A inovação nacional afirma-se em Frankfurt

Apesar de manter números estabilizados em termos de expositores, a presença portuguesa na Techtextil e na Texprocess está a evidenciar-se pela inovação. Na próxima edição, que se realiza de 14 a 17 de maio, das cerca de 1.800 empresas que estarão na Alemanha, 28 irão representar a inovação “made in Portugal”.

Michael Jänecke

A Techtextil, dedicada a têxteis técnicos, e a Texprocess, vocacionada para o processamento de têxteis e materiais flexíveis, estão praticamente esgotadas para a próxima edição e, apesar das agruras da conjuntura, a organização, a cargo da Messe Frankfurt, está otimista.

«O ambiente de negócios está a arrefecer um pouco, mas os expositores dizem-nos que estão ansiosos pela feira. Com certeza que depois de um aumento nos últimos anos na tecnologia, há sempre um ponto em que há uma estagnação, mas qualquer investimento que não é feito hoje, tem de ser feito amanhã. Espero que a Techtextil dê sinais positivos e que os têxteis técnicos cresçam independentemente do ciclo», afirmou Michael Jänecke, diretor das feiras Techtextil e Texprocess, ao Portugal Têxtil.

Diversidade de aplicações

De acordo com a Messe Frankfurt, tendo por base dados da Euratex, a Europa duplicou, desde 2004, o volume de exportações de têxteis técnicos para fora do Velho Continente, para mais de 20 mil milhões de euros, um desenvolvimento que se deve «ao aumento da oferta por parte de empresas tradicionais» e à crescente utilização em diversas áreas, explicou Michael Jänecke na conferência de imprensa de apresentação, que teve lugar no dia 28 de fevereiro, durante o Modtissimo. «Um automóvel integra agora 40 quilos de têxteis», exemplificou.

Esta diversidade de utilização de têxteis técnicos reflete-se no certame. Os expositores direcionados para os produtos industriais serão os mais representados (perto de 250), seguidos da área Clothtech (vestuário), Buildtech (construção) e Mobiltech (transportes).

A principal novidade para os visitantes – que na edição de 2017 ultrapassaram os 40.500 – será o Techtextil Symposium, que nesta edição se transforma em Techtextil Forum e será gratuito. «A ideia é ter mais interação. Como é no mesmo espaço, os expositores podem também assistir a uma ou duas intervenções», destacou Michael Jänecke. Entre os temas abordados estarão a sustentabilidade e reciclagem de têxteis, novos materiais para filtros, têxteis em espaços urbanos, compósitos, têxteis inteligentes, transformação digital, inteligência artificial e têxteis técnicos para a medicina, num programa vasto que ocupa os quatro dias do certame.

Indústria 4.0 vai mais longe na Texprocess

Na Texprocess, a grande tendência assenta na indústria 4.0, mas vai «um pouco mais longe», garantiu Veronika März, diretora da VDMA – Associação Alemã de Tecnologia Têxtil.

Veronika März

As novas exigências dos produtores de vestuário estão a ser impulsionadas, por um lado, pelo consumidor, que «quer produtos individuais, ciclos de moda mais curtos, cadeias de aprovisionamento rastreáveis e uma produção e produtos mais sustentáveis», enumerou Veronika März. Por outro lado, a própria indústria tem novas necessidades, nomeadamente «ciclos de produção mais curtos, produção mais perto dos consumidores – estão a regressar da Ásia, lentamente, mas estão a voltar –, tem menos mão de obra disponível, custos de entrega mais altos e custos cada vez maiores com o trabalho», apontou.

Estas tendências estão a ser acompanhadas pela Texprocess e pelos construtores de maquinaria, que na próxima edição da feira irão focar-se na digitalização e na automatização.

A Texprocess, que em 2017 acolheu 312 expositores de 35 países, prevê a exposição de cinco microfábricas para moda e têxteis técnicos e inteligentes, além de diversos expositores com novidades, como as máquinas de bordar integradas ZSK, que permitem a customização de produtos para compras online.

Consolidação portuguesa

Portugal, embora com números mais ou menos constantes – em 2017, registou 25 expositores na Techtextil e cinco na Texprocess –, está a afirmar-se em Frankfurt «não necessariamente pelos números, que estão estáveis, mas definitivamente pela apresentação. E em termos de qualidade são sempre bons», elogiou, em declarações ao Portugal Têxtil, Michael Jänecke.

Cristina Motta

O diretor da Techtextil e da Texprocess deixa, contudo, alguns conselhos às empresas expositoras. «Muitas empresas fazem um bom trabalho mas não têm marketing. Muitas vezes mandam informação, mas depois dizem “não falem disto”. Os expositores têm de se apresentar e encontrar um equilíbrio entre mostrar que são ativos e inovadores e manter alguns segredos».

Em relação aos visitantes, que «são muito importantes para as empresas» da Texprocess, até porque as empresas lusas «estão a comprar máquinas de alta tecnologia», reconheceu Veronika März, o importante é estarem preparados. «Há muita informação disponível: os expositores têm media kits, o site funciona bem, sigam os meios de comunicação social, subscrevam newsletters…», aconselhou Michael Jänecke. «É também preciso tempo, pelo menos dois dias, porque a feira está a crescer também do lado dos visitantes e há mais pessoas a tentar falar com os expositores», acrescentou. «Façam o agendamento de reuniões antes, se possível, e visitem as duas feiras», resumiu Veronika März.

«As expectativas para as feiras são muito boas, como sempre. Temos, de Portugal, 25 empresas confirmadas e 404 metros quadrados de área na Techtextil e três empresas na área da Texprocess», revelou, ao Portugal Têxtil, Cristina Motta, representante da Messe Frankfurt em Portugal. «Claro que a Texprocess é sobretudo importante para visitantes, para quem vai comprar, porque para nós a confeção é extremamente importante. Portanto, as expectativas são ótimas quer em termos de visitantes para a Texprocess, quer em termos de expositores na Techtextil», concluiu.