«A feira é sempre um espelho do mercado»

Um número maior de expositores e a estreia de um novo conceito voltado para a sustentabilidade foram algumas das novidades da Heimtextil apresentadas em Guimarães por Olaf Schmidt, que acredita na importância dos certames para o negócio dos têxteis-lar e não só.

Olaf Schmidt

No total, estarão presentes na feira de têxteis-lar em Frankfurt mais de 2.600 expositores, entre os quais 64 representantes do made in Portugal, revelou Olaf Schmidt, vice-presidente de têxteis e tecnologias têxteis das Messe Frankfurt, durante a apresentação das tendências para 2024/2025 que teve lugar no passado dia 24 de outubro no Teatro Jordão, em Guimarães.

Para além de maior, a próxima edição da Heimtextil, que se realiza de 9 a 12 de janeiro, traz também um novo conceito voltado para a sustentabilidade – Econogy – alinhado com os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Um sistema que Olaf Schmidt explicou em entrevista ao Portugal Têxtil, onde aborda igualmente o papel da Heimtextil e das feiras em geral para a indústria têxtil e vestuário.

A próxima Heimtextil contará com mais expositores em comparação com a edição de 2023. A que se deve esse aumento?

Por causa do Covid-19, tivemos uma situação difícil, especialmente no ano de 2021 e 2022. A última edição da Heimtextil, em janeiro, já teve muito sucesso, mas foi menor do que será a próxima edição em janeiro de 2024. Sabemos que algumas empresas estiveram na feira em janeiro, mas não como expositores e logo nessa altura manifestaram a vontade de voltar a expor em Frankfurt. O resultado é este, estamos a ver isso agora. As empresas internacionais, de diferentes países, estão a voltar. Não é uma tendência de um país, é de todos os países e também de todos os grupos de produtos. Penso que a vantagem especial da Heimtextil é que permite a uma empresa ter uma plataforma para obter muitos contactos internacionais. É uma proposta de valor única da Heimtextil, não se consegue isso com outras feiras. Acho que é uma boa plataforma para conseguir negócios internacionais. Sabemos também que algumas indústrias já estão a passar por dificuldades, devido à redução de retalhistas. As empresas procuram novos distribuidores, novos contactos. Esperamos receber visitantes de cerca de 130 países na próxima Heimtextil. Acho que em Frankfurt têm uma boa oportunidade par isso.

Isso é válido mesmo numa altura em que há mercados onde se sente um abrandamento da procura por têxteis-lar?

O abrandamento não é em todo o mundo. É verdade que se sente em algumas regiões, mas não em todas. Falando francamente, antes do Covid-19, havia um grande debate sobre qual seria o futuro das feiras. Será que uma feira é a plataforma certa? Temos alternativas? Depois aconteceu o Covid-19 e as empresas deixaram de conseguir obter contactos internacionais. Agora que o Covid passou – esperamos que já tenhamos passado – vemos essas empresas a procurar ter em quatro dias o máximo de contactos internacionais. Penso que é realmente uma vantagem, porque é difícil para uma empresa apresentar uma coleção em todo o mundo com oportunidades de distribuição limitadas. Há uma grande vantagem em fazê-lo em Frankfurt e esse é também o nosso objetivo. Mas como não estamos apenas focados no produto dos nossos clientes, também gostaríamos de fazer na feira alguma transferência de conhecimento sobre vários desenvolvimentos do mercado. Vamos fazer isso na próxima edição, nomeadamente sobre o desenvolvimento sustentável e as inovações no negócio da hotelaria. Na área das tendências vamos revelar os novos materiais e opções sustentáveis que estão disponíveis para a indústria. Por isso, penso que não é só sobre conseguir novos contactos do lado do negócio, mas também obter novo conhecimento para o desenvolvimento de produtos. Isso é importante.

É aí que entra o conceito de Econogy? Em que consiste exatamente?

Apresentamos o conceito há algumas semanas, vamos agora implementá-lo em Frankfurt na Heimtextil, em janeiro, e em abril na Techtextil e na Texprocess. Estamos também a trabalhar para que integre a Texworld e a Apparel Sourcing em Paris, nas duas edições do ano, a começar já em fevereiro. Depois, passo a passo, vamos tentar implementá-lo nas nossas grandes feiras em todo o mundo, exatamente para termos um sistema para identificar produtos sustentáveis, porque atualmente existem muitos rótulos diferentes e a curadoria das empresas era diferente. Agora temos um claro compromisso com o Gabinete das Nações Unidas para as Parcerias cujas bases são os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. Temos um guia Econogy na Heimtextil, com todas as empresas que têm produtos sustentáveis listadas. Temos uma equipa externa de especialistas, que verifica exatamente que tipo de certificações tem a empresa. Teremos as Econogy Talks sobre desenvolvimentos sustentáveis e visitas guiadas às empresas. Por vezes, as empresas têm apenas coleções-cápsula, por exemplo, mas é interessante apresentá-las à imprensa ou ao consumidor final e esse é o nosso objetivo. Enquanto empresa de organização de feiras, não podemos tornar a indústria têxtil mais sustentável, mas gostávamos de lhe dar a plataforma certa para comunicar sobre isso e apontar caminhos.

Qual é atualmente o papel das feiras, numa altura em que muito se fala sobre a sua menor relevância no negócio e alguns até vaticinam o seu fim?

A feira é sempre um espelho do mercado. Quando o mercado está com dificuldades, claro que a feira terá menos visitantes. Mas a questão é saber se é o número ou a qualidade dos visitantes que é mais relevante. No passado, tínhamos grandes armazéns enormes que vinham com uma delegação de compradores de 10 pessoas. Com a redução dos custos e a consolidação, continuamos a ter esses grandes armazéns em Frankfurt, mas com menos compradores. Contudo, o volume de encomendas e a capacidade de tomar decisões de compra está lá. Penso que a qualidade é mais importante do que a quantidade de visitantes.

2023 foi o fim do Covid. Em 2024, espero, teremos um mercado mais normal, o novo normal, talvez. Mas com o mercado internacional como está, com grandes problemas e desafios, é preciso fazer uma gestão cuidada e também encontrar novos mercados.

Recomendo sempre às empresas que pensem como podem começar as atividades de comunicação e de marketing para atrair as pessoas ao seu stand. Não é apenas a localização do stand, é também a comunicação antes, porque é preciso haver comunicação antes, durante e depois da feira. Nós ajudamos com muitas atividades de marketing, mas a minha recomendação é que haja uma forte comunicação do lado da empresa, que diga “estamos aqui, temos uma coleção nova e alguns produtos inovadores” e que os apresente aos potenciais clientes. Isso é muito importante.