Apesar do conselho das entidades governamentais, que incentivou os parisienses a regressarem à sua rotina de compras no fim-de-semana, os centros comerciais, lojas e grandes armazéns da capital permaneceram a meio-gás, num período do ano habitualmente marcado por elevada afluência.
Simultaneamente, nos centros das cidades francesas, as lojas de vestuário testemunharam uma diminuição da afluência em loja de 20% a 30% desde os ataques de 13 de novembro, revelou Bernard Morvan, presidente da Federação Nacional de Vestuário. «Assinala-se um declínio em diversas cidades por toda a França, de norte a sul, de leste a oeste, de 20% a 30% de frequência nos centros das cidades», indicou Moryan.
De regresso a Paris, a gestão dos grandes armazéns Le Printemps revelou que a afluência caiu 30% face ao período anterior aos ataques, enquanto nas Galerias Lafayette a afluência terá diminuído 50%. «Está deserta», afirmou um assistente de loja no Le Printemps, localizado no centro da capital francesa.
Outro funcionário da loja, ligado ao departamento de moda masculina, revelou que, embora em menor número, os consumidores chineses continuam a visitar o espaço: «Os chineses não têm medo de nada», acrescentou.
Os seguranças encontram-se destacados nas entradas de acesso ao espaço, revistando os visitantes, que também têm sido controlados com detetores de metais nos últimos dois dias. A cena repete-se noutros grandes armazéns e complexos comerciais da cidade-luz.
Lisa White, responsável de Lifestyle e interiores da WGSN, residente em Paris, referiu que fazer compras num sábado de manhã na capital francesa «se assemelhava a um domingo, quando as lojas estão encerradas. A Rue de Rivoli, que normalmente está repleta de compradores, como Regent Street, estava deserta».
No entanto, no domingo, o mercado local de produtos alimentares encheu-se com a massa humana costumeira. «Os mercados foram encerrados na semana passada e pode dizer-se que, no que diz respeito à comida, a joie de vivre do parisiense continua intacta», acrescentou White.
A artéria da moda de luxo parisiense, a Avenue Montaigne, esteva, também, virtualmente abandonada, e um funcionário revelou que «as pessoas dizem que é indecente fazer compras depois de tais eventos».
A apatia comercial repete-se na vila anual de Natal, localizada num dos extremos dos Champs Elysées, onde vendedores e membros das forças de segurança superam o numero de visitantes. Inaugurado na sexta-feira, apenas algumas horas antes dos ataques terroristas, tem-se ressentido desde então. «Tivemos boas vendas nessa sexta-feira. Agora é catastrófico. Não conseguimos o suficiente para pagar a renda diário dos chalés», que ascende a 600 euros, revelou um dos vendedores. «Fica a impressão de que as pessoas não querem comprar coisas supérfluas», acrescentou.
Philippe Sauvat, um visitante do mercado de Natal, afirmou nunca ter visto os Campos Elísios tão vazios numa época natalícia. «No ano passado, tive de deslocar-me através das multidões, este ano não há ninguém», referiu.
Porém, Emilie Dumas advogou ser vital assumir uma postura corajosa: «Tenho um quiosque nas proximidades e nada me fará desistir. O Natal é uma das festas mais importantes e viver no medo não é a solução», afirmou em tom desafiador.
Cerca de 320 quilómetros a norte de Paris, Bruxelas mantém o seu lockdown, com o alerta máximo estendido a um terceiro dia, na sequência de diversas detenções relacionadas com o terrorismo. Numa manchete do diário belga L’Eco pode ler-se: “Bruxelas, Cidade Fantasma”.
O governo incentivou as lojas a encerrarem depois das autoridades terem invocado o alerta máximo de terrorismo, temendo uma réplica dos ataques perpetrados em Paris. «Este perigo é real», sublinhou Bernard Clerfayt, presidente do distrito de Schaerbeek.
No âmbito de uma conferência de imprensa, o primeiro-ministro Charles Michel revelou que os transportes públicos e zonas comerciais de Bruxelas estão em risco de ataque direcionado.
Na Rue Neuve, a principal artéria comercial do centro de Bruxelas, quase todas as lojas encerraram no sábado. Ao meio-dia, os seguranças retiraram os consumidores das poucas lojas que permaneceram abertas. «Eu sou o último dos moicanos», admitiu Giuseppe Alletto, o gerente da Shoe Discount, uma das últimas lojas a permanecer aberta. «O medo existe, mas não devemos ceder ao pânico», defendeu Alletto. O responsável retalhista afirmou estar a observar a situação de perto, mas disse pretender manter as portas da sua loja abertas. «Devemos permanecer positivos, também por razões económicas», salientou. Soldados foram mobilizados para o exterior de diversos hotéis e pontos turísticos por toda a capital blega, mas apesar da presença de militares nas ruas da cidade, a maioria das pessoas permaneceu calma. «A vida continua», afirmou um retalhista, acrescentando que considera as medidas de segurança excessivas.
No entanto, Alain Berlinblau, membro da associação de retalho da cidade, assegurou numa conferência de imprensa que «encerrar a um sábado é uma catástrofe para o nosso negócio».
No domingo, bares e cafés do centro de Bruxelas foram convidados a encerrar por motivos de segurança. A cidade suspendeu o serviço da rede de metro no sábado, que permaneceu encerrado até segunda-feira. Autocarros, elétricos e comboios continuaram a prestar serviço em Bruxelas, com as autoridades a intensificarem o controlo sobre os passageiros. Os procedimentos de segurança extraordinários foram também estendidos aos aeroportos belgas e estações de comboio. Fora de Bruxelas, o resto do país foi colocado em ameaça terrorista de Nível 3, que significa «uma possível e provável» ameaça.
Numerosos inquéritos aos consumidores e negócios a publicar durante a próxima semana deverão demonstrar que a confiança na economia da Zona do Euro se manteve praticamente estável em novembro, num momento anterior aos ataques terroristas, referem os analistas. De acordo com as projeções apontadas pelos economistas consultados pelo The Wall Street Journal, os indicadores de sentimento económico no bloco dos 19 países da União Europeia deverá manter-se praticamente inalterado em comparação com outubro.