A moda pela objetiva da Nazareth

A pergunta: “a moda é arte?” tem vindo a motivar as mais díspares e, ainda assim, terminantes respostas. De Portugal para o mundo, a Nazareth Collection esquiva-se à querela em torno da questão, mas acrescentou-lhe argumentos a favor do “sim”. Márcia Nazareth ganha os seus dias a reunir fotografias que depois imprime nas coleções de vestuário da marca que herdou o nome de família.

Formada em design de comunicação na FBAUP, a fundadora da Nazareth Collection trabalhou em algumas agências de design e comunicação antes de abrir portas a uma investida sua, em 2003. Dez anos depois, decidiu não adiar mais o sonho que tinha vindo a alimentar nos tempos livres: casar a fotografia com a moda.

Fotografias para vestir – é este o mote da marca, que apresenta coleções temáticas como objetos de arte e design. «A impressão têxtil de fotografias temáticas permitiu a criação de uma linguagem própria, altamente visual e cultural no mundo da moda, aplicando padrões fotográficos em têxteis de alta qualidade e com fittings certos», explica Márcia Nazareth ao Portugal Têxtil.

Na marca motivada pela arte, tudo tem múltiplas interpretações, exceto o nome. “Nazareth” é nome de família da fundadora, que o utiliza como marca porque o «encara como uma forma de responsabilização» pelo trabalho que desenvolve. “Collection” juntou-se depois porque «todas as propostas da marca são apresentadas como coleções dedicadas a um tema», que já retratou as cidades do Porto e Lisboa, o fado ou a praia.

Para dar corpo a coleções de vestuário de homem e mulher – que incluem produtos como tops, t-shirts, túnicas, calções, vestidos ou lenços –, Márcia Nazareth seleciona temas que lhe interessam explorar, «pela sua variedade ou originalidade fotográfica», conta, sendo que todas as fotografias capturadas por si e depois selecionadas «de acordo com as que melhor funcionam nos enquadramentos pretendidos para cada peça».

A fundadora da Nazareth Collection é, de resto, a alma da marca cujas vendas do primeiro semestre cresceram cerca de 30% em relação ao mesmo período em 2015. «A Nazareth Collection está realmente muito centrada em mim. Do início ao fim de cada proposta. Sou quem escolhe os temas de cada coleção, quem fotografa e seleciona. Ocupo-me também do desenho de moda e de todo o processo de produção», uma empreitada que pode ser extenuante, mas da qual não abre mão para que tudo aconteça como imaginou. «Por enquanto, só assim consigo levar ao mercado, que felizmente está a crescer, as propostas como as quero», acredita.

A comunicação, marketing e vendas estão entregues a André Coelho, que personifica, ao lado de Márcia Nazareth, o núcleo central da marca, sendo que depois há o auxílio de uma equipa de produção. «A produção foi o caminho mais difícil», afirma a fundadora, destacando, porém, a importância de viver no norte do país e  da região lhe ter emprestado todo o conhecimento têxtil necessário. «[No norte] encontrei a equipa de produção ideal que pretendia para a Nazareth Collection, com respeito pela qualidade dos materiais, acabamento, prazos de entrega… entre tantos outros, claro, um processo sempre minucioso até às propostas finais», revela.

As peças da Nazareth Collection começaram por apostar no poliéster, mas cedo Márcia Nazareth se apercebeu que os clientes procuravam outros materiais. E, ainda que estes pudessem dificultar o processo de impressão, a solução acabou por surgir, via viscose, fibra não natural «que combina de forma superior conforto e elevada qualidade fotográfica», reconhece.

A exclusividade é um dos pilares da marca e, a par das coleções limitadas, não são produzidas mais do que 20 a 25 peças por modelo. Atualmente estão apenas disponíveis a Air e a Beach Collection, com venda no canal online da marca e em várias lojas multimarca (físicas e online), no Porto e em Lisboa.

Na plataforma digital, os pedidos chegam de destinos como «norte da Europa, mas também de Hong Kong, EUA e Brasil», sendo que o leque de preços dos produtos da marca começa nos 30 e alcança os 70 euros.

Entretanto, a Nazareth Collection tem também disponível a sua primeira coleção internacional – a Berlin Collection. «Berlim é uma cidade entusiasmante. É vibrante, original, criadora e desafiadora. Pareceu-me a escolha certa para a primeira coleção internacional da marca, porque a cidade para além de ser muito visual e oferecer imagens icónicas, essas são simultaneamente cheias de significado, que é sempre diferente para cada pessoa que as veste», conta a fundadora sobre os produtos que foram recentemente apresentados na capital alemã, onde são vendidos em exclusivo em lojas selecionadas.

E, se o público-alvo da Nazareth Collection é composto por pessoas que «apreciam serem o zoom», situadas numa faixa etária entre os 16 e os 46 anos – com a exceção das propostas para os mais pequenos, já apresentadas na gama Green Collection – a fundadora não deixa de confidenciar ao Portugal Têxtil que gostava de ver a “ave-rara” da moda, Iris Apfel, numa peça da marca. «É uma senhora amorosa, cheia de estilo e já com 90 anos… Adorava vê-la vestida com a Nazareth Collection», confessa.