Cerca de 90% das exportações jordanas têm como destino os Estados Unidos da América, segundo a Associação de Exportações de Vestuário, Acessórios e Têxteis da Jordânia (Jgate), impulsionadas pelo acordo de livre comércio existente entre ambas as nações, que entrou em vigor em 2001 e permite que artigos de vestuário de produção jordana acedam ao mercado da América do Norte – incluindo o Canadá a partir de 2012 – com o benefício de isenção tarifária.
O sector expandiu-se rapidamente, com as exportações jordanas a aumentarem de 500 milhões de dólares (1 USD = 0,94 EUR), em 2007, para aos atuais 1,34 mil milhões de dólares, de acordo com a JGATE e dados governamentais, prevendo-se um crescimento de 10% para o corrente ano.
«Temos cerca de 85 a 100 empresas. A maioria é de propriedade estrangeira, principalmente de origem indiana, bem como paquistanesa, turca e de Hong Kong», revela a presidente, Dina Khayyat. «Estas empresas entraram no mercado devido ao acordo de livre-comércio com os EUA. Como o custo de produção na Jordânia não é muito competitivo em comparação com, por exemplo, o Vietname ou o Bangladesh, a maioria entrou no segmento de artigos aos quais estão associados direitos aduaneiros elevados, como fibras sintéticas e vestuário desportivo, que apresentam uma procura elevada», acrescenta. Entre os principais compradores do sector de retalho figuram grandes armazéns americanos como Target, J.C. Penney, Kmart e Walmart, a par das marcas Sara Lee, Calvin Klein, Hanes, Banana Republic, Gap, Levi Strauss, Under Armour e Nike.
Embora a indústria de vestuário do país empregue cerca de 56.000 pessoas, apenas 30% são jordanos, enquanto os restantes são trabalhadores migrantes, provenientes, principalmente, do sul da Ásia, segundo dados do Jgate. Tendo em vista o reforço do emprego local, o governo introduziu um esquema que pretende auxiliar os fabricantes a estabelecerem linhas de produção menores em áreas rurais, disponibilizando infraestruturas com arrendamento gratuito durante cinco anos. «Estas unidades satélites deverão aumentar o emprego na Jordânia, bem como realocar as linhas de produção para áreas com elevados índices de desemprego», acredita Khayyat.
Boas condições laborais
O sector tem investido na melhoria das condições de trabalho através da Better Work Jordan, uma iniciativa que integra o programa global Better Work, colaborando simultaneamente com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Corporação Financeira Internacional (IFC) do Banco Mundial. Esta iniciativa tem cooperado com 65 fábricas jordanas, incluindo fabricantes de vestuário.
Após as tragédias ocorridas no Bangladesh nos anos recentes, «os compradores estão preocupados com as condições laborais, com a melhoria da formação e questões como a segurança contra incêndios», aponta a presidente da Jgate.
Um acordo coletivo foi recentemente estabelecido e formalizado entre esta associação, o governo, proprietários de fábricas e líderes sindicais. «Todos os trabalhadores devem usar um contrato unificado, de forma a saberem o que esperar da Jordânia, e está traduzido em quatro línguas. Isto foi feito duas vezes ao longo dos últimos quatro anos, tendo-se revelado eficiente para proprietários e trabalhadores, reduzindo o número de greves», acrescenta Dina Khayyat.
O salário mínimo mensal é de 110 dinares jordanos (1 JOD = 1,32 EUR) euros para os trabalhadores do sector do vestuário, mas os fabricantes ressentem-se do aumento dos preços das commodities. «A mão-de-obra representa cerca de 45% dos nossos custos. Nós assumimos a alimentação e alojamento dos trabalhadores migrantes, e estes estão a aumentar os custos de atividade», revela Sanal Kumar, presidente e CEO da Classic Fashion Apparel industry Ltd Co, que exportou 300 milhões de dólares em vestuário para os EUA no ano passado. A fábrica de vestuário emprega 15.000 pessoas e registou um aumento de 20% da produção este ano, face a 2014.
Apesar do sucesso assinalado no mercado americano e dos custos relativamente baixos da Jordânia, a indústria de vestuário do país não tem sido capaz de explorar eficazmente o mercado europeu, geograficamente mais próximo. «Mesmo que a Jordânia tivesse um acordo de isenção de direitos alfandegários com a União Europeia, os custos laborais são muito elevados. De forma alguma conseguiremos alcançar ou superar os preços praticados pelo Bangladesh. Mas com o mercado de vestuário americano avaliado em 130 mil milhões de dólares e a Jordânia a exportar cerca de 1,5 mil milhões, representando apenas 1%, existe um enorme potencial de negócio para as fábricas jordanas nos EUA», afirma Kumar.
Custos em escalada
No entanto, apesar do crescimento operado no sector, a Jordânia apresenta um dos problemas de escassez de água mais acentuados a nível mundial e os fabricantes poderão, em breve, ser obrigados a mudar as suas linhas de produção, como por exemplo, evitando o fabrico de artigos em denim. «Algumas fábricas que confecionam jeans poderão ter que dispensar essa linha, em resultado das queixas apresentadas face à escassez de água e aumento dos custos», refere a presidente da Jgate.
O sector procura incorporar valor acrescentado na sua linha de fabricação, mas carece de matérias-primas locais, sendo forçado a importar todos os materiais necessários à produção. «Não dispomos de integração vertical em qualquer um dos artigos, com a maioria das fábricas a importar o tecido e os acessórios. Procuramos desenvolver artigos de suporte, como os materiais de embalamento e sacos de polietileno, mas estamos limitados a isso», explica Dina Khayyat. Não existem fiações ou tecelagens devido à escassez de água.
Com o único porto do país, Aqaba, localizado no sul, em remodelação e sob forte pressão devido ao elevado tráfego resultante do encerramento das fronteiras com o Iraque e a Síria, os exportadores tiveram de recorrer a outros portos, com destaque para Haifa, em Israel.
A produção para o mercado local de 6,4 milhões de pessoas é limitada e não está incluída na Jgate ou resultados governamentais. E, embora as fábricas menores tenham capacidade e produzam, efetivamente, para os mercados de países vizinhos e locais, «foram afetadas, mais do que os outros fabricantes, pela crise síria» e resultante pressão sobre a logística», acrescenta Khayyat.