No contexto da crescente importância da automização do processo de corte de peças de vestuário, o Jornal Têxtil falou com um dos líderes mundiais neste segmento, a Gerber, na visão de José Ferreira da Silva, responsável pelo mercado da Europa Ocidental, Norte de África e Médio Oriente. JT- Será interessante começar pela história da empresa… JS – A Gerber Technology – o ramo da empresa dedicada à industria de confecção – pertence a um grupo de empresas cuja empresa mãe se chama Gerber Scientific. Está no mercado há 31 anos, e foi a pioneira da concepção dos sistemas de CAD-CAM ( Computer Assisted Design – Computer Assisted Manufactured). Foi a primeira empresa a cortar automaticamente materiais flexíveis. A primeira máquina de corte concebida pelo fundador da Gerber foi levada a empresas muito conhecidas no mercado e a consultores na área do vestuário, como a Kurt Salmon Consultors. Estes fizeram um estudo e concluíram que o máximo que a Gerber conseguia vender seriam 3 ou 4 peças para todo o mundo, por isso recomendaram que não deveriam desenvolver esta máquina. Cobraram-lhe uma grande quantia, e o Sr. Gerber pôs o estudo numa prateleira. Ainda hoje considera que foi o dinheiro mais mal gasto de sempre pela empresa, isto há 30 anos, pois agora existem milhares de peças da empresa por todo o mundo. O mais interessante da invenção é que não se sabia como fixar o tecido. Então inventou o sistema com uma escova por baixo, e para fixar a peça tinha uma folha de plástico por cima com que fazia o vácuo e prendia. É uma ideia simples. JT- Depois começaram a desenvolver a vossa área de negócio… JS – Para a máquina cortar é preciso um programa para dar as ordens. Por isso, a empresa começou por trabalhar com as duas que produziam o software, e depois comprou as duas. Neste momento oferecemos a solução completa. Entretanto apareceram outras empresas no mercado. Hoje há grandes empresas neste segmento, como a Microdinamics nos EUA, a Lectra e a Investronica. A empresa começou a automatizar tudo, há varias ilhas na automação, mesmo ao nível do corte há varias fases. Nos últimos dez anos temos tentado juntar as ilhas que faltavam no processo e neste momento há uma única. Temos a solução Gerber Suite é um conjunto de programas que integra tudo. Também oferecemos à empresa passo a passo, mas se quiser tudo nós temos. Começámos por automatizar o corte de tecido, depois o CAD, depois o PDM (Product Data Manager), depois os sistemas de design, depois as formas e cores dos modelos, até à loja e distribuição. JT – Pode falar-se de um mercado distinto para cada produto da Gerber? JS – Sim, nós dirigimo-nos a diferentes indústrias. Começámos com maior ênfase na indústria do vestuário, mas agora trabalhamos com muito tipo de indústrias, todas aquelas que utilizam material flexível, desde o vestuário à aviação. Por exemplo, nós cortamos fibra de carbono para aviões, o que não tem nada a ver com vestuário. Estas fibras são produzidas num sistema CAD, em duas dimensões e desenvolvidos para 3 dimensões. Um outro exemplo: cortamos coberturas plásticas para camiões ou tendas usadas em casamentos para mais de 500 pessoas. A diversidade é grande, desde coletes à prova de bala, filtros, lentes é uma lista infinita… JT – A Gerber dividiu a Europa em duas partes. Quais são as principais diferenças entre estes mercados? JS – Descobrimos nos últimos anos que os nossos clientes europeus mostraram uma forte tendência de migração. Os do Norte da Europa estão a mover-se para o Sul, nós notamos por exemplo no Reino Unido que muita da produção está a voltar-se para Marrocos, Tunísia. Em França e Itália está a acontecer o mesmo. Há dois destinos, uns vão para o norte de África e outros que se voltam para a Europa da Leste. Isto no que diz respeito ao vestuário. Procurámos qual era a tendência, e verificamos que o lado ocidental europeu utiliza os territórios do Norte de África e os países da Europa oriental não vão para tão longe, movem-se para os países de leste. Estas regras não são inflexíveis, há companhias portuguesas a dirigirem-se para a Roménia, há excepções. Neste momento, eu concentro-me na Europa Ocidental e uma pessoa na Alemanha está encarregue de outra. JT – Há problemas específicos nesta zona? JS – Não há problemas, há desafios. Eu fiquei muito impressionado com algumas das empresas que visitei em Marrocos e na Tunísia, são muito bem organizadas, com muito bons gestores, com um espírito muito aberto e que tanto são de origem africana como se encontram também europeus, que são enviados em missão para a empresa, tal como acontece com a Benetton por exemplo. Claro que a força trabalhadora ainda é barata, mas apesar de existir muito mais mão-de-obra do que na Europa, as empresas estão muito bem organizadas. Outras empresas locais também são muito impressionantes e não só aquelas que são parcerias de grandes empresas, ou mesmo filiais de empresas de renome. É claro que ainda existem alguns obstáculos, por exemplo, em Marrocos temos muitos problemas com a Internet e com as linhas telefónicas, o nosso sistema de computadores central ainda não está conectado com o subsidiário de Marrocos, este tipo de problemas existiram há 10 ou 15 anos em Portugal. JT – Há muito mais a desenvolver no mercado CAD/CAM? JS – É uma pergunta que me é feita muitas vezes, o mercado ainda não está saturado?. Sinto-me sempre tentado a dizer que sim, mas acabo por dizer que não. Há sempre algo para desenvolver ou inventar. JT – E relativamente ao mercado português? JS – Portugal foi considerado um dos países da Europa onde as unidades de fabrico de vestuário estão melhor equipadas. Uma empresa de consultoria na Finlândia publicou um estudo no ano passado que apresentava esta conclusão. O estudo tinha como objectivo comparar vários países europeus para saber qual seria o destino mais provável para quem está interessado em fabricar vestuário. Como estamos na área da tecnologia, Portugal é um mercado muito importante para nós. O nosso ano fiscal começa em 1 de Maio e termina a 30 de Abril, ou seja estamos a começar, e devo dizer que neste momento estamos a cumprir todos os alvos previstos. Portugal está acima das nossas expectativas, tivemos um bom começo e o 1º trimestre foi muito bom. Comparativamente ao ano anterior, no passado trimestre, Portugal cresceu cerca de 12%.