Esta é uma má notícia para as marcas de luxo que se estabeleceram na China, mas não é de todo negativa: significa que os consumidores chineses estão a tornar-se compradores mais sofisticados. São agora mais capazes de ir além dos esforços de marketing para encontrarem produtos de melhor qualidade, sustenta a empresa de pesquisa do mercado de luxo Fortune Character Institute, com sede em Xangai.
«As marcas de luxo na China tornaram-se “luxo” sobretudo através do marketing, mas às vezes em lugares como os EUA, são apenas de mais uma marca, não é considerado luxo», explica o diretor do grupo de pesquisa de Zhou Ting, o autor do China Luxury Report 2015. «Os clientes chineses começam a ver isso. E estão à procura de produtos mais personalizados. Querem mais individualidade».
Os chineses foram responsáveis por 46% das compras mundiais de luxo este ano – um resultado que se mantém inalterado face a 2014 – assegurando a sua posição como os maiores consumidores de bens de luxo do mundo, referiu o relatório. Os consumidores americanos de bens de luxo figuram em segundo lugar, com 19% do total global.
Cerca de 78% das compras chinesas de bens de luxo ocorreram no exterior do território chinês, aumentando ligeiramente face ao resultado de 76% assinalado no decorrer do ano passado. As compras mundiais de luxo por consumidores chineses aumentaram 9% face ao ano anterior, fixando-se em 116,8 mil milhões de dólares (110,2 mil milhões de euros). Mas os seus gastos no exterior superam as compras agregadas, tendo aumentado mais de 12%, para 91 mil milhões de dólares, revelou o relatório.
«A principal razão costumava ser simplesmente o facto dos compradores chineses considerarem o preço praticado na China muito superior àquele praticado no exterior, mas agora os consumidores chineses percebem, cada vez mais, que podem ter acesso aos modelos mais recentes e a mais opções no exterior e podem também obter um melhor serviço no exterior», afirma Zhou.
O governo chinês tem procurado estimular o mercado doméstico. Reduziu para metade os direitos de importação aplicados aos fatos, vestuário e calçado em pele no início deste ano. Mas o sector enfrenta ainda a incerteza económica, a pressão da desvalorização do yuan, a repressão da corrupção e uma tendência crescente de turismo de saída. Os dados da Administração Estatal de Câmbio mostram que os turistas chineses no exterior gastaram 74,9 mil milhões de dólares no terceiro trimestre, um aumento de 61% face ao ano anterior e 27% em relação ao trimestre anterior.
Para os consumidores de luxo, fazer compras no exterior tornou-se uma opção mais económica, mais segura e agradável do que fazer compras em território doméstico. «Atualmente os chineses têm os seus próprios investimentos no exterior, as suas próprias casas e são educados no exterior», indica Zhou.
Existe ainda um prémio de 25% sobre as importações de luxo devido a taxas alfandegárias, apesar deste valor ser 60% inferior ao praticado há quatro anos. As marcas tradicionais de luxo enfrentam dificuldades. A Louis Vuitton encerrou três lojas na China este ano. Nos últimos dois anos, a Prada encerrou cerca de um terço das suas lojas na China e a Chanel encerrou cerca de metade, revela o relatório.
Paralelamente, apenas 4% dos consumidores que despendem quantias elevadas afirmam utilizar plataformas de e-commerce domésticas como principal canal para realização de compras online. Este resultado é diminuído pelos websites de retalho oficiais, que foram preferidos por 44% dos inquiridos. A presença de falsificações entre os retalhistas online continua a ser uma enorme preocupação.
No entanto, existe ainda espaço de crescimento para as marcas de luxo na China, especialmente aquelas com uma longa história e tecnologia exclusiva, afirma Zhou. Mas cada vez mais, estas marcas têm de produzir em nichos de luxo, serem capazes de personalizar os seus produtos e serviços para os clientes.
Os consumidores chineses estão ainda, e cada vez mais, a perceber que existem limites ao preço dos artigos de luxos que estão dispostos a pagar.