A boa notícia para alguns, como a Pets at Home, cadeia de produtos para animais de estimação, é que as empresas de capital de risco estão a ter mais facilidade em arranjar financiamento, o que pode permitir uma saída aos mais determinados em vender. Mas tal não deverá ser grande ajuda para o grupo de moda New Look, que alguns banqueiros consideram ser demasiado grande para um negócio de capital de risco. Com os investidores receosos de uma repetição do que ocorreu com a entrada em bolsa da Debenhams em 2006, quando as acções do grupo caíram progressivamente ao longo de dois anos e meio, a New Look poderá ter dificuldade em atingir os 1,7 mil milhões de libras (1,88 mil milhões de euros) da avaliação inicialmente realizada. «Há uma série de factores contra», refere David Bush, chefe dos serviços de retalho na consultora Grant Thornton. «Se eles seguirem esse caminho (de entrada em bolsa), acho que têm uma janela de oportunidade muito pequena para alcançá-lo». As acções dos retalhistas de produtos não-alimentares subiram 70% o ano passado na Grã-Bretanha, à medida que os investidores apostaram numa recuperação económica. Os candidatos no retalho a ofertas públicas iniciais, incluindo o retalhista on-line de produtos de mercearia Ocado e a empresa de moda SuperGroup, bem como a New Look, não foram prejudicados pelo desempenho positivo nas vendas registadas na época natalícia. Mas, apesar da mais forte época festiva dos últimos quatro anos, o sector degradou-se mais recentemente, pois os investidores receiam que as medidas para reduzir a dívida pública – como aumentos nos impostos e cortes nos gastos – adicionem nova pressão sobre os compradores. A Marks & Spencer advertiu que as vendas no retalho britânico poderiam manter-se constantes em 2010, com o comércio a ficar cada vez mais difícil ao longo do ano. Estas condições não são um bom cenário para os retalhistas que estão a ponderar testar a entrada em bolsa. «Pessoalmente, não acho que vá haver um grande apetite, porque não acho que o retalho seja uma área muito emocionante neste momento», declara um gestor de fundos em anonimato. «Qualquer empresa que tente entrar no mercado terá de se apresentar suficiente barata para reflectir esta perspectiva», sustenta. Mas as falhas do passado continuam a ensombrar o presente. A New Look, que referiu recentemente ainda não ter decidido se ia avançar com uma oferta pública inicial, seria a maior oferta pública no retalho na praça londrina desde a Debenhams, e é aí que reside parte do seu problema. A endividada Debenhams foi listada pela sociedade de capital de risco sua proprietária a 1,95 libras, mas as suas acções caíram com a deterioração das condições comerciais e com os receios sobre a capacidade do retalhista em saldar os seus empréstimos. O valor em bolsa apenas conseguiu uma recuperação significante após a Debenhams conseguir 300 milhões de libras numa venda de acções, em Junho. Os apoiantes da New Look têm-se esforçado para salientar as diferenças com a Debenhams. O grupo, privatizado em 2004 por 699 milhões de libras pelo fundador Tom Singh e pelas empresas de capital de risco Permira e Apax, irá utilizar todo o dinheiro angariado com a venda de novas acções para pagar uma grande parte da sua dívida de mil milhões de libras. A New Look tem também anunciado ambiciosos planos de duplicar o espaço de venda na Grã-Bretanha e intensificar as suas vendas on-line e internacionais. No entanto, David Bush, da Grant Thornton, não se deixa conquistar. «Eles já estão bastante grandes no Reino Unido (…) O sector em que estão está absolutamente com a forca na garganta», refere o analista. Fontes próximas dizem que a New Look também atraiu o interesse de empresas de capital de risco e, com os sinais de que o financiamento da dívida para ofertas públicas de aquisição está a começar a regressar, esta pode ser uma saída fácil para muitos retalhistas. Mas a New Look pode ser um negócio demasiado grande por enquanto. Andrew Ware, chefe de finanças corporativas na BDO Stoy Hayward, refere: «acho que engoli-la seria muito difícil. Seria necessário que duas ou três casas (de capital de risco) se juntassem. Isso poderia acontecer, mas iria certamente aumentar o risco do negócio».