Um novo século acaba de chegar e ainda não sabemos como será, daqui para frente, o mundo em que vivemos, a nossa vida, e principalmente, como serão os consumidores do século XXI. Um congresso sobre marketing directo e comércio electrónico, realizado em Madrid, tentou responder a tais questões. Conduzida por Sam Hill, especialista norte-americano, considerado um dos “guros” do marketing, e autor dos livros “Marketing Radical” e “60 tendências em 60 minutos”, a conferência foi precisamente intitulada como “Mais de 60 tendências em pouco mais de 60 minutos”. Segundo Sam Hill, «estamos constantemente expostos a milhares de tendências. Mas lê-las e segui-las não convertem uma pessoa num expert. Se alguém deseja começar um negócio, desenhar um novo produto, mudar de carreira, investir dinheiro, ou vender algo, necessita compreender verdadeiramente as tendências e as forças que estão por trás delas». O especialista separa claramente modas de tendências, mas quando se refere a estas últimas não as mistura com as mega-tendências que alguns propagam. «Eu falo de novidades “terra-a-terra”, de oportunidades concretas, e considero sempre que onde há uma tendência há um contra-tendência, e cabe ao consumidor escolher o que mais lhe convém no momento, lembrando-se que dos extremos não reza a história». Na conferência, Sam Hill fez uma antevisão do futuro, revelando as tendências que terão maior impacto durante a próxima década em marketing, gestão de marcas e desenvolvimento de produtos. Foi mais além de meras modas, para identificar os movimentos importantes e duradouros. Para isso, dividiu o futuro em três eixos distintos para tentar entender como funcionarão as coisas a partir de agora e discutiu o mundo, a vida e o consumidor de amanhã. A vida Acredita-se que uma das alterações fundamentais ocorrerá com as cidades. Já não falaremos em principais capitais, mas sim mega-cidades. Um facto curioso é que Londres não deve figurar na lista das 40 principais mega-cidades já a partir de 2025. O intercâmbio entre países deve aumentar significativamente. Estima-se que 48% da população não viverá nas suas cidades de origem, mas sairá pelo mundo em busca de melhores oportunidades. Algumas das mudanças neste primeiro eixo já podem ser notadas actualmente. A vontade de não envelhecer e o aumento descomedido das cirurgias plásticas, por exemplo. As intervenções estéticas deverão crescer 50% todos os anos. O desejo de ser jovem para sempre virá aliado a uma maior expectativa de vida, graças à redução da mortalidade infantil, das doenças infecciosas e do aumento da capacidade do corpo de se curar naturalmente, com a ajuda da boa higiene e da tecnologia, é claro. Por fim, teremos uma vida diária cada vez mais fragmentada, sem horários definidos para alimentação. Também fragmentaremos a religião: os deuses dividirão o seu espaço com a ciência, os desportos e a estética, as crenças dos novos tempos. O mundo No mundo, não haverá fronteiras geográficas. É a famosa e já tão popular globalização, que tende a expandir-se cada vez mais. Estaremos totalmente interligados. Isso significa comunicação, distribuição e transporte a baixos custos. No mundo totalmente globalizado prevalecerão as grandes empresas. Hoje apenas ouvimos falar em nanotecnologia, mas em questão de vinte anos ela será um negócio de milhões e milhões de euros. O desenvolvimento dessa técnica privilegiará principalmente a saúde. Em termos de mercado mundial, a inovação já é, e seguirá sendo, umfactor decisivo para colocar ou tirar alguém do mercado. Quem não souber desenvolvê-la será carta fora do baralho. O consumidor Os consumidores do futuro ainda parecem ser um enigma. Isso por que as linhas que separam as classes sociais são cada vez mais ténues. Já hoje em dia encontramos de tudo. Desde gente com muito dinheiro que faz compras em lojas populares, até pessoas consideradas pobres ao volante de carros de luxo graças ao crédito. Assim sendo, é impossível prever o comportamento dos compradores usando o sistema de segmentação tradicional, do tipo classes A, B, C, etc. Sabe-se apenas que a expectativa deles será muito mais rápida e crescente do que a capacidade de resposta das marcas. A conclusão da conferência já pode começar a ser aplicada: para oferecer um mercado melhor para os clientes do amanhã (e para os de hoje também), é preciso ser muito cuidadoso, fazer testes e aprender com eles, e principalmente, usar a criatividade.