«Quando éramos jovens, nunca mostrávamos a nossa roupa interior», afirma o designer Tommy Hilfiger. «Atualmente, se não mostramos a nossa roupa interior, simplesmente, não somos cool», explica.
Durante várias gerações, o homem americano usou boxers ou cuecas, comprados em packs de três unidades, despendendo pouco tempo e dinheiro nas camadas de roupa inferiores. O conceito desta categoria de vestuário estava inerente à sua própria designação: roupa íntima.
Isto acontecia, naturalmente, antes do aparecimento de Justin Bieber, antes do “sexting” e selfies artisticamente inspiradas, produzidas através do Snapchat. É anterior ao vídeo explicitamente erótico de Rafael Nadal, distribuído através dos smartphones e portáteis mundiais, que retrata um dos jogadores de ténis mais famosos do mundo a fazer um striptease, no âmbito da nova linha de roupa interior da Tommy Hilfiger.
Isto ocorreu, também, antes do aparecimento de uma tendência – muito provavelmente inaugurada pela Calvin Klein na pré-história de Marky Mark – que ganhou impulso considerável ao longo dos últimos 12 anos: disponibilizar roupas íntimas, denominadas de luxo, para o público masculino. «A roupa interior encontra-se onde a categoria de jeans se posicionava há 20 anos», considera Hilfiger. «É o novo denim».
Prova desta afirmação pode ser encontrada no The Expert Underwear, um site surpreendentemente abrangente dedicado a pesquisar, testar, analisar e, até mesmo, fazer a curadoria da venda de roupa interior, a partir das cerca de 600 marcas que integram este segmento. «As opções existentes fazem da roupa interior masculina uma categoria muito interessante», afirma Michael Kleinmann, fundador do site. «Já não se trata apenas de três embalagens do Walmart ou algo proveniente da última página de um catálogo», acrescenta.
Debatendo-se por uma posição no vazio do retalho de uma categoria que sofreu poucas alterações nas últimas décadas, destacam-se marcas de nicho como Sunspel, Handvaerk, Hanro, Tani, Zimmerli, Nu, Under e Les Lunes.
A gama de preços deste segmento é muito alargada, oscilando entre os 24,99 dólares (1 USD = 0,93 EUR), o valor a partir do qual a roupa interior masculina é considerada “premium”, e os 470 dólares, o valor de uns boxers de tecido da marca de artigos de luxo francesa Hermès, cujas características são descritas como algo mais adequado à indústria aeroespacial do que à indústria do vestuário.
As marcas recém-chegadas, como Mack Weldon e Eighth, propõem produtos bem concebidos, embora descontraídos, em plataformas online, para o homem-comum. As insígnias indie, como a Bear Skn, introduzida em 2014, com 56.000 dólares angariados no Kickstarter, oferece roupas íntimas de luxo, em tamanhos tão grandes quanto 4XL porque, como Jody Koenig, uma das fundadoras da marca, explica, «não existia nada para os homens de tamanhos grandes que os fizesse sentir sexy».
Alguns, como Marco Morante, o designer de Marco Marco, uma marca cujas apresentações, caracterizadas pela fluidez de género, surpreenderam na última Semana da Moda de Los Angeles, entrou na categoria quase acidentalmente depois de espectadores do reality show “Drag Race de RuPaul”, para o qual Morante fazia desenho de figurinos, apelaram ao lançamento da roupa interior que este concebeu para o programa. «Fizemos praticamente tudo o que podíamos fazer na moda feminina», afirmou Morante. «Os homens são uma tela em branco, porque estamos a trabalhar com conceitos que têm 50 anos ou mais», acrescentou.
Os avanços tecnológicos resultaram em roupa interior cujo projeto de conceção se assemelha mais a um projeto de engenharia do que a um de design, desenvolvida para respirar, desodorizar e ajustar-se à temperatura do corpo ou combater micróbios, através da inclusão de filamentos de prata antibacterianos.
O facto dos homens comprarem, cada vez mais, roupa interior para si próprios, ao invés de delegarem esta tarefa nas mulheres que os rodeiam, «mostra o ponto em que nos encontramos enquanto país», sustenta Kleinmann.
No mínimo, denota uma mudança na forma como os homens compram. «Os homens compram de forma diferente, muito mais como as mulheres», reconhece Marshal Cohen, analista de retalho do NPD Group, uma empresa de pesquisa de mercado nova-iorquina. «O mercado feminino não está a crescer no segmento de roupa íntima», acrescenta. O público feminino, por sua vez, representa atualmente a maioria das compras de artigos tecnológicos.
«No passado, 75% das compras de roupa interior eram efetuadas por mulheres que compravam para os homens», revela Cohen. «Atualmente, essa situação representa cerca de 25%. No passado, a decisão mais importante que um homem poderia tomar dividia-se entre estampados ou cores sólidas, boxers ou cuecas». A proliferação de novas marcas, afirma, tem estimulado as vendas num mercado avaliado em 2,7 mil milhões de dólares em 2014. «Os homens sentem-se atualmente muito confortáveis enquanto parte da equação da moda», sustenta Cohen. «Tudo o que usamos tornou-se uma parte da construção da imagem. Isso inclui sapatos, meias, calças e roupa interior», explica.
Quando o rapper e empresário Curtis Jackson III, talvez mais conhecido como 50 Cent, considerava formas de expandir o seu portefólio, que inclui investimentos em vodka, bebidas energéticas e uma participação acionista na Vitaminwater, focou a atenção no segmento de roupas interior de luxo.
Aliando-se à Frigo, uma marca de vestuário íntimo topo de gama criada por Mathias Ingvarsson, o empresário sueco que transformou a TempurPedic numa potência global, Jackson colaborou na conclusão de um acordo de licenciamento de 80 milhões de dólares para uma marca aparentemente posicionada no denominado mercado urbano. Entre os restantes investidores figuram Carmelo Anthony, dos New York Knicks, e o produtor musical Timothy Mosley, conhecido como Timbaland. «Isto está relacionado com o facto dos homens serem mais consciente de si próprios e sentirem que merecem mais», aponta Jackson, acrescentando que, até há pouco tempo, a sua roupa interior favorita eram cuecas básicas de cor branca.
Sentados no seu showroom, os designers Parke Lutter e Ronen Jehezkel aguardam a chegada de um grupo de jovens aspirantes, que irá realizar uma audição para um evento comemorativo da estreia da coleção de roupa interior de luxo Parke & Ronen. A dupla, que, a partir de 1997, construiu um nicho sólido numa categoria, em tempos instável e atualmente em expansão, a roupa de banho masculina, superou a sua hesitação inicial face à entrada num campo dominado por designers como Tommy Hilfiger, revela Lutter. «Enquadrava-se, era confecionado com materiais de boa qualidade, limpo e atlético, mas sexy», acrescenta.
O que os persuadiu foi o coro retumbante de amigos que se referiam às apresentações francamente sensuais da dupla de designers como o «desfile da Victoria Secret para homens», a par do reconhecimento da mudança geracional operada na sua base de clientes – como testemunhado pelos jovens modelos no exterior do showroom.
Mais de duas décadas depois do termo “metrosexual” ter sido cunhado como a definição de uma nova geração de consumidores, os homens têm vindo a aceitar o seu papel no centro das atenções alheias. «Os media sociais expõem-nos», afirma Seth Wilkerson, um modelo de 24 anos que estava na audição de Parke & Ronen, e os designers prontamente validam esta afirmação.