A indústria têxtil no Bangladesh – Parte I

O Bangladesh ocupa actualmente o lugar de sexto maior fornecedor de vestuário dos Estados Unidos e da União Europeia, destacando-se igualmente pelas avançadas políticas sociais e reformadoras. Este país exporta anualmente cerca de 5 mil milhões de dólares em produtos de vestuário, numa mistura de roupa para criança, homem e senhora, constituída por todos os tipos de artigos de confecção, malhas e tecidos, embora os artigos mais vendidos sejam as camisas, e blusas, calças, saias, calções, blusões, sweaters, e vestuário informal e desportivo. Os artigos são exportados para 90 países, sendo os Estados Unidos o principal cliente da indústria de vestuário do Bangladesh, com 40% do total de exportações deste sector. Seguem-se o Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Suécia, Holanda, Dinamarca, Grécia, Portugal, Áustria e Bélgica como principais destinos dos artigos produzidos naquele país asiático. A juntar à não imposição de quotas e acesso livre de impostos à Europa, os têxteis e vestuário do Bangladesh viram igualmente esse privilégio estender-se nos últimos anos à Nova Zelândia, Noruega, Japão, e, desde 1 de Janeiro de 2003, ao Canadá. O vestuário é fabricado em duas grandes zonas neste país: a capital, Dhaka, onde se situam aproximadamente 2560 fábricas, e Chittagong, onde existem cerca de 555 empresas. A empresa de vestuário virada para a exportação emprega, em média, 1.000 a 1.200 pessoas, e dado que as fábricas tendem a localizar-se nas cidades, as infraestruturas industriais revelam-se satisfatórias, embora quase todas possuam os seus próprios geradores de emergência, e algumas necessitem de recorrer a fornecimentos adicionais de água. No entanto, como a indústria exportadora é tão importante para o país, o governo do Bangladesh tende a dar prioridade às empresas de vestuário, oferecendo igualmente incentivos às empresas que se deslocalizem ou aumentem o emprego nas cidades mais pequenas e aldeias. Como este sector assenta fundamentalmente no baixo custo da mão-de-obra, normalmente recorre a maquinaria pouco sofisticada, como por exemplo máquinas de coser e costura manuais, em vez de mecânicas. Tendo arrancado no final da década de 70, como um pequeno e inovador sector de exportação, em 1983 a indústria de artigos de vestuário acabados (RMG) havia emergido como um promissor foco de lucros na área da exportação. Esta indústria mostrou assim um crescimento sem precedentes ao longo dos últimos 15 anos, com as exportações a assegurarem cerca de 76% dos lucros totais da exportação do Bangladesh, em 2000/2001. O referido sector emprega directamente 1,8 milhões de trabalhadores, 80% dos quais são mulheres. Além disso, 800.000 pessoas estão empregadas no ramo dos acessórios de vestuário, e mais cerca de 10 milhões dependem indirectamente da indústria do vestuário. Aliás, uma das principais vantagens do Bangladesh é a abundância de mão-de-obra barata. O rendimento nacional per capita bruto foi de apenas 361 dólares, em 2001. As estimativas mostram ainda que cerca de 80% dos acessórios de vestuário, como os fios, botões, etiquetas, fechos e entretelas são actualmente produzidos no Bangladesh, contribuindo fortemente para o rendimento nacional deste país. Ainda assim, a indústria têxtil (fiação, confecção e acabamentos) neste país está em crescimento, apesar deste país ter exportado vestuário no valor de 4.583 mil milhões de dólares em 2001/2002. Este sector é responsável por 9,5% do PIB do Bangladesh, e 29,7% do PIB nas indústrias de manufacturas. Actualmente, as necessidades da indústria do vestuário do Bangladesh em termos de tecidos ascendem a cerca de três mil milhões de jardas, das quais 85% a 90% são importadas de países como a China, Índia, Hong Kong, Singapura, Tailândia, Coreia, Indonésia e Taiwan. Esta quantidade tem vindo a aumentar ao ritmo de 20% por ano, e oferece uma excelente oportunidade de aumentar a industrialização deste país. Com efeito, a BGMEA (Associação de Produtores e Exportadores de Vestuário do Bangladesh) prevê que, em 2005, este sector justifique a existência de 60 fiações têxteis de dimensões médias, cada uma com uma capacidade produtiva de 30 milhões de jardas de tecido por ano. De forma a responder a este desafio, o governo do Bangladesh desenvolveu um intenso programa de incentivos, com o intuito de acelerar o investimento no país. Este programa inclui a isenção de impostos e de taxas aduaneiras na importação de maquinaria e peças para as indústrias que sejam 100% orientadas para a exportação; a não limitação para os investimentos; benefícios fiscais até 10 anos; autorizações de residência para estrangeiros, incluindo direitos de cidadania; e isenções de impostos nos empréstimos de capitais estrangeiros. A indústria do vestuário do Bangladesh está bem consciente de que a sobrevivência no mercado sem quotas, após 2005, vai depender em muito da sua competitividade ao nível global, e neste contexto a diversificação de mercados, o desenvolvimento de um sector de logística e acessórios complementares adequado e eficaz, a conformidade com as normas e padrões internacionais, e a aposta em segmentos de vestuário específicos e de elevada qualidade assumem-se como condições indispensáveis para atingir essa meta.