Durante o evento, agendado para a manhã do dia 2 de novembro, a Mundotêxtil irá apresentar os produtos desenvolvidos em parceria com a associação Fibrenamics, que incorporam fibras naturais emergentes, resíduos fibrosos e engenharia estrutural inovadora. Um exemplo da inovação que a empresa tem incorporado nos seus artigos, com uma preocupação crescente ao nível da sustentabilidade e da rastreabilidade, que fazem com que a especialista em roupa de banho seja também cada vez mais reconhecida internacionalmente.
Em entrevista ao Portugal Têxtil, realizada à margem do Congresso Portugal Empresarial, onde a empresa foi distinguida com o prémio exportação e internacionalização, Ana Vaz Pinheiro, administradora da Mundotêxtil, dá conta dos resultados positivos das vendas de 2022, apesar das dificuldades, como os custos energéticos, que estão a erodir as margens, com preocupações que se estendem a 2023. A produtora de felpos, no entanto, está empenhada em não baixar os braços e vai prosseguir a sua expansão internacional, com visitas diretas aos clientes de mercados como a Escandinávia, e a aposta em feiras como a Market Week, nos EUA, e a Heimtextil, na Alemanha.
Como está a correr este segundo semestre do ano?
O primeiro semestre do ano foi bom em termos de vendas, apesar do enorme aumento dos custos produtivos, que toda a gente está a sofrer. Mas notamos já algum abrandamento, principalmente para os dois últimos meses do ano, na procura na Europa.
Em comparação com 2021, que análise faz?
Comparativamente a 2021, que foi o nosso melhor ano de sempre, creio que teremos um decréscimo de cerca de 4% a 5%, se as coisas correrem como estão agora. Neste momento, as encomendas caem cada vez mais perto, por isso, estamos [em setembro] ainda a negociar dois ou três contratos para entrega em dezembro, pelo que pode ser que se mantenha. Ainda é possível. Esperávamos ter uma diminuição maior. Neste momento, a previsão de fecho que temos não é desanimadora.
Venceram o prémio de internacionalização e exportação atribuído pela AEP. A que se deve a boa performance nessa área?
A nossa performance deve-se ao trabalho muito grande que temos feito junto dos clientes ao longo de todos estes anos e à reputação que a Mundotêxtil tem e que sentimos que tem sido um fator decisivo para que alguns clientes, que já não eram nossos clientes porque procuraram outros fornecedores, tivessem voltado a comprar na Mundotêxtil este ano. No fundo, é fruto do trabalho.
Quais são hoje os mercados mais importantes para a Mundotêxtil?
A Europa continua a ser o foco – 70% das nossas exportações são para a Europa. Posso destacar o Reino Unido, mas, principalmente, os países nórdicos – Dinamarca, Finlândia, Noruega e a Suécia –, onde temos uma quota de mercado muito superior àquela que tínhamos há dois ou três anos, cresceu cerca de 17%, no total de todos os países.
E fora da Europa?
Fora da Europa, temos os EUA e Canadá. No Canadá crescemos cerca de 6% este ano. Há outros países, como Israel, que estava um bocado parado e está a começar a reativar agora, mas os EUA e Canadá são, sem dúvida, os mercados fora da Europa com mais representatividade na Mundotêxtil. Nos EUA temos a presença consolidada, mas podemos crescer. Há mercados dentro dos EUA. Notamos que aquelas cadeias maiores que em 2009 eram clientes de Portugal e que desapareceram com o problema do câmbio, como a Target, que era um cliente enorme, ou a Bed Bath & Beyond, que entretanto também desapareceu, estão outra vez a querer diversificar o seu sourcing e, por isso, Portugal é um destino óbvio. O nosso maior concorrente é a Turquia, que está a subir os preços em 20% a 30%. E nós oferecemos coisas que a Turquia não oferece, como flexibilidade, rapidez de resposta, somos muito mais fáceis e de mais confiança em termos de trabalho e, muitas vezes, aqueles 10% ou 15% de diferença de preço compensam.
Como encara o próximo ano?
Em termos de vendas, este ano não foi mau, mas em termos de resultados não vai ser brilhante, como é óbvio. Embora tenhamos conseguido aumentar os preços ao cliente – quase 17% – não chega. Na energia temos aumentos de 300%, quer dizer, estamos a pagar cinco, seis, sete, oito vezes mais, por isso, não há comparação. Claro que temos que fazer outro trabalho – investimentos para alterar as fontes de energia, instalação de painéis fotovoltaicos para autoconsumo, caldeiras de biomassa, mudar processos produtivos. É um trabalho que temos vindo a fazer ao longo do tempo, mas que agora temos que acelerar mais.
Quais vão ser as prioridades?
Temos um projeto PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] que já deu entrada, estamos à espera da decisão da candidatura, para a descarbonização, de cinco milhões de euros de investimento em várias energias alternativas, incluindo biomassa, painéis fotovoltaicos, tecnologias novas.
Como é que a Mundotêxtil vai fazer face aos desafios de 2023?
Para o próximo ano estamos um bocado receosos, porque temos a certeza que vai haver uma retração de consumo mais acentuada. Mas vamos continuar a mexer-nos. Estamos a fazer uma aposta nos EUA, vamos outra vez à Market Week – fomos lá há dois meses e estamos a tentar colher os frutos e aproveitar agora para fechar os contratos até ao fim deste ano, tendo em conta a situação do dólar.
Há outras feiras ou iniciativas em agenda?
Sim. Para além da Heimtextil em janeiro, fazemos sempre, pelo menos uma vez por mês, uma visita a alguns mercados previamente selecionados. A próxima visita será à Escandinávia, temos que ir à Suécia e à Finlândia, para visitar alguns clientes que temos e outros com quem estamos a encetar agora contacto e a começar a trabalhar.
E em termos de desenvolvimento de produto, há novidades nesse sentido?
Há. Neste momento, o que é importante para o cliente é ter um bom produto, com bom preço, como é óbvio, competitivo, mas que traga alguma coisa diferente ao mercado. E nós, nesse sentido, estamos a apostar muito na parte da rastreabilidade. Já tínhamos desenvolvido uma toalha com um fio rastreável, agora estamos a trabalhar com uma empresa americana numa plataforma onde o nosso cliente e o consumidor final conseguem consultar, efetivamente, a rastreabilidade toda do produto. Ou seja, para além do artigo em si, dos diferentes fios e tecnologias, estamos a acrescentar mais ao produto, isto é, já não vamos vender só a toalha, vamos vender também um plus no produto. E estamos a apostar imenso nos reciclados. Claro que isto traz-nos alguns problemas em termos produtivos e, por isso, andamos a fazer esse estudo internamente, a ver a incorporação de fibras que não de algodão, só que, porque já temos muitas e há muita coisa no mercado, temos que ser diferentes. Estamos a tentar encontrar fibras diferenciadas, que vamos apresentar na Heimtextil.