1D-Neon vê televisão nos fios

O projeto europeu 1D-Neon, que conta com o know-how dos investigadores do CeNTI e o envolvimento das gigantes Philips e LG, está a estudar a incorporação de dispositivos eletrónicos em fios têxteis, abrindo as portas a que o ecrã de televisão do futuro seja tecido ou tricotado.

João Gomes e Nelson Durães

A incorporação de eletrónica em têxteis já não é uma novidade absoluta, mas trabalhar essa integração no próprio fio faz do projeto europeu 1D-Neon revolucionário.

«O que se faz atualmente é a integração dos próprios dispositivos no têxtil. Ou seja, temos um LED já previamente feito e vamos pegar nele e cravá-lo no próprio têxtil. O que se está aqui a tentar fazer é que o próprio LED seja a fibra. Depois vamos pegar nessa fibra e fazer processos de tecelagem e tricotagem e o nosso dispositivo vai ser o têxtil em si e não o têxtil com os dispositivos acoplados sobre ele», resumiu, ao Jornal Têxtil, Nélson Durães, chefe da equipa de fibras e polímeros do CeNTI, num artigo publicado na edição de outubro.

Apesar da aparente simplicidade da explicação, o processo para chegar a esse resultado é tudo menos fácil.

O projeto, um dos muitos em que o CeNTI está envolvido (ver Inovação “made in” CeNTI), é financiado por fundos europeus, no valor de 9,1 milhões de euros, e desenvolvido por 14 parceiros internacionais – incluindo as gigantes da eletrónica Philips e LG –, implicando o desenvolvimento de cinco dispositivos eletrónicos em forma de fio.

«Vamos supor que se quer fazer um televisor, neste caso um TFT, que é o que se pretende aqui, mas na forma de uma cortina. O ecrã é um têxtil. Para o ecrã precisamos de um transístor, de elétrodos, de LED’s, de sensores e de energia. Portanto, vamos fazer estes cinco dispositivos na forma de um fio e depois vamos pegar nesses cinco fios e tentar juntá-los todos numa estrutura têxtil», explicou o investigador ao Jornal Têxtil.

No caso do elétrodo, está a ser desenvolvido um elétrodo estirável, polimérico – ao contrário do que é habitualmente usado, de base metálica –, flexível e com baixa resistência elétrica, que terá como função transportar energia e fazer as conexões elétricas entre os diferentes dispositivos.

Um trabalho de equipa

«A seguir temos um transístor – são desenvolvimentos que estão a ser feitos pela Universidade Nova de Lisboa. O que existe atualmente nesta área é à escala planar, ou seja, estamos a falar de desenvolvimentos na forma de filmes e folhas. O que se está a tentar fazer é transpor esses desenvolvimentos dessa escala para a escala coaxial, ou seja, vamos tentar desenvolver filamentos que sejam transístores», revelou Nélson Durães.

Os LED’S estão a ser trabalhados pela Philips e pela Henkel, de forma a serem miniaturizados para a escala nano e transformados em fibra e o armazenamento da energia em supercondensadores está nas mãos do CeNTI.

«São na prática baterias, mas acumulam menos energia e são mais rápidas a libertar energia num momento só», explicou o diretor de operações do CeNTI, João Gomes. «O que nós vamos fazer é a estrutura interna da fibra, vamos providenciar a estrutura condutora – na prática isto é uma estrutura que tem uma fibra central e as outras crescem à volta, como concêntricas. Nós vamos tratar da fibra que está no meio», desvendou. O CeNTI irá ainda desenvolver os fios condutores, com a estrutura a ficar nas mãos de outros parceiros.

Múltiplas aplicações

Embora o ecrã de televisão seja a aplicação mais imediata do projeto, que tem a duração de quatro anos, até 31 de março de 2020, a investigação pode levar os resultados para outras áreas. «Temos as cinco funcionalidades que é necessário dar ao têxtil final, mas pode ser um televisor como pode ser outro dispositivo qualquer. Ou até pegar em cada um destes dispositivos e acoplá-los para diferentes funcionalidades», apontou Nélson Durães. «Fazer estruturas têxteis que, de facto, sejam ecrãs ou que gerem energia através de vibração dos sensores ou que possam até trabalhar em termos de estruturas flexíveis para sensores táteis», acrescentou João Gomes.

Se forem bem sucedidos, como acreditam, os resultados podem revolucionar a forma como os ecrãs serão produzidos no futuro. «Quando olharmos para estes dispositivos finais e conseguirmos pensar que é possível obter um têxtil com estas características, como é o caso deste cortinado, em que é possível ter imagem, luz e as mesmas características de um cortinado têxtil convencional, se conseguirmos unir estes dois mundos, será uma coisa enorme a nível de impacto comercial», concluiu Nélson Durães.