta nova fase da marca, com cada coleção a ter um conceito que reflete «o que se passa na atualidade, algum assunto, social ou não, que me está a incomodar», revela.
Qualificando a sua marca como de streetwear casual, Vítor Dias pretende ser abrangente, tanto em termos de público como de momentos e geografias. «Quero que as pessoas vistam a minha marca na rua, não quero que as pessoas simplesmente vistam a minha marca para eventos. Quero que as peças sejam efetivamente utilitárias», sublinha.
A sustentabilidade tem um papel importante na forma como o designer vê o conceito e a construção das peças. «Se o vestuário não for utilitário, porque é que o estamos a fazer? Porque se não [tiver utilidade], vai ficar parado, ninguém vai usar», considera. Além disso, «quando estou a escolher matérias-primas não olho só ao facto de gostar, mas também ao facto de ser sustentável – a Troficolor, que é uma das minhas patrocinadoras, tem um leque bastante grande de materiais sustentáveis – e tento ir sempre pela via mais sustentável, não faço lavagens nem tingimento em peça. Depois também não faço grandes produções, faço mais por encomenda», aponta Vítor Dias.
Reforçar a internacionalização
A marca está disponível online e em lojas em Portugal, como a Scar-ID, e em Espanha, devendo em breve contar também com um ponto de venda parceiro em Itália. «Tenho outras [lojas] para entrar, porque tem que ser devagarinho, não tenho produção suficiente para abastecer toda a gente», assume Vítor Dias.
O primeiro ano com este novo conceito de marca abriu novas perspetivas para o designer. «Este ano mudou a minha determinação, certamente. Tenho muito mais vontade de fazer mais pela marca. Porque, obviamente, por muito que uma pessoa não desista, quando ouve não atrás de não, é muito difícil. Ver que efetivamente o meu trabalho é hoje valorizado e que as pessoas gostam, faz-me querer fazer sempre mais», confessa.
A dedicação à marca para a «levar mais para a frente» é, por isso, uma das metas traçadas por Vítor Dias, que aponta à internacionalização para novos mercados. «Por uma questão de logística não estou a vender para fora da Europa. Mas sei, por exemplo, que os EUA são um país que aprecia bastante a marca e os americanos fazem imensas visitas ao site, enviam e-mails a pedir para comprar. Neste momento não é possível, mas seria uma ideia, daqui para a frente, expandir para fora da Europa», adianta.
O objetivo, de resto, «é ter Vítor Dias no mercado internacional, sem sombra de dúvida, e conseguir sustentar-me a partir da minha própria marca», conclui o designer.